A PALAVRA DO EDITOR

Ontem, talvez, se hoje for ainda o dia 11 de setembro de 2020 e, por acaso, for sexta-feira, caímos mais uma vez na gandaia que é o rêdêvu internáutico do Jornal da Besta Fubana, tal seja a vídeo-conferência que um tal de Maurício Assuero vem programando e que já foi ao ar pela terceira vez.

Ontem, caso ontem tenha sido ontem, como eu me indagava, a apresentação do assunto ficou por minha conta e falamos sobre Cultura Popular, se todos concordarem que letreiros em para-choques de caminhões, frases e versos escritos em portas e paredes de privadas públicas, assim como estelionatos praticados pelos franceses na França, constituem um ramo dessa cultura, junto aos versos de Pinto do Monteiro, os bonequinhos, digo, as pequenas esculturas de Mestre Vitalino, as pinturas primitivas de Militão dos Santos.

Tá certo, a diferença básica, penso, é que as frases e versos nos caminhões e nos reservados sanitários, assim como os grafites, que eu ainda não mencionara, são, em geral, obras anônimas, ressalva feita aos grafites, que muitos grafiteiros são hoje mundialmente renomados.

Outra coisa é que uma parte desse desvio cultural por vezes não pode ser divulgado sem escandalizar.

Mas… são churumelas: não há dúvida de que se trata de produções culturais e populares, de profundidade, graça, humor, romantismo e até com sentido educacional – me lembrei quanto a este último caso daquela frase de para-choque que dizia aos apressadinhos na estrada que “É melhor chegar atrasado neste mundo do que adiantado no outro”.

O fato é que não podemos deixar de nos impressionar com a sagacidade, perspicácia, malícia, criatividade desse povo simples que produz tantas pérolas admiráveis para nosso encanto e deleite, enriquecendo a existência de algo mais: estás na estrada, vez por outra lá vem um caminhão com suas lições de vida, sua alegria, seu bom humor.

E quando paras para ir ao banheiro, talvez te demores um pouco mais lendo que neste lugar solitário toda virtude se acaba, todo covarde se mija e todo valente se caga; e, observando as paredes com riscos marrons feitos à mão livre, verás, junto, que dedo não é tinta e merda não é pincel, se quiser limpar a bunda é favor trazer papel.

Se toda essa arte se perde nas curvas das rodovias é uma pena, mas talvez não se perca, pois segundo Maurício Assuero revelou naquela reunião, algum pirado já andou escrevendo trabalho acadêmico sobre essas coisas. De repente sai um livro aí.

Concluindo, declaro que o nosso encontro foi acessível às mulheres, sem poucas baixarias e até politicamente correto, porque, a não ser por uma provocação do Rodrigo Buenaventura de Léon, que trouxe um boneco inflável de um dos maiores estadistas brasileiros, cuíca do mundo, não se falou de tal ramo de safadezas – a política.

Bem, houve um deslize inicial do orador que vos fala, quando trouxe a notícia da criança que já nasceu falando, lá na Suécia.

Enfim, escrevo para dizer, aos cerca de duzentos ou trezentos companheiros que compareceram à efeméride, que foi um prazer disgramado estar com eles naquela horinha deitando falação sobre coisas interessantes e peculiares da nossa Pátria amada, com um ligeiro desvio, a pedidos, para a Europa, berço, como vimos, da sacanagem.

Grande abraço e gratíssimo pela audiência generosa.

34 pensou em “PARA-CHOQUES DE CAMINHÕES E OUTROS BICHOS

  1. Goiano,

    Gostei demais da conta da vídeo-conferência sobre cultura popular. A sua atuação foi criativa e valorizou o admirável mundo da sabedoria do nosso povo. Compartilho uma estrofe do poeta e repentista
    Pedro Bandeira (1938 – 2020), que se encantou no mês passado, com o prezado;

    O velho pai de papai
    Idoso, ficou demente
    Não reconhece seus filhos
    Os netos, nenhum parente
    Mas fica bom e se anima
    Quando vovó lhe aproxima
    A ‘máquina’ de fazer gente.

