JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Henrique Dias nasceu no Recife, PE, em princípios do século XVII. Negro liberto, mestre-de-campo, revolucionário, cavaleiro da Ordem de Cristo e um dos fundadores do Exército Brasileiro. Há pouca documentação sobre sua origem e as informações confiáveis aparecem somente em 1633, quando se apresentou ao general Matias de Albuquerque, como voluntário, para combater a “invasão holandesa” no Recife. Assim, tornou-se o capitão de uma tropa e recebeu a patente de governador dos negros e mulatos do Brasil.

Também não há retrato seu autêntico, conhecido. Os que aparecem nos compêndios de história e livros eruditos são pura fantasia. Segundo Osvaldo de Camargo, em seu livro O Negro Escrito (1987), é o primeiro negro que escreveu um texto no Brasil e, por conseguinte, “o primeiro afro-brasileiro letrado”. Combateu os holandeses em Pernambuco, Bahia, Alagoas e Rio Grande do Norte, não perdendo sequer uma batalha. Tomou parte, entre outras, nas batalhas das Tabocas, de Casa Forte, de Cunhaú e dos Guararapes. Sua primeira ação militar foi a defesa do Engenho São Sebastião, quando contou com a ajuda de vinte negros e de outros capitães, onde recebeu o primeiro dos seus 8 ferimentos lutando contra os holandeses. Num desses ferimentos perdeu a mão esquerda na batalha e continuou lutando com a direita.

Estabeleceu-se num local do Recife (atual bairro de Santo Antônio) próximo dos inimigos. Ficava tão perto dos holandeses que, às vezes, o duelo não era na bala e sim com palavras de desafio e injúria. De seu local realizou várias investidas importantes contra os batavos. Em 1635, quando os holandeses tomaram o Forte Bom Jesus, ele foi visto como escravo e não ficou entre os prisioneiros mais bem guardados. Fugiu e se reuniu às tropas pernambucanas que recuavam para o sul. Atuou na Bahia como capitão-do-mato e combateu quilombos. Passou a comandar um regimento de 500 negros; recebeu o título de fidalgo e o hábito da Ordem Militar de Cristo e recebia um soldo compatível com o posto de comandante. Enquanto isso, Maurício de Nassau consolidava a vitória em Pernambuco e governou por oito anos o “Brasil Holandês”.

Seu retorno à Holanda em 1644, precipitou a insurreição pernambucana. Os portugueses enviaram as tropas acantonadas na Bahia, incluindo a comandada por Henrique Dias. Seu batalhão, conhecido como “Terço da Gente Preta”, era composto de 500 negros escravos de origem africana e permaneceu em atividade como parte das tropas regulares de Pernambuco até meados do século XVIII. Em fevereiro de 1649, o coronel Van Den Brinck e seus 3500 homens receberam uma artilharia e a ordem para desalojar os pernambucanos dos montes Guararapes. Dias demonstrou excepcional bravura e o batalhão negro perseguiu os holandeses até os portões da cidade. O comandante português, Menezes, mal pode acreditar na vitória. Em dado momento da trégua de Portugal com a Holanda, D. João IV determinou que os insurreitos pernambucanos se encaminhassem à Bahia.

Antes que os holandeses comemorassem a retirada, receberam de Henrique Dias uma carta dizendo o seguinte: “Meus senhores holandeses, saibam Vossas Mercês que Pernambuco é minha Pátria, e que já não podemos sofrer tanta ausência dela. Aqui haveremos de perder as vidas, ou havemos de deitar a Vossas Mercês fora dela. E ainda que o Governador e Sua Majestade nos mandem retirar para a Bahia, primeiro que o façamos havemos de responder-lhes, e dar-lhes as razões que temos para não desistir desta guerra”. Com a expulsão dos holandeses, em 1654, Henrique Dias, ao contrário de outros militares combatentes, não recebeu as recompensas que lhe eram devidas, tendo que viajar a Portugal para requerer a remuneração atrasada dos seus serviços e foi recebido pelo rei Dom João IV. Na ocasião, pediu que seu regimento de negros fosse perpetuado. O rei concordou e mandou construir a cidade de Estância, perto de Recife, para os soldados.

Recebeu o título de governador dos crioulos, pretos e mulatos do Brasil, além da comenda dos Moinhos de Soure, da Ordem de Cristo. Passou seus últimos anos em Pernambuco em extrema pobreza e morreu em 8/6/1662, no Recife. Sua memória ficou registrada com o nome adotado pelos batalhões de Pretos que surgiram em várias capitanias após sua morte. Um século depois ainda estavam ativos dois corpos militares de homens de cor em Pernambuco. O de Pardos possuía 31 companhias e contava com 1.401 pessoas e o de Henrique Dias, exclusivamente formado por Pretos, que contava com 17 companhias formadas por 1.549 homens. Pela sua bravura, dedicação e liderança, foi escolhido, em 1992, patrono do então 28º Batalhão de Infantaria Blindada (28º BIB), atualmente, 28º Batalhão de Infantaria Leve (28º BIL) localizado em Campinas, São Paulo.

A Lei nº 12.701, de 6/8/2012, incluiu seu nome no Livro de Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Pátria, em Brasília. Não obstante o esquecimento a que foi relegado, mesmo no “movimento negro”, seu nome ainda denomina uma porção de logradouros e instituições no Brasil e, particularmente, em Pernambuco, como o “Grupo Escolar Henrique Dias”, em Garanhuns, onde conclui o curso primário.

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  1. A coluna sente-se honrada com a presença e apreciação de leitores qualificados como os mestres “Padre” José Paulo Cavalcanti Fº e Plínio Assmann.

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