VIOLANTE PIMENTEL - CENAS DO CAMINHO

Dona de uma beleza escultural, Jorgete, 30 anos, abandonou o marido, pequeno comerciante, trabalhador e honrado, arrastada pela violência do coração. Apaixonou-se, perdidamente, por Vilton, um empresário riquíssimo, viúvo sem filhos, 50 anos, e ele por ela. E foram viver um grande amor, “longe desse insensato mundo”.

O fato de ter abandonado o marido poderia tê-la conduzido à lama e à vergonha, mas, ao contrário, com a nova união, ela conheceu o esplendor da glória. Viagens, restaurantes caros e amigos ricos logo lhe despertaram a vaidade de ser rica.

Três anos depois, o “fogo baixou” e a paixão de Jorgete se diluiu no tempo e no espaço. Entretanto, gostava do luxo e do conforto, que Vilton lhe proporcionava.

Jorgete cultuava a fortuna e a vida boa que levava. Sentia-se feliz e via aos seus pés, derretido numa chuva de ouro, o coração desse homem generoso, nobre e rico, como aquela com que Júpiter fecundou, na torre de Argos, a desditosa Dânae, mãe de Perseu, um dos heróis mais emblemáticos da mitologia grega, considerado um semideus.

Bonito, elegante e rico, o empresário não tinha motivos para temer um competidor. No entanto, mesmo consciente da sua invejável situação econômica, Vilton vivia com o coração apertado, pela insegurança que sentia, com relação a Jorgete, que não hesitara em abandonar o primeiro marido, quando o conheceu.

E foi dominado por essa fraqueza, que, certa noite, não se controlou e desabafou com a mulher, abrindo as torrentes da sua alma:

– Você não imagina, Jorgete, o que tem sido a minha vida, depois que passamos a viver juntos. Eu tenho por você uma paixão desesperada. A minha fortuna, a minha vida e o meu destino estão nas suas mãos. Dou a você, além do meu amor, tudo o que você deseja. Nunca lhe neguei nada. Realizar seus desejos sempre foi a minha religião e a minha maior alegria. Entretanto, a minha felicidade é perturbada por uma insegurança terrível, quando penso no que você fez com seu marido, abandonando-o sem dó nem piedade.

Diante dessas palavras tão sinceras, brotadas do coração do marido, a mulher franziu a testa, coroada de cabelos dourados, como quem acabava de ouvir uma novidade maravilhosa. Sentiu-se envaidecida com essa declaração de amor.

Com os cotovelos fincados na mesa do jantar, e com o rosto de boneca, muito claro e lindo, a fisionomia de Jorgete denunciava uma grave inquietação. De repente, com ar de ingenuidade, uma pergunta aflorou, na sua boca vermelha:

– Então, existe, aqui na capital, outro homem ainda mais rico do que você?!!!

E, ansiosa, disse para si mesmo, sem olhar para o marido:

– Preciso, urgente, conhecer esse homem tão rico assim…

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  1. Cara e Divina Violante, diante desta história, devo repetir Erasmo Carlos:

    “Dizem que a mulher é o sexo frágil, mas que mentira absurda….”

    Um beijo, minha amiga.

    • Obrigada pelo comentário gentil, querido João Francisco!

      A infidelidade da mulher ou do homem está no sangue, como uma doença.
      “Infiel hoje, infiel sempre”.
      Por isso, Vilton nunca teve sossego. E pelo andar da carruagem, ele também estava prestes a ser corno…rsrs.

      Como diz a música de Luiz Ayrão “o que ela fez com ele, vai fazer comigo”.

      Um beijo pra você também, amigo.

  2. D. Violante,

    Sua história, de pungente emoção, nos mostra o sentimento que aflora naquelas que não possuem a firmeza de ações.

    As que fraquejam diante da oportunidade imprecisa que lhe permeia os sentimentos.

    Afinal, quem chifrou uma vez pode deixar dúvidas e sua personagem assim o fez.

    E o iludido foi despertar nela o que não havia aflorado até então, e acabou vendo a realidade de proa, que lhe assaltaria a alma impiedosamente.

    E que história bem narrada, se não criada por sua ffértil imaginação.

    Mais uma vez grato pela dádiva intelectual que ofereceu aos seus cativos leitores.

    Dentre eles, eu.

    Cordialmente,

    Carlos Eduardo

    • Obrigada pelo honroso comentário, prezado Carlos Eduardo!

      A falta de caráter e a infidelidade, tanto na mulher como no homem, estão no sangue, como doenças difíceis de curar.
      “Infiel hoje, infiel sempre.”
      Por isso, Vilton sempre viveu com o coração apertado, diante da perspectiva de uma traição de Jorgete, o que seria muito doloroso para ele.

      E as coisas caminhavam para isso. Ele estava prestes a ser corno…rsrs

      Grande abraço, amigo!

  3. E lá vem Violante, musa maior desta casa bertiana, a nos encantar com seus belos textos para deixar Sancho “longe desse insensato mundo”.

