Se com facas e punhais
Com o flho, um crime ocorre
Uma mãe desesperada
Pra casa da outro corre
Que a mãe do filho que mata
Consola a mãe do que morre.
Ivanildo Vila Nova
Por este espaço onde moro,
Meu sonho é tão colorido,
Que eu tenho a doida impressão
Que ele foi construído
Por várias tintas confusas
De um arco-íris mexido!
Oliveira de Panelas
Quem numa separação
Sofrer contrariedade
Reconquiste o que perdeu
Para viver mais à vontade
Porque não é de espingarda
Que se mata uma saudade.
Manoel Filó (1930 – 2005)
O pobre do retirante
Viaja sem rumo certo
Quando já vai fatigado
Arranja um juazeiro perto
Parecendo um guarda-chuva
Que Deus armou no deserto.
Zé de Cazuza
Quando chove no sertão
O rio fica valente
O sapo desce esparrado
Na cabeceira da frente
E se parece um piloto
Na direção da enchente.
Adauto Ferreira
O excelente artigo coincidiu com um presente que recebi de um prezado amigo, poeta do Sertão do Pajeú, o livro Poetas Encantadores, de Zé de Cazuza, na semana passada. Zé de Cazuza é dono de uma memória prodigiosa, ele simplesmente decorava os grandes versos nascidos nas rodas de glosa e cantoria. Só não entrava na cabeça dele verso ruim. O que era bom, ele gravava na hora.”Não tem técnica, não, eu só me lembro das coisas”, simplifica ele, consciente de seu papel como o grande memorialista da poesia do Pajeú. Estou lendo com muito prazer e me deliciando com os versos bonitos dos melhores poetas do Nordeste. A estrofe mais interessante não poderia deixar de ser a do poeta e repentista Zé de Cazuza: O pobre do retirante/Viaja sem rumo certo/Quando já vai fatigado/Arranja um juazeiro perto/Parecendo um guarda-chuva/
Que Deus armou no deserto.
Adagmar.
Estou feliz com seu ótimo comentário, principalmente, por citar o livro de Zé de Cazuza com informações importantes para quem gosta e pesquisa o admirável mundo do repente. José Nunes Filho, conhecido como Zé de Cazuza, nasceu no sítio Boa Vista, na cidade de Monteiro (PB), em 13/12/1929. Começou a frequentar as cantorias aos cinco anos. Aos seis, já guardava versos na cabeça. Quando se mudou para a zona rural de Prata, onde vive até hoje trabalhando também com agricultura e criação de gado, foi vizinho de Zé Marcolino, mestre cantado por Luiz Gonzaga. Em sua casa costumavam ir Lourival Batista e Pinto do Monteiro, dois dos maiores do seu tempo.
Há nove anos, foi reconhecido como Mestre das Artes da Paraíba, equivalente ao registro do Patrimônio Vivo de Pernambuco. Nas palavras de Jansen Filho, Zé de Cazuza é um “misto de vaqueiro e poeta, alma coberta de sol e poesia”. Segundo o folclorista Francisco Coutinho Filho, ele é “o mais apurado admirador sertanejo da nossa poesia brava”.
Compartilho com a prezado amiga uma sextilha de Zé de Cazuza sobre a poesia:
Quando ouço a poesia
Fico que não me governo,
O poeta sem cantar
Padece um desgosto eterno,
É mesmo que o sabiá
Passar calado o inverno.
Saudações fraternas,
Aristeu
Inicio a semana lendo “POESIA PURA DO SERTÃO”. Estas estrofes foram bem selecionadas e proporcionam a quem aprecia os versos maravilhosos dos poetas populares e repentistas conhecer uma arte plena de beleza, conhecimento e sabedoria. Considero o poder de síntese dos cantadores de viola um sinal de inteligência muito peculiar a quem se dedica a diícil arte da poesia cantada. Todas as estrofes são pérolas poéticas, entretanto considero a de Manoel Filó a minha preferida: Quem numa separação/Sofrer contrariedade/Reconquiste o que perdeu/Para viver mais à vontade/
Porque não é de espingarda/Que se mata uma saudade.
Fernando,
Agradeço suas considerações a respeito do artigo sobre a poesia pura do sertão. Saiba que a pesquisa sobre as estrofes que se destacam no maravilho mundo do repente é prazerosa. Encontro admiráveis versos constituindo estrofes que estão na memória e no coração dos admiradores dos poetas populares e repentistas. Manoel Filó, citado por você, foi um poeta talentoso, criativo e deixou um legado tão grande quanto os maiores repentistas de todas as gerações.
