MAURÍCIO ASSUERO - PARE, OLHE E ESCUTE

Uma das coisas que falei sobre a volta de Lula ao poder foi o sentimento de vingança que ele iria exercer quando tivesse com o poder na mão e com os asseclas à disposição. Já eleito ele disse: “Não vou me vingar, mas não me peçam para esquecer”. Esquecer, certamente, não é o caso, mas quanto à vingança, os atos praticados desde nestes primeiros dias de governo indicam que não teremos paz e harmonia neste Brasil varonil.

Tenho dito, diversas vezes, que empresários como o “Veio da Havan” passariam a ser alvo fácil desse governo. Não será surpresa para mim se a Havan começar a ser visitada por fiscais da receita, do ministério do trabalho, etc. em busca do mínimo erro – repare bem: não precisa ser fraude, basta ser um erro – para que multas e mais multas sejam aplicadas. Salvo engano, a Havan empregou venezuelanos que fugiram do país e se abrigaram aqui na operação “Acolhimento”. Basta um desses não ter sua documentação legalizada com visto de trabalho para a Havan ser condenada. Francamente, no lugar desses empresários que apoiaram Bolsonaro, o caminho mais sensato é o aeroporto. Fecha tudo, paga indenização a todo mundo e pega o beco. Deixa o onipotente presidente empregar tudo mundo ou colocar todo mundo no “bolsa família”.

A vingança de Lula não virá da ação direta de suas mãos. Lula vai encomendar como se faz quando se contratam pistoleiros para eliminar adversários. A vingança não virá da ação direta dele, mas do apoio legal que ele terá para prender, investigar, mapear todos que em algum momento se colocaram contra sua pessoa ou de alguém de sua família. Vejam o caso da prisão do Anderson Torres. O cara estava fora do Brasil. Tinha um secretário em exercício e foi expedida uma ordem de prisão contra ele. Com base em qual preceito jurídico? Não importa. O que importa é que vamos colocar em polvorosa os seguidores, a partir da prisão das pessoas no entorno de Bolsonaro.

O lado negro da força está se revelando de uma forma sútil e absurda: qualquer pessoa que teça algum comentário a favor das manifestações, entendidas e divulgadas como atos antidemocráticos, é exonerada quando funcionário público e é nesse ponto que eu vejo o conflito do discurso vazio. Todo mundo diz que a importância do funcionário público é que ele pode denunciar sem correr o risco de demissão, mas eu estou vendo funcionários públicos sendo exonerados por participar dos atos “antidemocráticos”. Eu estou vendo parlamentares com a imunidade parlamentar jogada no lixo, estou vendo jornalistas, comentaristas políticos com suas redes sociais suspensas porque se colocaram contra as decisões judiciais das nossas cortes.

O mais irônico é que a volta de Lula será o “resgate da democracia”, seja lá o que porra isso signifique. Na sua megalomania onipotente, Lula falou sobre a guerra entre Ucrânia e Rússia dizendo que colocaria num bar os dois presidentes e depois de umas seis cervejas a guerra acabava. O cara está demonstrando ser incapaz de harmonizar o país porque seu pensamento está voltado para perseguir e não para governar a nação – que inclui aliados ou não.

Um congresso amoral, incapaz e colocado de joelhos perante decisões judiciais que vê, sem um mínimo movimento de protesto, o judiciário governar, ditar leis, invadir as prerrogativas dos outros poderes. Eu sinto vergonha disso tudo, mas não deixo de reconhecer que o maior culpado é o eleitor que vota em canalhas, em corruptos. Forma-se um congresso com deputados dos quais 2/3 possuem processos por improbidade administrativa. Qual a força que essa gente tem para se impor perante uma decisão, mesmo monocrática, do STF? Nenhuma. Proteste que seu processo anda. Um país que elege Renan Calheiros não é digno de porra nenhuma.

A sensação que tenho é que estamos sentados num barril de pólvora. Para mim, Lula continuará afastado do povo porque onde ele for será sempre chamado de ladrão. Contato apenas com plateias simpáticas, escolhidas a dedo como claque de auditório pronta para aplaudir qualquer comentário. Em fevereiro nós temos o início de uma nova legislatura. Temos uma disputa para a presidência das casas e gostaria de ver outro nome mais digno do que o de Rodrigo Pacheco na presidência. Precisamos de alguém que cumpra a constituição. Que seja capaz de pautar o impeachment de ministros do STF que há muito merecem isso, pelo desrespeito que causam ao país e a constituição. Não falo isso por revanchismo, mas os ministros violaram em diversos momentos, a constituição.

Os dias serão difíceis, mas talvez a implosão seja uma eventual prisão de Bolsonaro. Se foram capazes de prender Anderson Torres que estava licenciado do cargo, talvez imaginem que estender este ato a Bolsonaro seja fácil. Ele chamou Lula de ex-presidiário, então mesmo que não haja tipificação de crime, prendê-lo seria dar a Lula o gostinho de devolver a agressão. O Brasil não tem mais um sistema presidencialista. Tem um sistema de governo, revanchista.

8 pensou em “REVANCHISMO, SIM!

  1. Como de hábito, excelente arrazoado. O Professor sempre dá uma lição, com a extrema facilidade que tem para colocar em palavras o pensamento de quem se sente indignado mas é incapaz de fazê-lo.
    Ele é outro, senhor Luiz Berto, que haveremos de encontrar nas masmorras dessa ditadura em que o Brasil se tornou…

  2. Caríssimo Assuero:
    Encareço-lhe uma orientação:
    Devo sair de mansinho do JBF?
    Outro dia, um dos comentaristas me chamou de FELA DA PUTA.
    Eu tive uma mãe, hoje na Eternidade, que sempre foi extremamente cuidadosa, embora brabíssima.
    Mas que nunca se descuidou das suas responsabilidades domésticas, inclusive ficando ao meu lado quando permaneci quatro meses em cima de uma cama, em casa, por causa de um atropelamento.
    Tenho pelo Berto uma admiração grande, daí o pedido de orientação que lhe faço. Não desejo incomodá-lo com meus pitacos pessoais.
    Um abração fraternal,
    Fernando Gonçalves

    • Meu caro Fernando, não acho que você deva sair nem de mansinho nem intempestivamante. A gente escreve e se expõe e muitos adjetivos surgem nos comentários. É o risco que se corre por expressar o pensamento e no Brasil de hoje isso tem se tornado um perigo iminente porque muitos estão sendo bloqueados nas redes sociais porque discordam do governo eleito, do processo eleitoral, etc. como se estas pessoas não tivessem esse direito. Você pode duvidar de Jesus Cristo, mas nunca da lisura do processo eleitoral.
      Acho que você tem seu público e é natural que as pessoas discordem de suas palavras. Mas, não vejo razões para você abandonar a tribuna. Você tem uma capacidade de sintetizar casos oriundos da vasta leitura que você tem acesso. Você comenta livros bons, com temas relevantes, fala de espiritualidade, enfim, para mim você deveria permanecer com seus escritos.
      Algumas vezes discordo de você, mas acho isso natural. Na minha forma de discordância eu procuro evitar palavras agressivas porque devemos debater a ideia e não bater em quem teve a ideia. Democracia é assim. Continue na raia.
      Abraços

  3. Obrigadíssimo, caríssimo Assuero. Sua reflexão consolidou minha querência em continuar fubanicamente colaborando. Abração fraterno de muita admiração pessoal.

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