    Que algum mentiroso cochiche nos ouvidos da Jorgete que este vendedor de cocos que vos escreve possui mais grana do que os citados. Vai que cola, não é mesmo?! kkkkkkkkkkkkkkkkk

    Ah, certas mulheres… sempre querendo CARINHO…

    Carro carinho, iate carinho, palácio carinho, perfume carinho, anel carinho, vestido carinho, celular carinho…

    • Obrigada pelo comentário carinhoso, querido Sancho!

      Deus o livre de uma Jorgete em sua vida. Você perderia a grana dos cocos, o caminhão e até os coqueiros….kkkk

      Mesmo sabendo que chifre é igual a dente, só dói quando nasce, mas depois a pessoa se acostuma, ninguém quer um serviço desse… Seja homem ou mulher….kkkkkkkkkkk

      Grande abraço, amigo!

  4. Interessante tema .
    Chifre ! .
    É besteira se preocupar caro Vilton , porque boi tem , bode , impala , veado entre outros e talvez até se orgulhem disto.
    Segundo alguns , até o diabo tem.
    Agora , Jorgete , quem tem que cuide, pois no mundo tem mais Ricardo do que Vilton.

    • Obrigada pelo gratificante comentário, prezado Joaquimfrancisco!

      Chifre é besteira mesmo e só dói na cabeça dos outros. Mas, depois que a pessoa se acostuma, deixa de doer..rsrsrs

      Quem tiver uma Jorgete (ou um Jorge) em sua vida, que se cuide. Abra bem os olhos, pois chifre é um “bem comum” e está ao alcance de todos..
      Você tem razão: “… no mundo tem mais Ricardo do que Vilton” ….

      Bom fim de semana!

  5. Violante,

    Parabéns pela crônica excelente em que aborda com competência a importância do vil metal da sedução no amor. Gostei demais da conta das informações sobre a mitologia grefa enriquecendo seu belo texto.
    Muitos acham que a famosa frase que diz que dinheiro não traz felicidade seja falsa e exagerada, chegando até a fazerem piadas com o assunto. A verdade é que aqueles que possuem um alto poder aquisitivo realmente têm mais facilidade para adquirir o que quiserem, como casas e carros luxuosos, por exemplo, mas não conseguem comprar um lar e uma família que os ame.
    É preciso reconhecer que o dinheiro é realmente um elemento importante em nossas vidas, afinal é através dele que temos acesso à alimentação, à moradia e podemos suprir mais uma infinidade de necessidades. Contudo, devemos sempre nos lembrar que, apesar de ser necessário, o dinheiro não é tudo e nunca será capaz de trazer felicidade e amor.
    Você no final da crônica dá a resposta que o dinheiro pode pode gerar na pessoa ambiciosa a vontade de ter uma maior quantidade porque o amor evaporou na fervura do tempo.

    Desejo um final de semana pleno de paz, saúde e alegria

    Aristeu

  6. Obrigada pelo generoso comentário, prezado Aristeu!

    Para as pessoas interesseiras, que cultuam o “vil metal”, o céu é o limite.
    Se não houver amor verdadeiro, as paixões violentas, depois de algum tempo, se transformam em fogo de palha.
    Com raras exceções, relações amorosas, entre pessoas de níveis social e financeiro muito distantes, escondem algum interesse.

    No caso de Jorgete, que trocou o primeiro marido por Vilton, empresário rico, que lhe devotava amor e luxo, ela ainda achava pouco. E ao ouvir o seu desabafo, sobre a insegurança que sentia ao seu lado, por causa do seu passado, sua índole interesseira foi aguçada. E ela passou a procurar um homem mais rico.

    Um final de semana, com muita paz, saúde e alegria para você também!

    Violante

  7. Excelente história, Violante;

    Pelo andar da carruagem o “amorcímetro” da Jeorgete era medido conforme os cifrões.

    Pobre Vilton: O preço do tormento é sua companhia.
    Pobre Jeorgete: Mal sabe ela que o leilão da vida, dá lances inesperados e pode arrematar sonhos antes de cada batida do martelo do leiloeiro..

    Certamente, o amadurecimento vai dando formas ao pensamento e a vida, equilibrando as coisas.

    Este deve ser o cuidado e a esperança do Vilton, antes que outro aventureiro lance mão de melhor oferta no insondável mercado do coração.

    Parabéns!!!

  8. Obrigada pelo comentário gentil, prezado Marcos André!

    Jorgete, ciente da sua beleza, se achava apta a galgar o patamar da glória, sem pensar que juventude e beleza tem prazo de validade.
    O sonho que perseguia, de conquistar um homem ainda mais rico do que Vilton, cuja paixão violenta que sentia por ela havia se transformado em amor verdadeiro, era uma prova de leviandade sem limite. Mesmo assim, ela persistia no seu intento , correndo o risco de “quebrar a cara”,

    Grande abraço, amigo! Um excelente domingo!

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