A poética foi herdada do pai que passou para ele e alguns irmãos e ele por sua vez passou para seu filho Jorge Filó. Genealogia é uma palavra comum em terras sertanejas e nordestinas, numa legítima perpetuação de talentos repassada de pai para filho. Poeta popular dos mais reconhecidos, tanto pelo dom do improviso quanto pelo poder de criatividade. Não era cantador profissional, embora não se negasse a improvisar na viola quando solicitado. O poeta recebeu a alcunha de um padre italiano de Manoel Filósofo. Era versado na arte de fazer trova e do soneto. Seus poemas estão citados nos livros de poesia popular e cantoria e parte da sua obra foi compilada no livro As Curvas do Meu Caminho, organizado pelo autor e editado em 2004.
Compartilho com o prezado amigo uma sextilha da genial Manoel Filó:
Da meia noite em diante
Ninguém mais sabe meu giro
Eu começo gaguejando
Porém depois que me inspiro
Tenho a grandeza do tato
De um cego jogando firo.
Saudações fraternas,
Aristeu
Eu estou com o hábito de ler o Jornal da Besta Fubana toda segunda-feira para desfrutar da poesia. Procuro ver nas estrofes as metáforas bem elaboradas, e surpeendo-me com a criatividade dos repentistas. Por exemplo, a estrofe do repentista Adauto Ferreira nos premia com imagens poéticas das mais belas: Quando chove no sertão/O rio fica valente/O sapo desce esparrado/Na cabeceira da frente/E se parece um piloto/Na direção da enchente.
Daniela,
Agradeço o seu competente comentário. Fiquei emocionado com a informação de que ler o Jornal da Besta Fubana toda segunda-feira é um ato agradável porque tem poesia, entre assuntos diversos. Quando um leitor fubânico se identifica com poesia, sinto que os versos belíssimos do repente irá se perpetuar.
Aproveito esse espaço democrático do JBF para enviar uma septilha do poeta popular e cordelista Wellington Vicente ao prezado amigo:
Assisti o Astro-Rei
Na passagem do plantão:
Deixou bem limpa a guarita,
Pendurou o macacão,
Fez continência a Jesus
E foi emprestar a luz
Para o Luar do Sertão.
Saudações fraternas,
Aristeu
ERRATA
ONDE SE LÊ: prezado amigo
LEIA-SE: prezada amiga
Parabéns por conseguir selecionar estrofes que enchem nossos olhos de beleza. Tenho certeza da existência de sextilha, septilha, oitavas, nona e décima, entre outras; fascinantes dos nos poeta encantadores, como disse a colega Adagmar. Fico até em dúvida quanto a escolher uma dessas estrofes porque todas merecem serem votadas, porém escolho a sextilha do repentista poeta Oliveira de Panelas: Por este espaço onde moro,/Meu sonho é tão colorido,/Que eu tenho a doida impressão/Que ele foi construído/
Por várias tintas confusas/De um arco-íris mexido!
Edmilson,
É gratificante receber seu formidável comentário. É sempre bom permutar ideias com pessoas que gostam e pesquisam poesia. Aqui, no Jornal da Besta Fubana, aprendemos uns com os outros. Você escolheu a estrofe de Oliveira de Panelas, então, vou fazer um brevíssimo comentário sobre esse grande cantador de viola.
O poeta, repentista, escritor, cantador pernambucano, Oliveira de Panelas (Oliveira Francisco de Melo) aos 08 anos de idade, já fazia seus primeiros versos. Aos 12 anos cantou pela primeira vez no Sítio contador em Panelas/PE. Seu pai Antônio Francisco de Melo Filho e sua mãe Maria Virtuoza dos Santos foram seus grandes incentivadores de todo seu trabalho.
Tornou-se profissional aos 14 anos de idade, viajando por todo o Estado de Pernambuco, parte de Alagoas e Paraíba com vários poetas-cantadores, entre eles: João Vicente e Manoel Hermínio naturais de Panelas e Cupira respectivamente.
Como profissional do repente, sempre demonstrou, de forma didática, os seus principais gêneros, a origem e a atuação da cantoria no Nordeste. Divulga desde o início a valorização do cordel como um símbolo de resistência e arte aos costumes de nossa gente, somando-se a total divulgação das canções e das toadas de todo reino do repente nordestino. Atuou, por oito anos, em emissoras de rádio de Garanhuns/PE, tendo participado em dezenas de outras rádios em todo o estado de Pernambuco e fora dele, a exemplo de Caruaru, Belo Jardim, Pesqueira, etc. Viajou pelo Brasil inteiro sempre divulgando a riqueza, a história, a cultura e os costumes do leão pernambucano.
