Ministro do STF determinou que presídio da capital alagoana deve ter condições para tratar da saúde do ex-presidente
Você pode não acreditar, mas é verdade, ou pelo menos a verdade oficial: não existe corrupção no Brasil. Existe em outros países, até de primeiríssimo mundo, mas aqui não. A demonstração cabal disso é que, por decisão pétrea do STF, já consolidada em jurisprudência, não há no momento nenhum preso por corrupção no sistema penitenciário nacional. Se não há ninguém preso por corrupção, é porque a Justiça não encontrou ninguém que tenha cometido crimes de corrupção, e se a Justiça falou está falado, não é mesmo? Decisão judicial não se discute – se cumpre. Se o STF diz que ninguém é corrupto, porque absolve todos, então não existe corrupção. Vai encarar?
Não é 100% assim, porque anomalias podem aparecer nos melhores processos – mas esse tantinho que falta só torna ainda mais lamentável a comédia toda. Há o enigmático caso de um ex-magnata da Petrobras lulo-dilmista, o único sobrevivente do Petrolão (a rataria-raiz está de volta aos cabides do governo Lula) e outra relíquia da Lava Jato, ninguém menos que o ex-presidente Fernando Collor. Isso só confirma o sanatório geral que o STF criou em torno da corrupção nacional. Quer dizer que, tirando o mistério do condenado solitário na Petrobras, o único corrupto do Brasil é Collor? “Tenha dó”, poderia dizer o ministro Alexandre de Moraes.
Lula está solto; aliás o homem é o presidente deste raio de país. Sergio Cabral, condenado a 400 anos, e José Dirceu, estão soltos. Os empresários Marcelo Odebrecht e Joesley Baptista estão soltos. Confessaram os crimes e devolveram dinheiro roubado, mas não adiantou – ambos estão tão soltos como você, e ainda mais ricos do que eram antes de ir para a cadeia. Até o ex-ministro Antônio Palocci, com a sua delação toda, está solto.
O STF, aí, nos levou a uma situação de opereta. Veja só que coisa mais prodigiosa: Collor, segundo afirma a sentença, não foi preso por crimes cometidos no seu próprio governo, que no julgamento do tribunal supremo, teve índices OMO de brancura. Foi preso, isto sim, quando se bandeou depois para o lado de Lula, de quem recebeu umas fatias do pernilzão federal como pagamento pelos serviços prestados. Seu enrosco, portanto, é por delitos que cometeu na era lula-dilmista, e que foram punidos pela Laja Jato. Como fica então?
O STF está nos dizendo que o único ladrão do governo Lula foi Collor – e que todos os demais, mesmo aqueles que confessaram sua culpa, são inocentes? Mais ainda, os ministros estão nos dizendo que a Lava Jato foi o momento mais infame da história do Brasil, e que nenhuma sentença saída dali vale nada, mas que Collor é uma exceção? A Lava Jato, então, não vale para ninguém, mas vale para ele?
Depois os ministros se queixam de “falta de respeito” com eles. E como alguém poderia ser respeitado agindo dessa maneira? O STF, e a população percebe isso cada vez mais; não é apenas um tribunal totalitário que destruiu a lei, eliminou a segurança jurídica e impôs um regime de exceção ao Brasil. Além disso, transformou o país em uma variante do narcoestado. Temos aqui, e por tempo indefinido, o ladroestado.
É preciso ter muita disposição – e talvez uma boa dose de cinismo – para continuar acreditando que o Brasil combate a corrupção de forma séria. O que estamos vendo é justamente o contrário: uma sistemática desmontagem de investigações, a anulação de provas, a reversão de sentenças e a libertação em massa de réus confessos. Em resumo, o país vive uma era de absolvições em série, consagradas por um Supremo Tribunal Federal que parece mais preocupado em reescrever a história recente do que em garantir justiça.
O artigo publicado no dia 1º de maio é cirúrgico ao apontar o absurdo institucional em que nos metemos: o único condenado preso por corrupção vinculado ao universo petista é Fernando Collor, justamente alguém que sequer estava no epicentro dos grandes escândalos de corrupção durante os governos do PT, mas que acabou envolvido por conta de sua aliança com Lula na era pós-mandato. Enquanto isso, os verdadeiros operadores do maior esquema de desvio de recursos públicos da história recente – delatores, beneficiários e articuladores – estão livres, ricos e zombando da justiça.
É simbólico, quase cínico, ver figuras como Lula, Dirceu, Cabral, Palocci e os empresários da Lava Jato circulando livremente. Alguns até posam como vítimas de um suposto complô judicial, como se confissões, delações premiadas, provas documentais e bilhões devolvidos aos cofres públicos fossem invenções. O STF, ao invalidar decisões da Lava Jato, reescreve a história com tintas de impunidade e cria um perigoso precedente: no Brasil, corrupção não é mais crime, é questão de narrativa.
Essa situação não é apenas juridicamente preocupante – é moralmente devastadora. O cidadão comum assiste a tudo sem entender: se os corruptos confessaram e devolveram dinheiro, como é que estão soltos? Se Collor foi condenado, por que os outros não? A resposta, ainda que não dita em voz alta, é estarrecedora: justiça no Brasil não é cega – ela enxerga muito bem a quem deve proteger.
Portanto, apoiar o texto do jornalista não é apenas um gesto de concordância: é um ato de lucidez e coragem num tempo em que o senso comum foi sequestrado por interesses escusos. O STF, infelizmente, perdeu a chance de se consolidar como guardião da Constituição. Hoje, mais parece um oráculo político que atua conforme as conveniências do momento, blindando aliados e punindo seletivamente.
Estamos, sim, diante de um “ladroestado”. E enquanto a população não exigir mudanças profundas, esse ciclo de impunidade institucional continuará nos condenando – não à prisão, mas ao descrédito e à desesperança.
Um título que seria interessante é: O STF e o Esvaziamento Moral do Combate à Corrupção no Brasil.