JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Raimundo de Farias Brito nasceu em São Benedito, CE, em 24/7/1862. Escritor, professor e destacado filósofo. Autor de uma das maiores obras filosóficas produzidas no Brasil. Realizou os primeiros estudos em Sobral. Porém, devido a seca, a família teve que mudar-se para Fortaleza, onde concluiu o curso secundário no Liceu do Ceará. Em seguida foi estudar no Recife, na Faculdade de Direito, tendo Tobias Barreto como professor. Diplomado em 1884, foi trabalhar como promotor e, por duas vezes, secretário no governo do Ceará.

Em 1889, mudou-se para Belém do Pará e lecionou na Faculdade de Direito até 1909, além de exercer a advocacia. Em seguida foi morar no Rio de Janeiro e passou a ocupar a cátedra de lógica no Colégio Pedro II. Na época, o Presidente da República escolhia o catedrático entre os dois primeiros colocados no concurso. O segundo colocado foi Euclides da Cunha, e foi nomeado devido a influência de amigos. Mas pouco depois foi assassinado, e Farias Brito assumiu o cargo, vindo a exercer o magistério pelo resto da vida. Faleceu em 16/1/1917.

Dotado de um espírito investigador e meditativo, tornou-se filósofo e espiritualista. Conforme Laudelino Freire “Nele, como em Platão havia duas feições primordiais: a investigação dos fenômenos do espírito e a inquirição das leis morais. Era o moralista antes de ser psicólogo, ou psicólogo para ser moralista”. Seu pensamento poderia ser resumido no seguinte: “Há pois a luz. Há a natureza e há a consciência. A natureza é Deus representando, a luz é Deus em sua essência e a consciência é Deus percebido”. Como se vê, ele inicia tendo Deus como um princípio que explica a natureza e serve de base ao mecanismo da ordem moral na sociedade. Costumava dizer “Se não sei o que sou, nem para que vim ao mundo, não posso saber uma norma de conduta.” Sua filosofia tinha como objetivo uma norma moral.

Foi o primeiro e, segundo alguns autores, talvez ainda hoje o único filósofo original do Brasil. Encarava seu estudo como uma missão social e costumava dizer: “Não me dirijo aos sábios, orgulhosos de seu saber positivo, mas aos que precisam de um ideal para a vida” Sua obra é composta de duas trilogias: Finalidade do mundo: A filosofia como atividade permanente do espírito humano (1895), A filosofia moderna (1899) e Evolução e relatividade (1905). Ensaios sobre a Filosofia do Espírito: A verdade como regra das ações (1905), A base física do espírito (1912) e O mundo interior (1914). Para ele, a filosofia não é apenas conhecimento abstrato; é também força social, força viva, capaz de exercer influência sobre a sociedade. E tal influência é real e decisiva, pois é da filosofia que nasce o sentimento moral. Faleceu em 16/1/1917, quando o estudo da fiolosofia ainda engatinhava no Brasil.

Para homenageá-lo, em 1953, o município de Quixará passou a ser denominado Farias Brito. Em Fortaleza, o tradicional Colégio São João passou a denominar-se Colégio Farias Brito, na década de 1990. Hoje é a Organização Educacional Farias Brito de Ensino, uma grande rede de ensino particular, atuando nos ensinos fundamental, médio e superior e, seguindo os ideais de seu patrono, ensina filosofia a partir da 1ª série do ensino fundamental, quando seus alunos aprendem filosofia antes mesmo de aprenderem a ler. É o patrono da cadeira nº 31 da Academia Cearense de Letras e foi, também, maçom filiado a Loja Porangaba, fundadora da Grande Loja Maçônica do Ceará.

Sua e obra e doutrina filosófica foi estudada por diversos autores: A formação filósofica de Farias Brito, de Laerte Ramos de Carvalho (Saraiva,1977); A metafísica de Farias Brito, de Vitorino Félix Sanson (Edcus, 1984); Farias Brito ou uma aventura do espírito, de Sylvio Rabello (José Olympio, 1941); Farias Brito e as origens do existencialismo no Brasil, de Aquiles Côrtes Guimarães (Tempo Brasileiro, 1979); As doutrinas políticas de Farias Brito, de Francisco Elias de Tejada (Leia, 1952); Farias Brito e a filosofia do espírito, de Alcantara Nogueira (Freitas Bastos, 1962 ); A ética e o direito em Farias Brito, de Paulo Condorcet (Liber Juris, 1995); A filosofia como atividade permanente em Farias Brito, de Thadeu Weber (La Salle, 1985); O pensamento de Farias Brito, de Carlos Lopes de Mattos (Herder, 1962).

Em termos biográficos, temos Farias Brito: o homem e a obra, de Jonathas Serrano, publicado pela Cia. Editora Nacional, em 1939, considerada uma obra clássica na área. Em 2008, Julio Filizola Neto defendeu tese de doutorado abordando o núcleo de seu pensamento e analisando as críticas vigentes: Farias Brito, um filósofo brasileiro: vida, pensamento e críticas historiográficas, apresentada na Faculdade de Educação da UFCE-Universidade Federal do Ceará e pode ser consultada clicando aqui.

6 pensou em “OS BRASILEIROS: Farias Brito

  1. Caro Alfredo – Não sei lhe dizer. Pode até ser, já que somos nordestinos, e britos têm por toda parte, mas nunca encontrei parentesco com o filósofo. Até gostaria de estar praticando o nepotismo com tão célebre parente.

  2. Mais um resgate sensacional para a série: OS BRASILEIROS, mestre Brito.

    Era mais um gênio brasileiro que eu desconhecia nas ciências humanas, que incorporou à filosofia no Direito, tornando-o mais questionador.

    Sim, porque o Direito está sempre em evolução e precisa constantemente de cérebros pensantes para evoluir.

    Parabéns mais uma vez, grande pesquisador.

    Os brasileiros sensíveis se orgulham de seu esforço em mostrar o que está nas entrelinhas do saber, porém desconhecidos.

  3. Grato Cícero pelo estímulo. Realmente quase ninguém se lembra mais do meu xará rsrsr. Com ele pode se dizer que no Brasil também tem filósofo

  4. Amigo, tenho publicado seus textos em meu Almanaque, com autorização, principalmente do fraterno Luiz Berto. Mas, desde janeiro deste ano, venho sofrendo seriíssimo problema no pé esquerdo, inclusive com internação em hospitalar, amputação de dedo, muito antibiótico, tratamento domiciliar e fisioterapia. Por isso, vejo-me impossibilitado de pescar assuntos em outros sites, como sempre fiz.
    Por isso, se você achar que devo continuar a publicar seus excelentes textos, que muito enriqueciam o Almanaque Raimundo Floriano, por favor, mande-os diretamente para mim, através do site abaixo.
    Obrigado!
    Deus conosco!
    raimundofloriano@raimundofloriano.com.br

    • Caro Floriano. Espero que recupere a saúde em breve, mas vou lhe mandar sim a coluna diretamente para seu site. Estou com problemas agora com meu e-mail mas logo retomarei. Abraços e boa sorte

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