JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

Hoje nosso texto vai fazer jus, literalmente, ao título escolhido anos atrás para a coluna. Vamos enxugar gelo e, para isso, vamos colocar nossas luvas plásticas – pouco diferentes das que estão sendo usadas aqui e alhures, como meio de prevenir o contágio pelo C-19.

Assim, para não ficarmos tão distantes do assunto Covid-19, que tem tomado até mais da metade do tempo que qualquer padre tem usado nos sermões das missas dominicais, vamos falar do “fique em casa”, que está levando alguns miseráveis à cometer suicídio, por não vislumbrarem qualquer perspectiva de solução.

Dito isso, vamos relembrar de algumas profissões que, ainda que não fossem consideradas essenciais, não haveria, jamais, como obedecer o “fique em casa”.

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Arrumador de pinos de boliche:

Você já imaginou, em algum desses dias atuais, baixar o aplicativo no seu celular e fazer uso de uma assinatura para reservar um horário para jogar boliche com um amigo obedecendo todos os critérios recomendados pelas autoridades sanitárias, com o objetivo de reduzir ao mínimo a possibilidade de contágio pelo C-19?

Ou, digamos, você usa de todos os seus direitos para marcar um horário especial naquela Casa de Jogos do Morumbi, bairro luxuoso da capital paulista e, assim sem mais nem menos, o nazi-governador daquele Estado decreta o “lockdown”?

Arrumador de pinos de boliche em plena atividade

E agora, você vai se divertir jogando boliche aonde?

Tudo isso, porque o calça-apertada considera que o “Arrumador de pinos de boliche” não tem família para sustentar, e sua profissão não é essencial. Pode até não ser essencial. Mas, você precisa diminuir o estresse jogando boliche, ora! E quem vai usar o tempo para jogar é pagador de impostos.

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Despertador humano (batedor):

Essa profissão de “Despertador humano”, uma dia já foi muito importante. Importantíssima, diríamos!

Sempre foi profissão executada por mulher, quase que na sua totalidade. Foi oficialmente extinta no ano de 1876, época da Revolução Industrial na Europa.

No Brasil, entretanto, a “profissão” teve curta duração, haja vista que nenhum marido aprovava que sua mulher acordasse e levantasse com o dia clareando para ir tocar canudinho de som na janela de alguém. Deu uma confusão miserável e, querendo ou não, os familiares da casa de onde saíra a mulher também acabavam “despertados”. Despertados por tabela, digamos.

As antigas “profissionais Despertadoras”

Agora, a confusão era maior, quando uma mulher tocava o canudinho ao lado da janela onde um casal dormia, e a dona da casa acordada bradava: “acorda e levanta, pois a rapariga já está te chamando para as safadezas.” Como diria Adonias para Maurino – “deu uma confusão do caraio, para filho-da-puta nenhum ficar sorrindo.”

Nessa pandemia do C-19, com o “fique em casa” determinado pelas autoridades sanitárias, a profissão foi literalmente extinta.

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Leitor de fábrica:

Operários escutam Leitor enquanto trabalham na fábrica de cigarros

Evidente que não conhecia todos os acometidos de C-19 que foram a óbito. Mas, uma coisa eu asseguro: mais de 90% dos acometidos pelo coronavírus que moravam em São Luís e foram a óbito, eram fumantes ou ex-fumantes. Os pulmões, aprendi na universidade, não são um órgão que se “limpe” dando descarga, como um vaso sanitário. Nossas constantes mudanças climáticas exigem mais trabalho dos pulmões – que ainda estão sendo sacrificados com o uso intermitente da máscara.

Assim, é evidente, que o “Leitor de fábrica” cuja profissão era promover entretenimento aos operários da fábrica de cigarros e outros tabacos é alguém dispensável. Descartável e nem precisa vir mais ao trabalho, pois foi uma profissão que desapareceu.

Agora, o operário da fábrica de cigarros, nesse ninguém toca. Afinal, quem produz mais linfomas pulmonares ao mesmo tempo que gera mais arrecadação para os estados?

