JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Francisco de Paula Cândido Xavier nasceu em 3/4/1910, Em Pedro Leopoldo, MG. Médium, filantropo e reconhecido como o maior líder espírita, contribuiu para tornar o Brasil a pátria do Espiritismo no mundo. Criado numa família humilde de 8 irmãos, ficou órfão da mãe – Maria João de Deus- aos 5 anos. Sem condições de criar os filhos, o pai – João Cândido Xavier- distribuiu-os entre os parentes. Chico foi entregue à sua madrinha, que se mostrou bastante cruel com surras e garfos encravados na barriga, alegando que o “menino tinha o diabo no corpo”. Nesse período já manifestava mediunidade de vidência e teve momentos de consolo em conversas com o espírito de sua mãe católica, que recomendava paciência, resignação e fé.

O pai se casou de novo e a família voltou a se reunir. Na escola escreveu redação para concurso comemorando o centenário da Independência, em 1922, e ganhou menção honrosa. Valeria muito agora sabermos como Chico faria outra redação agora no bicentenário da Independência. Em 2022. As pessoa que têm contato com ele, bem poderiam lhe pedir uma “redação”. Concluiu o curso primário em 1924 e nunca mais frequentou escola. Ainda criança trabalhou em diversas atividades no comércio e continuou tendo visões e comunicações espirituais O pai, não sabendo lidar com o “caso”, encaminhou-o ao pároco, que se tornou conselheiro na solução dos “problemas”, reforçando seu catolicismo. Porém, sem abdicar da religião católica, as visões/comunicações solidificaram o caráter espírita das comunicações mediúnicas.

Em 1927 passou a ler e estudar Kardec e logo fundou o Centro Espírita Luiz Gonzaga. Por essa época começaram a se manifestar alguns poetas da língua portuguesa. No ano seguinte tais poemas foram publicados n’O Jornal, do Rio de Janeiro, e Almanaque de Notícias, de Portugal. Em 1930 prestou concurso e ingressou no serviço público federal como auxiliar de escrevente no Ministério da Agricultura. Em 1931 encontrou seu mentor espiritual Emmanuel, que o informou de sua missão: publicar uma série de 30 livros e que para isso lhe seriam exigidas 3 condições: disciplina, disciplina e disciplina. Em seguida publicou o primeiro livro: Parnaso de além túmulo (1932) pela FEB-Federação Espírita Brasileira. A coletânea de poemas ditados por grandes autores brasileiros e portugueses causou grande repercussão na imprensa e opinião pública.

Na introdução do livro, deixou claro suas intenções: “Não venho ao campo da publicidade para fazer um nome, porque a dor há muito já me convenceu da inutilidade das bagatelas que ainda são estimadas neste mundo”. A partir daí sua fama atravessou fronteiras. O presidente da FEESP-Federação Espírita do Estado de São Paulo, Teodoro Sacco, contou que ele recusou oferta da União soviética, em 1938, interessada em fazer uma conotação do aspecto social da doutrina espírita ao aspecto socializante do marxismo. Ele ficaria lá durante 6 meses e seria remunerado com 500 mil contos de réis, uma fortuna na época. Chico consultou Emmanuel e a resposta foi sucinta: “Se você quiser pode ir, mas eu vou ficar por aqui”. Receber propostas e ajudas foi uma constante em sua vida. Em fins da década de 1940 recebeu vultosa quantia (repassada à FEB para uso caritativo) do empresário Fred Figner, fundador da Casa Edison, pioneiro das gravações de música no Brasil, com o qual manteve amizade. Em 1949, Chico psicografou o livro “Voltei”, ditado pelo “Irmão Jacob”, o espírito de Figner, falecido em 1948. O livro teve várias reedições.

Uma de suas psicografias foi parar nos tribunais e resultou no livro Psicografia perante os tribunais, do advogado Miguel Timponi. Em 1937 publicou o livro Crônicas de além-túmulo, ditado pelo espírito de Humberto de Campos, sem problema algum com a família do escritor. No ano seguinte publicou Brasil: coração do mundo, pátria do evangelho, ditado pelo mesmo autor, numa tiragem de 200 mil exemplares. O sucesso de vendas aguçou o interesse da família em receber os direitos autorais, levando o caso para a Justiça. Após muita discussão jurídica ficou decidido que não cabia ao tribunal se pronunciar sobre a existência ou não da mediunidade. Para concluir, alegou uma obviedade: os direitos autorais só têm validade para as obras escritas pelo autor em vida. Após esse quiproquó, publicou mais alguns livros ditados pelo autor, que passou a se chamar apenas “Irmão X”.

