ROQUE NUNES – AI, QUE PREGUIÇA!

Semana retrasada um colega meu do grupo de pesquisa ficou escandalizado comigo porque disse a ele que era conservador na política e liberal na economia. Falei que seguia os fundamentos de Mises e Von Hayeck, da Escola de Viena, admirava o liberalismo de Milton Friedman e tinha como ícones de liderança o ex-presidente norte-americano Ronald Reagan e a ex-primeira-ministra britânica Margareth Tatcher. Isso para um caeté que está tentando deixar de ser “sardinhívoro”, no terceiro mundo é uma heresia digna de fogueira inquisitorial, mas mantida com gravetos.

Em torno da discussão que tive com aquele colega ele criou uma frase que eu considerei esdrúxula: “Não te respeito, mas não vou te desrespeitar!” Frase agirafada! O não respeitar já implica em uma falta de respeito. E, digo isso, em um grupo de pós-graduação universitário que, penso eu, deveria ser plural, universal, tolerante e defensor da liberdade plena.

Mas deixo isso para lá, o que gostaria de debater com vosmecês foi uma provocação que ele me fez quando me pediu para falar do sistema educacional finlandês e brasileiro. Ele me argumentou que, tal qual o finlandês, o sistema brasileiro de educação é público. Aí foi que me deparei bodejando sobre o Brasil e as instituições ditas “públicas”. E, digo isso porque eu tenho uma visão diferenciada sobre o que é público e o que é estatal no país.

Diferentemente do sistema finlandês, ao qual tive o prazer de conhecer “in loco”, quando no Brasil não se falava sobre outra coisa, sobre sistema de educação funcional, de qualidade. Que mostra resultado e é público. Só que, quando trouxemos os resultados para análise, foi como um balde de água fria nos entusiastas da educação finlandesa. Percebi, naquela época que os nossos governantes e gestores em educação, queriam adotar o sistema finlandês, mas rejeitando os compromissos que aquela sociedade estabeleceu para se chegar aonde chegou. Em outras palavras, queríamos, como bons caetés, os resultados finlandeses, misturado com a nossa vocação de Macunaíma, que é nossa marca registrada.

Então me veio a reflexão: temos mesmo instituições públicas no Brasil? E, por mais que seja chato falar, a resposta é um sonoro Não. Não temos instituições públicas. Temos instituições estatais. E aqui, é necessário fazer conceitos sobre ser estatal e ser público. Uma instituição pública é aquela que é mantida, dirigida, organizada, estruturada e direcionada para atender os interesses da sociedade. Veja, eu falo sociedade e não guildas que se arvoram como “sociedade civil”. Aliás, esse conceito hegeliano deturpou-se a ponto de que sindicatos arvorarem-se como sociedade civil. E olha, sindicato inclui aí a OAB – alguns poderão dizer que não, mas ela é sim, um sindicato. Mais organizado que outros, mas não deixa de ser um sindicato.

Por sua vez, instituições estatais são aquelas que são controladas, dirigidas, organizadas e estruturadas pelo Estado, cabendo à sociedade comparecer, apenas quando tiver que pagar pela existência dessa estrutura. Feita essa diferença é preciso retornar à questão inicial deste texto: afinal, nós temos instituições públicas, ou estatais em nosso Brasil?

Vejamos o caso das nossas universidades “públicas”. São, de fato, públicas? Das que conheço nunca vi a sociedade decidir sobre matriz curricular, grade de formação, foco no interesse dessa sociedade, produção de riqueza para essa sociedade, contratação e demissão de professores e funcionários, reconhecimento e premiação por mérito e produtividade. Ela é mantida com o dinheiro da sociedade, mas nos seus processos decisórios apenas as guildas dentro dela e o poder estatal é que definem como ela deve agir, a que ponto deve ir, onde e como executar o seu orçamento. Fosse de outra forma, trabalhos que levam títulos como este “Análise em sobre como dar o cu sem sentir dor na comunidade queer”. Não! Não é brincadeira minha. Esse título foi o trabalho de dissertação de mestrado de um estudante da UFRJ em 2019, nunca sequer seria conjecturado por gastar o dinheiro da sociedade em algo tão estapafúrdio.

E, há outros trabalhos em nível de mestrado e doutorado que enveredam por esse caminho e daí vai mais adiante. No campus universitário onde estudo, há um grupo que estuda O Capital, de Marx e seus reflexos na sociedade atual. Participei de uma reunião desse grupo. Reunião chata, com um cheiro de queijo rocquefort no ar, já que a maioria dos participantes lá acha que vai revolucionar o mundo com pituim e camisa sebenta, e vi que, durante duas horas debateu-se sobre o tema “mais-valia” e “proletariado”, isso em pleno século XXI onde proletariado é um conceito que nem existe mais, e mais-valia é uma fantasia econômica que não se sustenta na sociedade real.

E vamos para nossas escolas ditas “públicas”, que não são públicas. Também são estatais. Aqui no glorioso Mato Grosso do Sul, apesar do Brasil estar em último lugar em Linguagem e penúltimo em Cálculo, em vez de se investir nisso, que é o que a sociedade está pedindo, criou-se absurdos como as disciplinas Empreendedorismo, Projeto de Vida e Caminho Formativo. Se você perguntar aos dirigentes da educação qual é a matriz curricular e o percurso formativo ouvirá: isso o professor vai construir junto com o aluno em sala de aula.

