ARISTEU BEZERRA - CULTURA POPULAR

CÂMARA CASCUDO

Eu já fiz chapéu de palha,
Fiz bodoque, fiz cangalha,
Carrepeta e berimbau,
Fui menino prazenteiro
Correndo pelo terreiro
Em meu cavalo de pau.

Luís da Câmara Cascudo
Con seu profundo estudo,
Sobre o folclore tratou,
Na cultura popular
Foi o maior potiguar
Que o Rio Grande criou.

Contava tudo a miúdo
Porque sabia de tudo,
Conservava nos arquivos
Populares tradições,
Lendas e superstições
E costumes primitivos.

Do folclore foi patrono,
Ergueu ali o seu trono
Com o dom que Deus lhe deu,
Não há em nosso universo
Quem possa dizer em verso
O que ele em prosa escreveu.

Eu não tenho competência
Para fazer referência
Sobre o seu grande saber
Falando de coisa antiga,
Por mais que o poeta diga
Falta ainda o que dizer.

Acho ser ignorante,
Muito ousado, petulante,
Atrevido e linguarudo,
Um matudo agricultor
Falar sobre o professor
Luís da Câmara Cascudo.

Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) foi historiador, antropólogo, advogado, professor universitário, jornalista e, principalmente, folclorista brasileiro. Era apaixonado pelas tradições populares, superstições, literatura oral e História do Brasil. Ele passou toda sua vida em Natal e dedicou-se ao estudo da cultura brasileira. Foi professor da Faculdade de Direito de Natal, hoje Curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) , cujo o Instituto de Antropologia leva seu nome. O conjunto de sua obra é considerável em quantidade e qualidade: ele escreveu 31 livros e 9 plaquetas sobre o folclore brasileiro, em um total de 8.533 páginas, o que o coloca entre os intelectuais brasileiros que mais produziram. É também notável que tenha obtido reconhecimento nacional e internacional publicando e v ivendo distante dos centros Rio e São Paulo.

7 pensou em “POEMA DE PATATIVA DO ASSARÉ HOMENAGEANDO O GRANDE FOLCLORISTA CÂMARA CASCUDO

  1. Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Patativa do Assaré (1909 – 2002), foi muito feliz na sua homenagem poética a Câmara Cascudo. Os versos desse poema são muito bem elaborados demonstrando conhecimento sobre a vida e a obra desse autor bastante citado em diversos campos de estudos ligados às ciências sociais; entretanto o escritor e pesquisador potiguar ficou mais conhecido através de seus livros dedicados ao folclore.

    • Vitorino,

      É com alegria que recebe seu excelente comentário. Câmara Cascudo (1898-1986) escrevia à noite. Nas horas em que o urutau canta e os lobisomens vagueiam, o pesquisador potiguar se retirava para um quarto em sua casa em Natal (RN) e punha-se a escrever sobre a cultura popular brasileira – não só a que devorava avidamente nos livros, mas também a que ouvia da rendeira e do pescador com quem conversara por toda tarde.
      Compartilho três frases do historiador, antropólogo, advogado, professor universitário, jornalista e, principalmente, folclorista brasileiro Câmara Cascudo com o prezado amigo:

      1) “Meu pai dizia que a rede fazia parte da família. A rede colabora no movimento dos sonhos.”

      2) “Sou um homem que não desanimou de viver e acho a vida cheia de encantos.”

      3) “É o cinema em casa, o mundo em casa. É o tapete mágico de Aladim, em que você viaja sem sair do lugar. Tem função deturpadora, e não orientadora ou elevadora. Mas para os velhos surdos, meio cegos e jumentos como eu, aos 83 anos, é a vida. Para quem não chega à janela, não lê jornais como eu, a televisão é minha vida, a minha viagem.”

      Saudações fraternas,

      Aristeu

  2. Câmara Cascudo, lamentavelmente,amarga ainda um certo esquecimento da sociedade literária. São poucos os que conhecem e menor ainda os que leram as suas obras consideradas fundamentais para entender o que é o Brasil e o que são os brasileiros. Esse tributo poético de Patativa do Assaré é muito justo, e escrito com versos que possuem a beleza de um grande poeta popular para enaltecer o nosso maior folclorista.

    • Messias,

      Muito obrigado por seu comentário com observações importantes. Concordo que a obra de Câmara Cascudo não tem o estudo e a leitura que merecem. Ele reconhecia no folclore brasileiro a manifestação mais rica e viva do condensado de culturas que formam o país. Há uma frase de Jorge Amado sobre Câmara Cascudo que, pela sabedoria do escritor baiano, compartilho com o prezado amigo; “Tão jovem aos setenta anos, Mestre Luís da Câmara Cascudo cada dia redescobre o Brasil num dito popular, numa lenda, na realidade de um instante mágico, na mesa do almoço ante um prato de nossa culinária, na face do homem e na medida de uma existência vivida toda ela em função da cultura, da cultura brasileira. Eis um mestre de Brasil, Cascudo”.

      Saudações fraternas,

      Aristeu

  3. Parabéns pela rica postagem, prezado Aristeu!

    Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) continua sendo o maior orgulho do Rio Grande do Norte, como historiador, antropólogo, advogado, professor universitário, jornalista e, principalmente, folclorista brasileiro.
    O belo poema de Patativa do Assaré, em homenagem a Luís da Câmara Cascudo, é muito verdadeiro, e ressalta o grande folclorista .que ele era..

    Um abraço, e votos de um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de Ventura, com muita Saúde e Paz, para você e seus familiares!

    Violante Pimentel Natal (RN)

  4. Violante,

    Grato por seu valioso comentário. Sou um entusiasta da obra de seu conterrâneo Câmara Cascudo. Ele foi o principal responsável por tornar conhecidas figuras fantásticas do folclore brasileiro. Atire a primeira pedra quem nunca ouviu falar em saci-pererê, curupira, mula-sem-cabeça e outros personagens do nosso folclore! Conforme ouvimos as histórias, parece que esses seres começam a morar na nossa imaginação…
    Estudioso, infatigável, pesquisador de mão cheia, sabedor de mil coisas, relacionadas com a vida e o povo do Brasil, esmerilhador de fatos, divulgador de curiosidades, dlsseminador de emoções e de
    alegria, estuda em mil direções a vida brasileira, ligando o passado e o presente, como pontos de referencia para a nossa afirmação no futuro.
    Compartilho um poema de Carlos Drummond de Andrade homenageando Câmara Cascudo com a prezada amiga:

    POESIA ATÉ AGORA

    Até agora? Até sempre
    vive a poesia, pois tudo
    demonstra que ela floresce,
    em palma eterna e radiante,
    unida à sabedoria,
    à graça humana e fraterna,
    ao fascínio natural
    de quem, no mundo e em Natal,
    é para nossa alegria,
    o sempre moço estudante
    Mestre Câmara Cascudo.

    Desejo um Natal com saúde, paz e harmonia; entretanto vou dizer em versos, que fica mais agradável:

    NATAL É TODO DIA

    Vamos somar esforços
    Estender sempre a mão
    Multiplicar solidariedade
    Ver no outro um irmão
    Ser um disseminador
    Para dividir o amor
    Que brota do coração.

    Um final de semana com tudo de bom,

    Aristeu

  5. Obrigada, Aristeu, pelos lindos versos da sua autoria, “NATAL É TODO DIA” louvando o Natal, e por compartilhar, também, comigo o belo poema de Carlos Drrummond de Andrade, em homenagem ao Mestre Câmara Cascudo!, Adorei!

    Um Natal de Amor e Paz para você e sua família!

    Violante

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