Vale ressaltar que ele foi o “autor” brasileiro de maior sucesso comercial da história com quase 500 títulos publicados, alguns deles traduzidos em diversos idiomas. São mais de 50 milhões de exemplares vendidos, sobre os quais não tinha direito autoral, pois ele não era o autor, reiterava. Tais direitos foram cedidos, em cartório, e encaminhados para cerca de 2 mil instituições de caridade. Em 1943 foi publicado o mais vendido: Nosso Lar, o primeiro de uma série, ditados pelo espírito do médico André Luiz, um clássico da literatura espírita com mais de 2 milhões de exemplares É também o espírito mais conhecido “recebido” pelo médium e um divisor de águas em sua vida. Devido ao fato de ter sido médico em vida, suas obras tratam da saude humana, explicitando mecanismos e reflexões sobre as causas das doenças, fazendo com que a Ciência fosse mobilizada para verificar a veracidade das informações. O resultado da investigação foi publicado na revista “Neuroendocrinology Letters” vol. 34(8):745-755, 2013. Os 5 autores do artigo compararam o conhecimento médico recente com 12 obras de André Luiz, identificando nelas várias informações corretas altamente complexas sobre a fisiologia da glândula pineal, que só puderam ser confirmadas cientificamente cerca de 60 anos após a publicação das obras. Os cientistas ressaltaram que o fato de o médium possuir baixa escolaridade e não ter envolvimento no campo da saúde levanta questões profundas sobre as obras serem ou não fruto de comunicação espiritual.

A vidência do médium suscitou também casos engraçados, como o ocorrido com os repórteres David Nasser e Jean Manzon, em 1944, numa reportagem para a revista “O Cruzeiro”. Fingindo serem estrangeiros e com nomes falsos, foram entrevistar e testar se Chico era ou não um farsante. Foram bem atendidos e receberam, de presente, dois livros com dedicatória, que nem repararam. Ao chegarem em casa, Manzon telefonou para Nasser: “Você já viu o livro que o Chico nos deu?”. Foi ver a dedicatória: “Ao meu irmão David Nasser, de Emmanuel”. O mesmo foi escrito no livro dedicado à Jean Manzon. Em 1959 mudou-se para Uberaba, MG, onde passou a atender no centro “Comunhão Espírita Cristã” até 1975, quando fundou o “Grupo Espírita da Prece”. Por essa época conheceu o médium e médico Waldo Vieira, com quem estabeleceu parceria na publicação de 17 livros. Em 1965 os dois viajaram para Washiinton, EUA, afim de diulgar o espiritismo. Auxiliados pelo presidente do “Christian Spirit Center”, Salim Salomão Haddad, estudaram inglês e lançaram o livro The word of the spirits (tradução de Ideal espírita).

Na década de 1970 seu nome já era conhecido em todo o território nacional. A fama foi alavancada com uma entrevista ao vivo na TV Tupi, em 28/7/1971, no programa “Pinga-Fogo”, com diversos jornalistas e estudiosos, muitos deles, não adeptos do espiritismo. O programa, famoso pelo teor de inquirição feita aos entrevistados, teve a maior audiência na história da TV brasileira, obrigando a emissora a continuar a entrevista noutro programa em 21/12/1971. Nesta época sua saúde, já prejudicada com problemas no pulmão, passou a sofrer de angina. Na década seguinte, com mais de 10 mil cartas psicografadas, recebia todos que vinham em caravanas de todos os cantos do País e do exterior para ter notícias de seus parentes falecidos. Algumas destas cartas desvendaram crimes cometidos e foram aceitas como provas judiciais, livrando inocentes da prisão.