Compartilho com o prezado amigo o repentista poeta Oliveira de Panelas glosando o seguinte mote:
Nunca Transforme em Vermelho
O Sinal Verde da Vida.
É louvável quem respeita
Os sinais de advertência
Se a esquerda é preferência
Nunca passe pra direita.
A estrada não foi feita
Pra ser pista de corrida
Ao cruzar a Avenida
Mire-se bem neste espelho
Nunca transforme em vermelho
O sinal verde da vida.
Repare bem o motor,
Viaje com confiança,
O cinto de segurança
Coloque pra onde for,
Examine o extintor,
Se a carga está vencida,
Não se torne um homicida
Por causa deste aparelho
Nunca transforme em vermelho
O sinal verde da vida.
Não dirija embriagado,
Evite a fatalidade,
Não corra em velocidade,
Nunca viaje drogado,
Se caso estiver cansado,
Tente achar uma dormida,
Evite numa batida
Ferir mão, braço e joelho.
Nunca transforme em vermelho
O sinal verde da vida.
No congestionamento,
Nunca perca a esportiva,
Dirija na defensiva,
Fique atento ao movimento,
Cuidado como cruzamento
Olhe a faixa proibida,
É grande quem não liquida
Sequer a vida de um coelho
Nunca transforme em vermelho
O sinal verde da vida.
Prossiga a viagem em paz,
Seja feliz no retorno,
Jamais tente com suborno
Comprar os policiais,
Pois um suborno não faz
A vida restituída
Depois da vida perdida
É tarde, não há conselho.
Nunca transforme em vermelho
O sinal verde da vida.
Saudações fraternas,
Aristeu
Parabéns, Aristeu, pela excelente postagem “POESIA PURA DOS POETAS DO SERTÃO”!
Sua coluna enriquece o JBF, e é a mais lida!
Nada mais bonito do que a cultura popular!
Gostei imensamente da seleção de poetas e de todas as sextilhas.
Para o meu deleite, destaco a do poeta Adauto Ferreira:
“Quando chove no sertão
O rio fica valente
O sapo desce esparrado
Na cabeceira da frente
E se parece um piloto
Na direção da enchente.”
Desejo a você um feliz mês de julho, com muita saúde, alegria e paz!
Violante,
É motivo de alegria ler o seu importante comentário, pois suas generosas palavras incentivam devido possuirem uma energia positiva. O seu elogio faz com que me aprimore em procurar temas que desperte a atenção do leitor fubânico. Sua estrofe escolhida demonstra a importância da natureza, principalmente, pelos desastres ecológicos muito comum em nosso tempo. A natureza nos proporciona um ambiente sereno, onde podemos relaxar, refletir e encontrar equilíbrio. Caminhar em meio às árvores, ouvir o som dos pássaros e sentir a brisa suave nos traz uma sensação de tranquilidade e bem-estar.
A natureza é importante por motivos que vão desde contribuir para o equilíbrio ecológico do planeta Terra até servir como fonte de recursos para a sobrevivência dos seres vivos. Para os seres humanos, a natureza é uma fonte de elementos básicos para a sobrevivência, como água, ar, energia e alimentos.
Além dos benefícios físicos, a conexão com a natureza também traz vantagens para a saúde mental: Redução da ansiedade e depressão. Estudos mostram que a exposição à natureza diminui os sintomas de ansiedade e depressão, proporcionando uma sensação de calma e tranquilidade.
Compartilho com a prezada amiga uma estrofe do repentista poeta Raimundo Caetano:
O que Deus faz é perfeito
No mar pôs mais de um cardume;
No céu colocou estrelas;
Nas rosas botou perfume
E eletrizou a floresta
Nos faróis do vaga-lume.
Desejo uma semana plena de paz, saúde e alegria!
Aristeu
Obrigada, Aristeu, por compartilhar comigo esta belíssima estrofe do repentista Raimundo Caetano, sobre as coisas de Deus! Gostei imensamente!
Suas considerações sobre a natureza são riquíssimas. Bonitas e verdadeiras!
Também lhe desejo uma semana plena de paz, saúde e alegria!
Grande abraço!