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Coletor de sanguessugas:

Sanguessuga coletado por profissional especializado

Até o fim do século XIX, a modalidade de tratamento médico conhecida como sangria ainda era utilizada em boa parte do mundo. E isso podia ser feito com o auxílio de sanguessugas, que eram vendidos aos médicos pelos coletores. Hoje a sangria terapêutica ainda é utilizada em casos específicos, como em pacientes com hemocromatose, policitemia vera e poliglobulia (provocada pelo excesso de glóbulos vermelhos no sangue). Mas sanguessugas não são mais necessários.

Tanto quanto a utilização pela medicina, o “Coletor de sanguessuga” foi abolido e tangido das profissões brasileiras através das leis. Senado federal, Câmara federal, assembleias estaduais, secretarias estaduais e municipais, vereadores e auxiliares fizeram lobby e tangeram com sal grosso e cabo de vassouras não apenas os sapos cururus. Tangeram, também, o “Coletor de sanguessuga”. Daí, a exagerada quantidade que temos desses “insetos”.

15 pensou em “PANDEMIA DO C-19 – O QUE É MESMO “ESSENCIAL”?

  1. Que coisa estranha ao achar que 90% dos que morreram eram fumantes. Na França dos mortos pelo c19 os fumantes eram menos de 17%, inferior ao da população que é superior a 30% de fumantes. Pesquisa demonstrou que o pulmão do fumante devido ao estrago do fumo produzia substâncias que combatiam o C19. De forma errada a população começou a comprar tabletes de nicotina pensando em se proteger, o que levou o governo a restringir a venda.

  2. Zé Ramos, eu tenho que pedir pra você aumentar a oferta de profissões imprescindíveis. Coletor de sanguessugas é tão importante quanto vigia de cemitério

    • Assuero, bom dia. Acho que a diminuição do “Coletor de sanguessugas” que permitiu a proliferação em Brasília – bem entendido: na Câmara, no Senado e nas instituições jurídicas.

  3. Olá Sr. JOSÉ RAMOS
    Sr. Enxugador de Gelo
    “Estamos enxugando gelo”. Tempos trás, foi assim que um policial militar, desses que patrulham as ruas de São Paulo, definiu, com desânimo, o resultado de seu trabalho. Segundo ele, não é raro o bandido preso hoje, estar nas ruas amanhã e dando risada na cara dos policiais. Muitos são presos até 2 vezes no mesmo mês e alguns até tem advogado fixo, aos quais pagam uma mensalidade e aos quais ligam quando necessário, geralmente logo após a sua captura, quando então o advogado acionado comparece ao local da detenção, geralmente na delegacia.
    Por falar em profissão do passado, o seu trabalho, excelente por sinal, me fez lembrar que eu fui um “arrumador de pino”, lá pelo início dos anos 60. A atividade era exercida como “quebra galho, vez que, à época, as empresas não empregavam os homens na idade próxima ao recrutamento.
    Então, eu fui arrumador de pino por cerca de dois anos, levado por meu tio, que era um dos jogadores do clube chamado Barriqueiros do Ahú, em Curitiba, que abrigava o boliche. O trabalho era entre 18:00 e 24:00 hs; era cansativo e mal remunerado, cerca de R$ 50,00 em valores de hoje, mais lanche.
    Éramos em 02 arrumadores, cada qual atendendo dois jogadores, de um total de 4 pistas de boliche. Dificilmente parávamos, pois os jogadores também não faziam pausas, nem tinham dó dos arrumadores. Estes, por sua vez, aflitos e cada vez mais cansados, torciam contra o jogador,pois se este errasse menos trabalho haveria para o arrumador e podia então até dar uma mordida no sanduiche e tomar um gole de refrigerante, para matar a fome. Hoje lembro que sofria muito, mas não vivia me queixando. Enfrentava calado !
    Por falar em profissões extintas, eu também trabalhei, após a baixa no exercito, meados dos anos 60, como desdobrador de apostas no Jockey Club do Tarumã, também em Curitiba. No tempo em que nem se sonhava com o tal computador, as apostas feitas horas antes dos páreos, tinham que ser desdobradas antes do páreo, a corrida propriamente dita. Em uma tarde no jockey (ou Joquei) tínhamos cerca de dez corridas ou páreos, com cerca de 8 a 10 cavalos, todos arrumados, numerados, com seus respectivos jóqueis. Todos os cavalos tinham nome e número e os páreos também; Enfim, eram estas as informações necessárias para o apostador, que tentava adivinhar o cavalo vencedor em cada páreo. Sobre o desdobramento das apostas, não lembro detalhes, mas sei que era um trabalho árduo e difícil, pois tínhamos que escrever à mão números diversos, em diferentes papéis minúsculos, onde a escrita tinha que ser certeira, ligeira, correta e legível e tudo até 15 minutos antes do páreo a que se referia aquela aposta. O serviço era um sufôco, tão mal remunerado quanto o de arrumador de pinos, no boliche. Também ali tínhamos uma jornada de cerca de 6:00 horas, ganhávamos cerca de R$ 50,00 e um lanchinho mixuruca. Mas disputávamos à tapa aquele serviço, tão raro eram as chances de se conseguir um trabalho naquela época, se você não tivesse experiência em qualquer profissão ou ao menos fosse datilógrafo, então o trabalho dos sonhos, dada à moleza.
    Éramos uma turma de dez a quinze pessoas trabalhando nas apostas. Alguns de nós, mordidos pela ambição, depois de ver alguns sortudos se saírem bem apostando nos cavalinhos, resolviam arriscar. Até eu fiz isto, uma ou duas vezes. OI resultado é que a grande maioria perdia e daí lá se ia o valor da diária daquele dia e até um pouco mais. De chorar !
    Gostei muito de seu artigo e o parabenizo pela lembrança das antigas profissões.
    Muito curioso ! Vale a pena pesquisar a respeito.
    Um abraço ao distinto colunista.

