CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

Falar sobre o Rio de Janeiro enfocando o prisma do ineditismo é muito difícil, porque esse tema já foi abordado em centenas de produções, tanto na literatura, em filmes em palestras, quanto em vozes e pautas musicais.

Para se escrever sobre uma cidade tão embelezada por terra, céu, mar e montanhas me sugeriram relembrar momentos especiais, narrando fatos singulares de nossas próprias vidas. E muitos assim já o fizeram.

A cidade tem uma espécie de invisível imã que atrai as pessoas. E não é só a cidade, é igualmente o povo, sendo este o atrativo mais forte.

Conheci o Rio quando era a capital do Brasil. Eu contava 14 anos; exatamente a época em que tudo comigo acontecia pela primeira vez.

Utilizei as primeiras férias como funcionário do então City Bank, quando era “office-boy”; fiz estreia nos ares quando voei num Douglas DC-3 da Aerovias Brasil e conheci o primeiro aeroporto comercial: o Santos Dumont.

Conheci a primeira hospedaria de luxo: o Grande Hotel OK, na Rua Senador Dantas. Naveguei pela primeira vez na Barca da Cantareira, durante um passeio que fiz a Niterói.

Apresentei-me como ator no Teatro Regina, durante a primeira excursão que fiz com o Teatro de Amadores de Pernambuco.

E como tantos visitantes que naquela cidade aportavam, fui conhecendo o Pão de Açúcar, o Cristo do Corcovado, as barcas de Niterói, a Vista Chinesa e o Palácio Monroe. Encantei-me com as pequenas lojas da Rua da Quitanda.

De volta, papai solicitou minhas impressões sobre a Capital do Brasil e ficamos horas conversando:

– Uma cidade enorme, meu pai! Muitos carros pelas ruas e outros tantos ficam guardados nos prédios porque não há vagas para todos. Muita gente possui telefones. Há muitas mulheres desquitadas e outras recasadas.

Há ônibus interbairros; as pessoas vão ao comércio e aos Bancos de short e chinelos, ou seja, sem roupas formais. Encantei-me com as notáveis lojas-de-departamentos: Sears, Americanas e a Mesbla.

E como tudo havia sido alumbramento a “Cidade Maravilhosa” permaneceria por muito tempo em meus pensamentos, como se ali eu tivesse nascido.

Na escola, na volta, o Prof. Miguel Jasseli me encabulou quando me fez proferir comentários para os alunos, sobre as maravilhas que vi durante a viagem. Foi minha primeira conferência.

Adotar o Rio de Janeiro para sempre, portanto, não foi difícil porque muitos parentes meus já haviam se estabelecido naquele lugar e nos anos que se seguiram, voltei muitas vezes.

A principal característica do Rio, naqueles anos, era a maneira das pessoas acolherem os visitantes. Isto foi o mais encantador. Ao correr dos anos senti que permanecendo fascinando, adotei a cidade como aquela que eu amava tanto quanto o meu bucólico Recife.

Decorridos mais de 70 anos desse alumbramento o Rio não perde para ninguém e continua a ser: “A cidade dos meus encantos”.

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