Bolsonaro após discurso em João Pessoa (PB), onde anunciou aumento no Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600
Na natureza do jornalista está o ceticismo, a incredulidade, tal como São Tomé. Um grande pecado é a ingenuidade, a credulidade. Não pode aceitar um fato à primeira vista, como se fosse uma questão de fé. Digo isso para me justificar: não é questão de má vontade com as pesquisas; é uma questão de racionalidade, em que a dúvida é o melhor aliado. Tudo isso para dizer que não levo pesquisas a sério. Elas já me enganaram. Se eu permitir que me enganem de novo, a culpa é minha.
Estamos em agosto. No agosto de 2018, a pesquisa mais conhecida mostrava que Bolsonaro tinha a maior rejeição entre os candidatos; Witzel, no Rio, e Ibaneis, no Distrito Federal, eram azarões; Dilma estava eleita senadora por Minas, onde Zema ficava para trás. Não sei por que milagre, o mais rejeitado dos candidatos acabou presidente da República. Agora vejo pesquisas que entrevistaram 2 mil, num universo de 156 milhões de eleitores. Quer dizer, a agência de pesquisa tem de descobrir 2 mil entrevistados em que cada um deles represente 78 mil eleitores. É um milagre da ciência estatística.
Vejo investidores, banqueiros, empresários, fazendo planejamento para o ano que vem com base nas pesquisas eleitorais. Pergunto se as pesquisas de mercado têm fornecido a eles caminhos seguros para apostarem no futuro. As pesquisas falam em margem de erro. Não consigo entender a matemática que dá um desconto de 5% ou 2% na psiquê do entrevistado. Não imagino que as agências estejam movidas pela intenção de buscar um resultado de sua preferência ou interesse. Apenas imagino como o método é carente de certezas. Prefiro a boca de urna. Mas tampouco consigo me convencer de que alguém que era do PT dois meses antes da eleição tenha votado em Bolsonaro na hora de acionar o teclado da urna.
O mais difícil é aceitar que políticos estejam usando as pesquisas como réguas da sua programação de campanha. Creio que o político é dotado, por natureza, de um instinto para o povo, de um sexto sentido que lhe faz sentir o que o povo quer. Seria então um populista, um demagogo? Provavelmente não. Pode ser um democrata, que sabe que o poder emana do povo e ausculta o que o povo quer, nos gritos, nas falas, nos gestos, nas vaias. Por falar em povo, concluo que acredito mais no que vejo nas ruas que naquilo que leio nas pesquisas.
“Quer dizer, a agência de pesquisa tem de descobrir 2 mil entrevistados em que cada um deles represente 78 mil eleitores.”
Nada mais se acrescenta depois dessa análise.