Nossas escolas também não são públicas. A função do público, nesse caso, é só ser chamado para bancar os custos dessa escola e receber um produto de péssima qualidade. Não são escolas públicas. São escolas estatais, já que o público não interfere nos caminhos dessa escola, e aqui, no Mato Grosso do Sul teve que engolir essa excrescência criada pelos gestores da educação. Aliás, eu sempre digo que a educação brasileira está essa merda porque, desde a dita redemocratização, ela foi entregue nas mãos de professores.

Vejam só! O período em que a educação brasileira mais evoluiu foi quando um coronel do Exército chamado Jarbas Gonçalves Passarinho foi titular da pasta da Educação. E, no Mato Grosso do Sul o melhor período da educação foi quando um juiz de Direito aposentado, o doutor Aleixo Paraguassú Neto, foi secretário de educação. Depois deles, a educação ficou nas mãos de professores, e aí foi ladeira abaixo.

Eu falo isso não porque tenha ojeriza a educador. Eu também sou. Há trinta anos milito no serviço de educar. E, como professor, sei que nosso foco é outro. Militamos, infelizmente com o coração, quando deveríamos militar com a razão. O professor não é preparado para administrar, mas para dar aula. São poucos os que conseguem estabelecer metas factíveis e delegar funções para que elas sejam alcançadas. O professor é de outra estirpe, ele procura fazer algo com impacto visual, mas pouco resultado pragmático, ou mesmo palpável, por isso sou contra o professor administrar a educação.

Quando se vai analisar as ditas empresas estatais, aí sim, a sociedade só é chamada para pagar as “cagadas” que o dito agente público faz sobre ela. Imaginemos se o sistema Telebrás ainda estivesse em pé? Certamente não teríamos o zap zap, o twitter, facebugre, entre outros, porque a telefonia seria tão cara que só rico pagaria por ele. E a ingerência nas ditas empresas “públicas” vai por aí. Ela só se torna pública quando temos que pagar pelos prejuízos que elas dão. Caso contrário ela pertence aos seus funcionários, diretores e partidos políticos que indicam sua diretoria.

Então, meus caros curumins, quando alguém disser a você que se trata de um órgão dizendo ser este público, pense duas vezes. Há uma grande diferença entre ser público e ser estatal. Se você analisar sem paixão verá que não existe órgão público no Brasil. A partir do momento em que à sociedade é não permitido interferir, ou dirigir esse órgão, mas somente pagar por ele, você estará tratando de um organismo estatal. Organismo esse que fará tudo para não mudar o “seu status quo”. E te convidará, todo mês, a pagar pelo “privilégio” de ter um órgão sobre o qual você não tem controle nenhum.

6 pensou em “PÚBLICO, OU ESTATAL?

  1. Só no Mato Grosso do Sul ?????????????????????? . Toma um tereré e te acalmes .São Paulo também vive neste buraco , e bota buraco nisso ! Agora vou até a região da Santa Efigênia aqui em Sampa comprar peças de eletrônica. Ela é famosa por ter muita mulher estatal.

  2. Mas que raio de “respeito desrespeitoso” é esse? Não respeita como? Como cidadão, com ser humano, como defensor de determinadas posições? Que falta de roça para capinar!

    • Não me pergunte, porque ainda também estou tentando entender esse “não respeitar, mas não desrespeitando”. Como você mesmo disse, isso é falta de roça para capinar!

  3. De uma forma ou de outra, foi no período que teve como ápice a administração do Coronel Jarbas Passarinho, que muitas das chamadas universidades públicas, praticamente emergentes, ou por terem sido criadas recentemente ou por terem sido, também recentemente, admitidas no sistema federal, tiveram sua consolidação, tiveram sua consolidação, como bem se pode ver, embora os atuais luminares que delas de apossaram deliberadamente escondam.
    Basta ver, por exemplo, a situação da Paraíba, onde um professor integrante do grupo fundador da Faculdade de Medicina e médico de prestígio social e profissional consolidado na cidade, Guilardo Martins Alves, assumiu a reitoria da entidade e lhe deu todas as condições fundamentais para funcionar como verdadeira instituição de ensino superior, dando-lhe um “campus”, até então uma tênue pretensão, onde começou a acolher as diversas unidades, quase sem teto, notadamente nas áreas de medicina e engenharia, as primeiras aquinhoadas com sede, laboratórios e hospital-escola.
    Infelizmente, esse Reitor, hoje execrado pelos luminares que imaginam poder ensinar música, pintura e outros mais pela Internet, teve o pecado de ser Capitão Médico do Exército Brasileiro, função da qual se aposentou, para melhor se dedicar à nova missão, cumprida com eficiência e brilho, que até hoje rende frutos.

    • Então, meu caro Arael… como disse, a educação brasileira é uma porcaria porque acredita-se que professor sabe administrar melhor que administradores de verdade.

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