JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Alberto Guerreiro Ramos nasceu em 13/9/1915, em Santo Amaro da Purificação, BA. Sociólogo, professor, advogado, jornalista e político. Destacado estudioso da questão social e racial, é segundo o fundador do Departamento de Sociologia da Universidade de Harvard, Pitirim Sorokin, um dos autores que mais contribuíram para o progresso da sociologia no mundo.

Após os primeiros estudos, no Ginásio do Estado, em Salvador, ganhou uma bolsa de estudos do governo para estudar na Universidade do Brasil (RJ), onde diplomou-se em ciências sociais em 1942 e em Direito no ano seguinte. Foi influenciado pelos intelectuais católicos franceses, sobretudo Jacques Maritain, com que teve ligações pessoais, e Emmanuel Mounier. A partir de 1944, passou a ser influenciado por Max Weber e se interessar pela teoria das organizações. Na área cultural, foi ligado ao Teatro Experimental do Negro-TEN, comandado por seu amigo Abdias do Nascimento, que lhe entregou a coordenação do departamento de estudos e pesquisas, denominado Instituto Nacional do Negro. Uma de suas atividades se deu com o “Seminário de Grupoterapia”, com base no psicodrama como um “espaço que possibilita catarse e reflexão das sequelas trazidas de um passado escravo, de uma vivência de ausência de um lugar, de uma identidade fragmentada”.

Assessorou o presidente Getúlio Vargas em seu 2º governo e pouco depois foi designado diretor do Departamento de Sociologia do ISEB-Instituto Superior de Estudos Brasileiros. O ISEB, com autonomia administrativa e plena liberdade de pesquisa e opinião, constituía-se num importante núcleo de formação da ideologia “nacional-desenvolvimentista”, que impregnou todo o sistema político no período 1954-1964. Ele foi um dos formuladores desta ideologia, junto com Hélio Jaguaribe, Candido Mendes de Almeida, Álvaro Vieira Pinto, Nelson Werneck Sodré etc. No ISEB, apoiou as propostas da CEPAL-Comissão Econômica para a América Latina, da ONU, e publicou 2 livros que se tornaram clássicos: Introdução crítica à sociologia brasileira (1957) e A redução sociológica (1958).

Em 1960 entrou na política partidária, participando do diretório nacional do PTB-Partido Trabalhista Brasileiro. Em 1961 foi Delegado do Brasil na XVI Assembleia Geral da ONU, na Comissão de Assuntos Econômicos. No ano seguinte candidatou-se a deputado federal na “Aliança Socialista Trabalhista”, formada pelo PTB e o PSB-Partido Socialista Brasileiro, quando obteve a 2ª suplência. Em seguida publicou o texto “Mito e verdade da revolução brasileira”, junto com seu manifesto ao PTB sugerindo que o partido renunciasse a “ideologia marxista-leninista”. Como jornalista, colaborou nos jornais “O Imparcial” (MG), “Última Hora”, “O Jornal” e “Diário de Notícias” (RJ). Seus artigos, analisando o marxismo, renderam-lhe viagens à URSS e China e diversas conferências internacionais.

De volta ao Brasil, escreveu uma série de artigos criticando o Partido Comunista, quando foi acusado de traidor e oportunista pelos colegas. Foi um dos primeiros intelectuais brasileiros a criticar Stalin. Desde meados da década de 1950 já era um pensador respeitável com livros publicados em espanhol. Foi professor da EBAP-Escola Brasileira de Administração Pública, da FGV, e ministrou cursos no DASP-Departamento de Administração do Serviço Público. Em 1955 deu aulas como professor-visitante da Universidade de Paris. Neste ano, foi publicado no México seu livro Sociologia de la mortalidade infantil, que impressionou o grande sociólogo russo Pitirim Sorokin.

No período de agosto de 1963 a abril de 1964, foi deputado federal e teve os direitos políticos cassados pelo golpe militar de 1964. Na ocasião foi acolhido por Luis Simões Lopes, presidente da FGV, como professor. Em 1966 recebeu um convite da USC-University of Southern California, onde passou a lecionar e só voltou ao Brasil algumas vezes como visitante. Em princípios da década de 1970 foi “visit-fellow” da Yale University e professor-visitante da Wesleyan University. Faleceu em Los angeles, em 7/4/1982, e deixou publicado alguns livros essenciais ao conhecimento de seu País: Sociologia industrial (1951), Cartilha brasileira do aprendiz de sociologia (1955), Introdução crítica à sociologia brasileira (1957), Condições sociais do poder nacional (1957), O problema nacional do Brasil (1960), A crise do poder no Brasil (1961), A redução sociológica (1964). Seu último livro – A nova ciência das organizações: uma reconceitualização da riqueza das nações (1981) – foi publicado pela Universidade de Toronto e só depois teve sua tradução publicada no Brasil.

Outro livro – Mito e realidade da revolução brasileira (1963) – ficou conhecido como “o livro proibido de Guerreiro Ramos”. Publicado no ano anterior ao golpe militar, foi incluído no “index” dos livros proibidos pela ditadura e só foi republicado em 2016 pela Editora Insular. Trata-se da exposição de sua tese sobre a necessidade de um caminho brasileiro para o socialismo, contrapondo-se à importação de modelos de revolução. Desse modo, foi um livro que desagradou tantos os militares golpistas como os políticos e intelectuais de esquerda, que ainda seguiam a cartilha dos comunistas soviéticos, através do Partido Comunista. Certamente, esta foi uma das razões para que o livro caísse no limbo da história.

Foi um sociólogo diferenciado, que não se via entre os intelectuais em discursões acadêmicas. Via-se como “um sociólogo em mangas de camisa”, como costumava dizer. Sua área de trabalho era a organização e administração pública, como indica sua vinculação a Fundação Getúlio Vargas. Em 2010, o Conselho Federal de Administração instituiu o “Prêmio Guerreiro Ramos de Gestão Pública”, concedido aos destacados gestores do ano. Em 2014 foi publicado, pela FGV numa edição bilingue, uma série de entrevistas de importantes professores e pesquisadores brasileiros (7) e norte-americanos (9) com depoimentos sobre a pessoa e seu legado: Guerreiro Ramos: coletânea de depoimentos, organizada por Bianor Cavalcanti, Yann Duzert e Eduardo Marques.

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