    • Almerindo, obrigado pela educação e generosidade do seu comentário. Era assim, sim, no passado. Era bom e gratificante, quando esse tipo de trabalho permitia ganhar o pão do dia. E a gente era feliz e não sabia. Mas sempre haverá aqueles que se dão bem nesses tipos de profissões. As redes sociais falam muito de um certo jovem que trabalhou anos num zoológico, juntando bosta de elefante e, graças ao salário polpudo que ganhava conseguiu ficar milionário e, dizem, hoje virou sócios de algumas empresas grandes do país – onde sempre viveu e trabalhou. É a vida!

  4. Olá. Eu de novo.
    O leitor acima, João Francisco, citou o traste imprestável mor, Delfim Neto,
    Este velho metido a besta foi Ministro da Fazenda Enganador. Hoje exerce o papel de lacrador para a nossa esquerda, sempre prevendo catástrofes para a nossa economia. A nossa “imprensa” lhe dá guarida, vez que ataca o governo !
    Lembro que, ao tempo em que era ministro, ia à televisão explicar ao povo a razão de certos males que nos afetavam. Mas, falava em um “economês” inintelegível”, de modos que, ao final de 30/40 minutos de sua fala enjoada, o ouvinte acordava sem saber nada do que foi dito. O Delfim era e ainda é, um mestre na arte de falar, falar e não dizer nada, própria da maioria dos políticos e principalmente economistas.
    Quando eu via a cara gorda dele na tela da TV, pensava logo que era melhor desligar.
    Saudações ao João Francisco. Estou em Curitiba e se alguém precisar algo daqui, é só falar (almerindo.adv@gmail.com)
    Abraços a todos os colegas leitores.

    • Almerindo, obrigado pelo retorno e pelo novo comentário. Sempre pertinente. O Delfim Neto sempre me pareceu uma “Dilma disfarçada” – ensacadora de vento.

    • Caro Almerindo, Delfim Neto realmente é uma pessoa nefasta que muito mal fez ao país. Passou pelo Governo Militar e depois influenciou, e muito, no governo PT.

      Nós também temos um mestre em falar, falar e não dizer nada aqui no JBF, ele atende pelo nome de Goiano.

      Tem que ter muita paciência para ler o que ele escreve. Mais paciência ainda para tentar entender.

  5. Zé, outras profissões que perderam o sentido :

    1) Enxugador de chuveiro

    2) Catalisador de segredo de cofre

    3) Amarrador de colchão de molas

    4) Abafador de poleiro de gaiola

    5) Lustrador de Chifre

    6) Limpador de parapeito

    7) Guarda de berçário

    8) Alisador de parafuso

    9) Aeromoça de balão

    10) Emendador de partido

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