JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Zumbi dos Palmares nasceu, supostamente, em 1655 na Serra da Barriga, Capitania de Pernambuco, pertencente hoje ao município de União dos Palmares, Alagoas. A história deste personagem é controversa, mas existe um consenso em se admitir que era neto da princesa Aqualtune, filha de um rei africano do Congo. Aos sete anos foi aprisionado pela expedição de Brás da Rocha Cardoso, numa invasão a Serra da Barriga, e entregue ao padre Antonio Melo, do distrito de Porto Calvo. Recebeu o nome de Francisco e uma educação formal. Aos 10 anos já sabia latim e português; demonstrava ser um garoto inteligente e ajudava na celebração das missas. Porém, diz-se também que isso não passa de lenda, uma vez que temos poucos registros na história da época.

Aos 15 anos, Francisco fugiu de Porto Calvo e volta para a Serra da Barriga, adotando o nome de Zumbi e passando a fazer parte da Família Real, pois foi adotado pelo então rei Ganga Zumba. A nação palmarina começou a se formar por volta de 1597, com Aqualtune. Rapidamente a comunidade cresceu, pois era constantemente alimentada pela chegada de negros fugidos, índios e brancos pobres. O Quilombo de Palmares chegou a ter 30 mil habitantes e, com sua organização e consequente fortalecimento, passou a ser visto como uma ameaça perigosa ao poder colonial. Além de praticarem uma agricultura considerada avançada para os padrões da época, desenvolveram uma atividade metalúrgica organizada para sua defesa e subsistência e chegaram a estabelecer comércio com localidades próximas.

Entre 1602 e 1694, os palmarinos resistiram a 66 expedições coloniais, tanto de portugueses como de holandeses. Foi a maior e mais longa expressão contestatória da escravidão em todo o mundo. De todos os líderes da resistência negra, dois se tornaram conhecidos: Ganga Zumba e Zumbi. Este, porém, foi o líder mais famoso da confederação de quilombos de Palmares, que se estendia pelos territórios atuais de Alagoas e Pernambuco. A Serra da Barriga era a sede da República de Palmares, mas sua extensão ia além da cidade hoje conhecida como União dos Palmares. Zumbi teve pelo menos cinco filhos, mas não há registro histórico suficiente para comprovar a tese tradicional que ele teria se casado com uma mulher branca de nome Maria. O nome de Zumbi apareceu pela primeira vez em documentos portugueses, em 1673, quando uma expedição chefiada por Jácome Bezerra foi desbaratada. Tornou-se um grande guerreiro e estrategista militar na luta para defender Palmares contra os portugueses.

Em 1675, a tropa portuguesa comandada pelo Sargento-mor Manuel Lopes Galvão, conseguiu ocupar o local, um mocambo com mais de mil choupanas. Mas depois de uma retirada que durou cinco meses, os negros contra-atacam, entre eles Zumbi com apenas vinte anos de idade, e após um combate feroz, Manuel Lopes é obrigado a se retirar para Recife. Palmares se estendia então da margem esquerda do São Francisco até o Cabo de Santo Agostinho e tinha mais de duzentos quilômetros de extensão, era uma república com uma rede de onze mocambos, que se assemelhavam as cidades muradas medievais da Europa, mas no lugar das pedras havia paliçadas de madeira. O principal mocambo, o que foi fundado pelo primeiro grupo de escravos foragidos, ficava na Serra da Barriga e levava o nome de Cerca do Macaco. O local contava com duas ruas espaçosas com umas 1500 choupanas e uns oito mil habitantes.

Ganga Zumba, cansado de muitas guerras, assinou um acordo de paz com os portugueses, em 1678. Isso desagradou uma parte significativa dos quilombolas, que viam a transferência para Cucaú como uma forma de controlar a comunidade, além de não resolver o problema da escravidão. Devido a esse acordo, Zumbi rompeu com Ganga Zumba, que foi envenenado em 1680, sendo aclamado Grande Chefe. Subordinou toda a vida do quilombo em função das exigências da guerra: deslocou povoações para locais mais remotos; incorporou e treinou para a luta todos os homens sadios; aumentou os postos de vigilância e observação; reuniu armas e munições e reforçou as fortificações da aldeia do Macaco ou Cerco Real, o quartel-general do quilombo, tornando-a quase inexpugnável e decretou a lei marcial: quem tentasse deserdar seria morto.

Durante os anos 1680-1691, Zumbi conseguiu derrotar todas as expedições enviadas contra o quilombo dos Palmares. Em 1692, a aldeia do Macaco foi atacada por Domingos Jorge Velho, experiente bandeirante paulista na “caça” de índios, trazido para enfrentar os quilombolas. Mas teve suas tropas arrasadas. Pediu reforço e recebeu ajuda de uma tropa comandada por Bernardo Viera de Melo. O quilombo ficou sitiado, mas só capitulou no dia 6 de fevereiro de 1694, quando as tropas conseguiram invadir o local derrotando os quilombolas após 94 anos de resistência. Durante o ataque, Zumbi caiu ferido em um desfiladeiro, o que gerou o mito de que o herói se suicidara para evitar a escravização. No entanto, em 1695, Zumbi voltou a comandar ataques. Em seguida foi traído por um de seus comandantes, Antônio Soares, e assassinado em 20 de novembro de 1695.

A cabeça de Zumbi foi decepada e levada para Olinda, onde foi pendurada no Pátio do Carmo, até sua total decomposição, afim de desfazer a crença na lenda de sua imortalidade. Em 2007 foi criado o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, no mesmo local da sede do Quilombo (Serra da Barriga), na cidade de União dos Palmares, Alagoas. Além deste memorial, existem mais dois dedicados a Zumbi dos Palmares: Volta Redonda (RJ) e Teresina (PI). Atualmente, no dia da sua morte, 20 de novembro, é comemorado no Brasil o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. A data foi criada com a lei nº 12.519, de 10/11/2011 e é feriado oficial em diversas cidades.

Há uma grande bibliografia sobre Zumbi e o Quilombo de Palmares, nem sempre convergentes no enfoque. Laurentino Gomes, que lançou o 1º volume da trilogia Escravidão (2019) afirmou que alguns historiadores duvidam da existência de uma única pessoa chamada Zumbi. Acham que haviam mais de um zumbi ao longo da história do Quilombo e que aquele morto em 1695, foi o último deles. Outros livros relevantes: O Quilombo de Palmares (1966), de Edison Carneiro; Zumbi dos Palmares: a história do Brasil que não foi contada (1988), de Eduardo Fonseca Jr.; Cidadania no Brasil: o longo caminho, 3ª ed. (2002), de José Murilo de Carvalho; De olho em Zumbi dos Palmares: história, símbolos e memória social (2011), de Flavio dos Santos Gomes. Por último, vale citar o livro Palmares, ontem e hoje (2005), de Pedro Paulo Funari (diretor do Projeto Arqueológico Palmares) e Aline Vieira de Carvalho. Numa ótima entrevista, publicada na “Revista História”, de novembro de 2009, os autores desmistificam algumas “verdades” sobre o Quilombo de Palmares e seu líder. Leia clicando aqui

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