Com sua simplicidade e altruísmo tornou-se mitificado em vida. Em 1981 e 1982 foi indicado para receber o Prêmio Nobel da Paz através de uma lista encabeçada por Augusto César Vanucci, então diretor da Rede Globo, contando com a adesão de 2 milhões de assinaturas. Mesmo doente do pulmão, agravado com a angina, viveu até os 92 anos e faleceu em 30/6/2002. Costumava dizer que iria “desencarnar” num dia alegre em que o País estivesse em festa para que não sentissem sua partida. De fato, o País estava em ebulição naquele dia com a conquista da Copa do Mundo. Faleceu 9 horas após o Brasil vencer a Alemanha num placar de 2 x 0, tornando-se pentacampeão mundial de futebol. Mesmo assim, 120 mil pessoas não comemoraram o título e foram ao seu velório em Uberaba.

Foi homenageado em vida e pós-morte em diversas ocasiões. Recebeu título de cidadão honorário de mais de 100 cidades. Em 1999, o Governo de Minas Gerais instituiu a “Comenda da Paz Chico Xavier”, outorgada anualmente aos que trabalham pela paz e pelo bem estar social. As casas onde morou foram transformadas em museus. Em 2006, numa votação popular através da revista Época, foi eleito o “O Maior Brasileiro da História“. Em 2009, a rodovia BR 050 recebeu seu nome. Em 2010, ano do seu centenário, recebeu selo e cartão postal dos Correios; a Casa da Moeda do Brasil lançou “Medalha Comemorativa”; a Câmara dos Deputados realizou sessão solene; foi lançado “Chico Xavier – O Filme”, baseado na biografia As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior. Em 2016, a Prefeitura de Uberaba criou o “Memorial Chico Xavier”, aberto a visitação publica. Trata-se de um prédio com galerias de exposição, biblioteca, auditório e praças contemplativas.

16 pensou em “OS BRASILEIROS: Chico Xavier

  1. A obra de Chico é ímpar. Os ensinamentos que ele deixou estão cravados na consciência de que o escutou. O Homem Bom, de Roberto Carlos

  2. Prezado Amigo Brito

    Depois de ler várias vezes o seu excelente artigo, resolvi escrever algumas
    linhas de comentários, sobre o que eu lí, conheci, estudei, e tomei conhecimento
    sobre a gigantesca obra do nosso querido Chico Xavier.

    Falar sobre a grandeza da alma de Chico Xavier é como dizer que Deus está no céu e também em todos os corações na terra, mesmo daqueles que não crêem na magnitude divina, é incontestável.

    Acredito que Deus enviou o Chico à terra para melhorar e atenuar o nosso Carma, nesta época tão violenta e sem controle, necessitando de uma grande alma que nos fizesse ver a necessidade de compreendermos a grandeza divina e assim amainar um pouco a nossa deslavada estupidez, já que a vinda de um de seus filho ilustre e santo foi recebida com contestações, açoites, traições e foi pregado na indigna cruz, pecado pelo qual estamos pagando à séculos e não vemos final de como abrandar, pois a natureza do homem, com raríssimas exceções é violenta por natureza, sem a desculpa dos animais ditos selvagens .

    Lí tudo que me caiu às mãos da obra escrita pelo Chico. Frequentei durantre anos a Associação Espirita no Rio e tive a oportunidade de conhecer um pouco da vida e da obra do grande apóstolo que sempre foi guiado pelo espirito de Luz do seu mentor Emmanuel

    Desde criança o Chico era só bondade e amor à Deus. Jamais se rebelava , mesmo quando maltratado pela sua madrinha que lhe aplicava surras por ele ser ” anormal vendo coisas” que não existem. Fazia com que ele lambesse as feridas dos seus filhos. O Chico não se revoltava e obedecia com humildade.

    Não lí todos os seus livros, mas a maioria deles e posso afirmar com convicção que são obras de amor à Deus e de consolo espiritual.
    Todos os 12 livros escritos em parceria com o medium Waldo Vieira sobre André Luiz, foram feitos por capítulos, sendo um escrito pelo Chico e o outro pelo Waldo à distância , e são perfeitos.

    Dos mais de 50 milhões de livros publicados, o Chico não recebeu um único centavo, tendo sido doado para caridade, todos os direitos autorais.

    De todos os livros do Chico, considero imperdível o livro ” NOSSO LAR ” , o qual já li uma dezena de vezes. (agora também o filme ) e o livro ” VOLTEI ‘ que foi ditado pelo espírito de FRED FIGNER, o qual foi fundador e proprietário da loja “CASA EDSON”, pioneira nas gravações de músicas e instrumentos musicais, partituras etc. O livro fez tanto sucesso que a família do Fred Figner proibiu que nos livros constasse o nome do autor. Por isso o Chico passou a usar o nome
    de ” Irmão Jacob ” já que o Fred Figner não era brasileiro. Visitei muitas vezes a CASA EDSON na Rua da Carioca, no centro do RJ, que na época vendia discos de 78 r.p.m. e também porque tinha amigos que trabalhavam lá há muitos anos.

