MARCELO BERTOLUCI - DANDO PITACOS

No Brasil o povo costuma dar pouca importância aos partidos, mas nos EUA não é bem assim. Por lá, definir-se como Democrata ou Republicano é assunto sério, similar a um brasileiro afirmando que é Flamengo ou é Vasco (ironia intencional).

Mas uma olhada mais calma na realidade mostra que se o bipartidarismo é coisa séria para os eleitores, para os políticos não é bem assim. Uma excelente demonstração aconteceu no último sábado, quando o congresso dos Estados Unidos chutou o balde e, na opinião do ex-deputado Ron Paul, pregou o “último prego no caixão dos EUA”.

Exageros à parte, o que o congresso de lá fez, em uma única sessão, foi:

– Entregar quase cem bilhões de dólares dos contribuintes americanos para a Ucrânia (61 bilhões), Israel (26 bilhões) e Taiwan (8 bilhões).

– Autorizar o governo a confiscar e vender bens e ativos da Rússia e usá-los para ajudar a Ucrânia

– Dar poder ao presidente para tirar do ar em todo o país qualquer site, bastando declará-lo como “controlado por adversários estrangeiros” – a definição de “adversário” fica dependente das circunstâncias.

– Ampliar significativamente o direito de órgãos do governo como a NSA (Agência de Segurança Nacional) de espionar pessoas nos EUA e em outros países sem prestar contas a ninguém.

Tanto aqueles que vêem nos EUA um exemplo de “patriotismo” e “nacionalismo” como aqueles que odeiam os EUA pelos mesmos motivos devem ter ficado surpresos, cada um a seu modo, em ver, dentro do famoso capitólio, deputados gritando “Ucrânia! Ucrânia!” enquanto agitavam bandeiras ucranianas.

Trocando em miúdos, ao mesmo tempo em que concede ao executivo poderes que seriam chamados de ditatoriais se ocorressem em países que não fazem parte da panelinha, o congresso dos EUA inventou um novo conceito geo-político: participar de uma guerra ao mesmo tempo que finge não participar da guerra. Aliás, oficialmente não existe declaração formal de guerra nem na Ucrânia nem em Gaza.

Os Estados Unidos, que já bloquearam ilegalmente dezenas de bilhões de dólares em títulos que pertencem à Rússia, agora se concederam o direito de “expropriar” bens russos em que conseguirem pôr as mãos, algo que no mundo real costuma ser chamado de roubo, mas em politiquês é chamado de “sanção”.

Mas voltando ao tema do início, o que deixou muita gente espantada foi a facilidade com que os democratas, partido do governo, conseguiram aprovar estas medidas sem ter a maioria na Câmara de Deputados. O presidente da Câmara, o republicano Mike Johnson, simplesmente ignorou a opinião da maioria de seu partido e partiu para o “toma-lá-dá-cá”, permitindo e incentivando que deputados votassem a favor do partido adversário em troca de favores pessoais. Nas palavras de Ron Paul, “O líder democrata no Senado, Chuck Schumer, chegou a se gabar para seus colegas sobre a facilidade com que Johnson dava aos democratas tudo o que eles queriam e não pedia nada em troca.”

Isso deveria servir como uma importante lição para quem acha que os problemas de um país podem ser resolvidos pelos políticos. Nas palavras de Einstein, “não se pode resolver um problema usando o mesmo raciocínio que levou à existência do problema”. Nas palavras de Olavo de Carvalho, “É tolice achar que uma democracia que não funciona pode ser consertada por meios democráticos. Seria preciso acreditar que a democracia pode estar doente e saudável ao mesmo tempo.”

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