JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Joaquim da Silva Rabelo ou Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, após ordenar-se sacerdote aos 22 anos, nasceu no Recife, PE em 20/8/1779. Religioso, professor, jornalista, poeta e destacado líder revolucionário com participação na Revolução Pernambucana (1817) e mártir da Confederação do Equador (1824).

Filho de Francisca Maria Alexandrina de Siqueira e Domingos da Silva Rabelo, ingressou no Convento de Nossa Senhora do Carmo, onde foi noviço aos 17 anos. Após a ordenação, obteve autorização para cursar outras disciplinas no Seminário de Olinda e frequentar sua biblioteca, além da biblioteca dos Oratorianos, formando sua notável erudição. Aos 24 anos foi nomeado professor de Retórica, Geometria, Filosofia e Moral em seu Convento. Em seguida ingressou na Loja Maçônica Academia de Suassuna e na Loja Maçônica Academia do Paraíso, passando a postular ideais libertários.

Por esta época as ideias liberais em defesa da república fervilhavam nas colônias espanholas e, também no Brasil, em Pernambuco. Enquanto isso Portugal insistia com o regime monárquico com a Côrte Real instalada no Rio de Janeiro, em 1808. Para manter o fausto real foi preciso explorar mais os recursos da colônia. Nesse contexto Pernambuco era uma das províncias mais prósperas, cujos recursos eram desviados para manter o luxo e tudo o mais necessário à manutenção da família real. Tais ingredientes lançaram as bases da Revolução Pernambucana, em 6/3/1817.

Assim, foi proclamada a independência da Província, que deveria se estender por todo o País. Chegou a ter hino, bandeira e enviou o “embaixador” Cruz Cabugá aos EUA em busca de apoio à nascente república. Mas durou pouco e o movimento foi derrotado 72 dias depois. Segundo o historiador Evaldo Cabral de Mello, “a presença de Frei Caneca na insurreição só foi detectada ao final do levante, quando marchava para o sul da província a enfrentar as tropas do conde dos Arcos, ocasião em que, segundo a acusação, foi capitão de guerrilhas”, sob o comando do Coronel Suassuna.

Foi preso e enviado para Salvador; ficou detido por 4 anos; elaborou uma gramática da língua portuguesa e manteve aulas com os presos. Libertado em 1821, retornou à Pernambuco e voltou a se envolver com a política. Participou do “Movimento de Goiana”, contando com o apoio dos fazendeiros. Um exército de milícias marchou contra o Recife e chegou a expulsar os portugueses de Pernambuco, marcando o início da Guerra da Independência do Brasil. O episódio ficou conhecido como “Convenção de Beberibe”. Em setembro de 1821, a “Convenção” estabeleceu que as juntas do Recife e Goiana continuariam atuando nesta área e no mês seguinte foi realizada a eleição de uma Junta Provisória, instalando o primeiro governo autônomo da província. Frei Caneca apoiou esta primeira Junta Governativa de Pernambuco, presidida por Gervásio Pires Ferreira.

Em 1822, entusiasmado com a Junta, redigiu a “Dissertação sobre o que se deve entender por pátria do cidadão e deveres deste para com a mesma pátria”, visando dar uma base teórica ao movimento. No entanto, divergências internas levaram a deposição da Junta por um grupo de militares, em 23/9/1822, denominado “Junta dos matutos”, que se estendeu por um mês. Foi neste período que Frei Caneca iniciou sua participação mais ativa no movimento através de seu jornal, o Typhis Pernambucano, que se tornou a trincheira do movimento. Era um jornal semanal, destinado a divulgar os ideais revolucionários dos filósofos franceses do Iluminismo, como Rousseau e Montesquieu. O movimento tomou maior vulto em 1824, quando D. Pedro dissolveu a assembleia nacional constituinte e adotou uma nova constituição outorgada no Brasil. Frei Caneca foi chamado a opinar: “Esta constituição peca pelo principal, pois não garante a independência do Brasil com a determinação e a dignidade necessária, e deixa uma fisga para se aspirar a reunião com Portugal… Além do mais, é a Nação que escolhe a forma de governo, e Sua Majestade não tem comissão dos brasileiros para isso”. Também acusou D. Pedro de querer impor sua vontade pela força, e concluiu: “por todas estas razões, sou de voto que se não se adote e muito menos se jure este projeto”.

Foi o estopim para os líderes pernambucanos romperem definitivamente com o poder central, em 2/7/1824, e anunciar a formação de uma nova república, a Confederação do Equador. Era um projeto para o Brasil que tinha os EUA como modelo, ou seja, um conjunto de províncias autônomas, reunidas numa grande federação republicana. O apoio esperado das províncias do Norte e Nordeste e de outros países não prosperou e o movimento foi sufocado após muitos combates. Dom Pedro suspendeu as garantias constitucionais na província e amputou a comarca do São Francisco, incorporada ao território da Bahia, restringindo o tamanho da província pernambucana.

Recife sofreu um bloqueio naval; os canhões invadiram a cidade e em 12/9/1824 as tropas do Brigadeiro Lima e Silva ocuparam todo o território. Derrotado, Frei Caneca fugiu para o Ceará, mas logo foi preso e conduzido para o Recife, em 29/11/1824. Foram muitas as manifestações e petições de ordens religiosas para que não fosse executado. Foi acusado do crime de sedição e rebelião e condenado à morte por enforcamento, em 13/1/1825. Porém, três carrascos, sucessivamente, negaram-se a enforcá-lo. Assim, foi amarrado numa das hastes da forca e foi morto por fuzilamento diante dos muros do Forte das Cinco Pontas. Seu corpo foi deixado em frente ao Convento das Carmelitas e recolhido pelos padres que o enterraram num local até hoje não identificado. O muro frente ao qual foi fuzilado, continua de pé, marcado por um busto e uma placa alusiva, colocada em 1917.

Uma frase sintetiza sua importância na História: “Frei Caneca foi o principal pensador político do processo de emancipação do Brasil que se desenhou a partir de Pernambuco, saltando do convento para as trincheiras na Revolução de 1817 e na Confederação do Equador, de 1824”. Como biografia vale citar, entre muitas, a realizada por Frei Tito – Frei Caneca: vida e escritos – publicada em 2017 pela CEPE-Companhia Editora de Pernambuco e Obras políticas e literárias de frei Joaquim do Amor Divino Caneca, organizada por Antônio Joaquim de Melo e publicada pela Assembleia Legislativa de Pernambuco, em 1972.

O poeta João Cabral de Melo Neto descreveu seu último dia no drama poético O Auto do Frade e seu irmão, o historiador Evaldo Cabral de Mello, organizou e redigiu a introdução ao livro Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, incluído na Coleção Formadores do Brasil, da Editora 34, em 2001. Em seguida e pela mesma editora lançou o livro a Outra Independência: o federalismo pernambucano de 1817 a 1824, contando a história “na contramão da historiografia oficial”.

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