    Do início até o seu último dia de vida, o nosso Chico sempre demonstrou e praticou a humildade e nunca teve interesses monetários, morreu paupérrimo como viveu e não deixou nenhum imóvel, carros ostensivos, etc. Sua vida foi um exemplo de desprendimento, absoluta falta der ambição e muita humildade. Todas as pessoas que estiveram com o Chico, sempre afirmam que da sua presença emanava uma aura de paz, quietude , amor e sabedoria. Sempre foi muito paciente e nunca negou a sua assistência aos necessitados.

    Como espírita kardekiano , não acredito em santos, porque creio que Deus não deu á Igreja Católica ou a qualquer outra, nenhuma procuração para eleger ou nomear como santo qualquer ser humano. Porém creio como estudioso do espiritimo e do budismo, que existem grandes espiritos de luz, de tamanha grandeza que somos incapazes de avaliar o seu grau de pureza e divindade, espíritos como FRANCISCO DE ASSSIS, FRANCISCO DE PAULA, BUDA ETC.. e acredito que o nosso Chico
    está lá nas alturas com grande destaque entre aqueles seres que deixaram seu rastro de luz na terra e hoje como amanhã, permanecerá iluminado com sua aura de amor ao nosso BRASIL, que foi por ele muito amado em contrapartida foi também muitíssimo amado pelo povo brasileiro.

  3. Pois é Mauricio ……!!!!

    Não só os ensinamentos que ele nos deixou mas, e sempre existe um mas, o EXEMPLO de VIDA, dignificante, eloquente que ele nos mostrou.

    Falar é fácil, fazer é muito, muito, mas muito mais difícil …….., e ele fez ….

    E mocionante ……. Que ser humano ….!!!!

  4. Todos os adjetivos dirigidos ao nosso Chico Xavier são poucos diante de sua grandeza. Mas, quem sabe ainda poderíamos ver algo mais esclarecedor do colega ilustre colunista Fernando Gonçalves, um “especialista” no assunto. Aguardemos. .

  5. Caríssimo Brito:
    Suas linhas revelam a dignidade comportamental do saudoso irmão Chico Xavier, exemplo para todos nós. Parabéns efusivos. Parabéns grandões!!

    • Grato Mestre Fernando

      pelo estímulo em continuar com o memorial dos grandes brasileiros.
      Me animo agora em prosseguir lembrando dos “santos” que temos.

  6. Não conheci o homem, mas (benedicto mas), como estudioso das religiões, li toda a obra. O que tenho a dizer? UM SER DE LUZ. Um dos grandes, uma lanterna a iluminar o caminho de tanta gente.

    Em tempo: Sancho é católico, mas (inspirador mas), enxerga. E, por enxergar, vê que não só na Bíblia existem profetas.

  7. Caro fiel escudeiro.
    Pode estar certo. Você vê com os olhos de Miguel de Cervantes, que vê longe e claro como o sol do meio-dia, e do dia inteiro também

  8. Simplesmente impagável seu comentário D. Matt., caríssimo comentarista do coração e parceiro em alguns artigos de filme de faroeste publicados aqui no JBF, assunto que o estimado amigo domina como pouco.

    Sinto-me horando em ler qualquer comentário seu publicado nesse espaço democrático que é o JBF, sobretudo por ter sido feito em reconhecimento à memória de um dos mais notáveis brasileiros de todos os tempos.

    Abração, grande mestre.

  9. Tocante, comovente, emocionante e impagável artigo, mestre Brito, sobre a trajetória humanista deste que foi um dos homens mais iluminados do Brasil e do mundo.

    Chico Xavier foi o nosso Mahatma Gandhi.

  10. Caro Cícero
    Disse lá atrás que todos os adjetivos dirigidos ao Chico são poucos diante de sua grandeza e mantenho a palavra.
    Porém, os adjetivos que você usou para se referir ao texto: “tocante, comovente, emocionante e impagável” me deixou ancho pra caramba.
    Você é o cabra!!!

    .

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