    Saudações fraternas,

    Aristeu

  2. Goiano,

    Eu digitei na pressa e iria retificar. Já que você respondeu, então aproveito para compartilhar um episódio de Pinto do Monteiro (1896 – 1991) com Otacílio Batista (1923 – 2003).
    A Cascavel do Repente cantava com Otacílio Batista, este improvisa uma sextilha enfatisando a boca banguela de Pinto, ao que Pinto retruca que ao chegar na velhice o mesmo iria acontecer com ele, Otacílio então termina uma estrofe dizendo: “Quando chegar esse tempo/ O senhor já tem morrido”, Pinto despeja esse improviso por cima de Otacílio:

    Mas meu espírito envolvido
    Muito além da sepultura
    Irá vagar pelo mundo
    Somente a tua procura
    Até que um dia te veja
    Cantando sem dentadura

    Saudações fraternas,

    Aristeu

  3. Formidável!
    É, Aristeu, devemos enaltecer esses artistas populares do nosso amado País!
    Produzem obras de arte da maior qualidade com os poucos recursos que receberam na vida!
    Nosso colega Malta também sempre nos traz aqui no JBF essas preciosidades.
    E e ti tenho de agradecer pelos subsídios de tua coluna que usei no nosso bate-papo das quintas.

  4. Vou discordar de Goiano quanto ele fala do “grande estadista, cuíca bfo mundo”. Ao que sei, na cuíca a gente enfia a mão e o grande estadista enfiou a mão na gente.
    De resto foi muito bom o assunto, principalmente pelo resgate da literatura de para choque. Queria saber o que Sancho levava nas costas (opa!!!!). E termino com essa “se seio fosse buzina a cidade não dormia”.

  5. Ontem cometi pecado imperdoável ao não participar da conferência; deveres profissionais me mantiveram afastado da ilustre companhia fubânica. Desde já peço desculpas.

    Como contribuição ao tema desenvolvido pelo Goiano, eu pretendia trazer exemplos da criatividade, safadeza e senso de humor contido nos rótulos de cachaça que se encontra no interior, sobretudo em vendas de beira de estrada. É cada um mais engraçado que o outro.

    Acho que Sancho, em suas andanças deve ter visto vários.

    Um exemplo: logo abaixo de um desenho, onde um sujeito tomava cachaça atrás de um saco de farinha, vinha a frase, com o nome da cachaça: se você deseja um boa aguardente tome Atrás do Saco!

    Um abraço

      • Pablo,
        Que venha a cultura “pablular” cachacística.

        sobretudo em vendas de beira de estrada….Sancho por muito tempo colecionou tais “raridades” de beira de estrada, mas (pingaiada mas), quando saí de Curitiba para ir morar em Penedo-RJ, por falta de espaço no caminhão, resolvi distribuir entre os amigos.

        O rótulo mais interessante que tive foi “Morre não que bebê pinga é bão”. Era fabricada em Iguape-SP pelo Manel da Lígia, um sujeito fantástico que vendia a aguardente junto com suas bananas próximo à entrada de Iguape.

  6. Goiano, meu caro Goiano.

    Foi supimpa sua preleção….. não é querer gambá nossa gazeta, mas eu me sinto um átomo diante de tantos titãs e conhecedores da nossa cultura, literatura e manifestações artísticas outras da pátria Brasil.

  7. Cumpanherô Guiano,
    Eu fui assisti a tua pales…pales…cunversa purque mi dissero qui era sobre a Besta Cubana, i ai achei que tu ia fala du Cumpanhero Fidel. Mas ate gostei dos treco qui tu falo, dus caminhao. Mais este Cabaré do Tio Berto, nao tem muié, nem greluda. Só tem viado e velho tarado. Parece Cabaré de Pelotas.
    Otra coisa tu ficou tomando cerveja e não me ofereceu o goró. Num foi provocação do Rodrigo não. Eu e a madioca da Dilma tavamu aqui na casa da Mercedita i ela me deu goró, muito goró, durmi que é uma pedra, só que acordei com o rabo ardendo.
    Mais gostei da tua cunversa.
    Um abraço.
    Presidente Mula.

  8. E agora?
    O que é que vou dizer se já falaram tudo.

    O que sei, é que foi maravilhoso o encontro com os diletos confrades da confraria do Berto.

    Comandado pelo nosso “esquerdista” favorito, Goiano, sem trocadilhos, por favor, a noite foi de gala!

    Ao final do serviço completo na barbearia (barba, cabelo e bigode), restou a indecisão entre o arco, o tarvo ou a verva. A maioria preferiu a cerca pra ficar cheiroso, após as frases de banheiro de estrada.

    Entre tantas, fico com a clássica filosofia de lameiro de caminhão:

    “Pra quem tá se afogando, jacaré é tôco!”

    Um abraço na turma!

  9. Caro Goiano,
    Magoei …comprei uma máscara vermelho comunista, com a bandeira da China e aturei o Lula em tua homenagem e dizes que foi provocação.
    Peço desculpas pois tive de sair as 20h. Um desorientando meu ia defender o TCC, tinha de estar na banca.
    Mas a parte que participei foi fantástica.
    Parabéns.
    PS: Depois vou te mandar a mensagem da Marisa Leticia para teu idolo, psicografada em um Centro Espirita.
    Abraço

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