JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

Foi com essa moeda que alimentei meu porquinho pela primeira vez

Nunca soube que existisse neste planeta Terra, alguém mais ingênuo e inocente que uma criança – e, um idoso, não é uma criança “ao contrário”, pois já enfrentou e sabe muitas coisas.

Lembro bem que, certa vez, “chutando latas” (forma antiga que a gente dizia de quem não fazia nada, quando andava pelas ruas) pelo bairro onde conheci adolescência e juventude, encontrei ao lado do meio-fio uma moeda. Não lembro com certeza o ano que isso aconteceu, e, assim, também não lembro qual valor aquela moeda teria na moeda atual.

Como tinha o hábito de ler a revistinha do Pato Donald, aprendendo as travessuras de Zezinho, Huguinho e Luisinho – que nunca procurei saber de quem eram filhos, para serem “sobrinhos” do Donald – sabia da arengas do Pato Donald e de Huguinho, Luisinho e Zezinho com o Tio Patinhas.

Sabia, também por ler as histórias, que Tio Patinhas tinha a sua “moeda da sorte”, princípio de qualquer poupança que certamente levaria à riqueza extrema. Nunca li história dizendo que Tio Patinhas ficou pobre.

E foi na “moeda da sorte” do Tio Patinhas, que me inspirei para começar uma longa e demorada “poupança” – que era sempre interrompida aos domingos, para comprar o ingresso para a sessão de cinema e para comprar as revistas em quadrinhos novas.

Moeda antiga fascinava até os “colecionadores”

Por muito tempo, mesmo tendo que acordar cedo para ir à escola, só conseguia dormir após a chegada do meu Pai. Com ele, vinha também uma moeda diária de qualquer valor – o importante era depositar no cofrinho. Um porquinho de cerâmica comprado no Mercado Central de Fortaleza.

Quando algum valor precisava ser completado para garantir a compra da revistinha, não era tão difícil tirar moedas do cofrinho, sem quebra-lo.

Uma faca era colocada na ranhura, e por ali caíam quantas moedas fossem necessárias para somar o valor desejado – na realidade, o custo da revistinha.

Eis que, certa vez, no dia 30 de abril (data do meu natalício!) ganhei tantas moedas de presente dos tios e tias, avós e amigos dos pais, que consegui encher o porquinho.

Quebrei o porquinho. Eram muitas moedas. Menor de idade, minha mãe não permitiu que eu fizesse o uso que quisesse, do “meu dinheiro”. Ela se encarregou de me levar até uma agência da CEF (Caixa Econômica Federal) e ali, abri uma “Caderneta de Poupança”.

Porquinho quebrado moedas levadas à Caixa Econômica Federal

Continuei amealhando e até comprei outro porquinho onde voltaria a colocar mais moedas. Anos depois, quando fui servir ao Exército Brasileiro (no CPOR de Fortaleza), conheci e me tornei amigo do então Segundo Tenente Raimundo Luiz Bezerra, comandante da minha unidade.

Tenente Bezerra, como o tratávamos, com a nossa autorização abriu uma Caderneta de Poupança na Caixa Econômica Federal para cada um dos seus subordinados. Era o ensinamento do bom caminho.

Cofrinhos da Caderneta de Poupança da CEF

Foi a partir daí que tudo começou. Pedagogicamente, com a leitura das histórias das revistinhas do Tio Patinhas e do Pato Donald.

Nos dias atuais, para alguns, não há mais possibilidade de “ajuntar dinheiro”, nem mesmo como fazia minha falecida Avó – nas cabaças escondidas na camarinha ou nos buracos das paredes de barro.

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