JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

Ary Evangelista Barroso nasceu em 7/11/1903, em Ubá, MG. Compositor, pianista, cronista, jornalista, radialista e autor de Aquarela do Brasil, uma das músicas mais gravadas no País, que deu origem ao chamado “samba-exaltação”. Foi um grande revelador e incentivador de talentos musicais.

Filho de Angelina de Resende e do promotor público João Evangelista Barroso, perdeu os pais logo cedo e foi criado pela avó materna e pela tia Ritinha, com quem aprendeu a tocar piano, solfejo e teoria musical. Teve os primeiros estudos em sua cidade natal, Viçosa e Cataguases. Aos 12 anos iniciou como pianista auxiliar no Cinema Ideal, em Ubá, e aos 15 compôs o cateretê De longe e a marcha Ubaenses gloriosos.

Em 1920 faleceu o tio Sabino Barroso, ex-ministro da Fazenda, e recebeu uma gorda herança de 40 contos de réis. No mesmo ano mudou-se para o Rio de Janeiro, onde foi viver sob a tutela do Dr. Carlos Peixoto. Ingressou na Faculdade de Direito aos 18 anos; conheceu e fez amizade com diversos futuros radialistas, juristas, políticos, artistas e caiu na boemia. Assim, foi reprovado no 2º ano e abandonou o curso. Logo, torrou o dinheiro da herança e teve que se empregar como pianista de cinema, teatro e diversas orquestras da cidade.

Sem largar o piano, retomou o curso de Direito, concluído em 1929. Nesse meio tempo, tocou em diversas orquestras e passou a compor: Amor de mulato, Cachorro quente e Oh! Nina em parceria com Lamartine Babo. Junto com Mario Reis compôs Vou à Penha e Vamos de deixar de intimidades, seu primeiro sucesso. No ano seguinte venceu o Grande Concurso de Música Popular, promovido pela Casa Edison e o jornal Correio da Manhã, com a marchinha Dá nela e ganhou 5 contos de réis. Aproveitou o prêmio para casar-se com Ivone Belfort de Arantes, em 1930. Pouco depois foi trabalhar na Rádio Phillips como pianista, mas logo se torna, também, locutor esportivo, humorista e animador.

Em São Paulo, comandou o programa “Hora H”, na Rádio Cosmos, logo transferido para a Rádio Cruzeiro do Sul, no Rio de Janeiro. Na mesma Rádio foi substituir um colega como locutor esportivo e empolgou a torcida. Flamenguista fanático, irradiava o jogo ao mesmo tempo em que torcia ostensivamente, comemorando os gols de seu time ou lamentando os gols do adversário. Em 1937 lançou o programa “Calouros em desfile”, onde obrigava os candidatos a só cantarem músicas brasileiras. O sucesso do programa levou-o à grande Rádio Tupi.

Outras gravações vão surgindo até o grande sucesso Aquarela do Brasil, gravada por Francisco Alves em 1939 com arranjos e acompanhamento de Radamés Gnattali, regravada centenas vezes aqui e no exterior. Até hoje é uma das músicas que mais produz direitos autorais ne exterior. Nos EUA foi interpretada por Frank Sinatra e Bing Crosby, cujo sucesso rendeu-lhe um contrato para trabalhar em Hollywood. Compôs a trilha sonora do filme Você já foi à Bahia?, dirigido por Walt Disney e foi premiado pela Academia de Ciências e Artes Cinematográficas, em 1944. No ano seguinte compôs a trilha sonora para a comédia musical Brazil, dirigida por Joseph Santley, indicada ao “Oscar” de 1945. Como compositor, deixou diversas músicas clássicas do cancioneiro popular: No rancho fundo (1931), Na batucada da vida (1934), No tabuleiro da baiana (1936), Na baixa do sapateiro (1938), Camisa amarela (1930), Os quindins de Yayá (1941), Risque (1952), É luxo só (1957) etc. Nas décadas de 1940 1950 tornou-se o compositor mais gravado por Carmen Miranda.

Motivado pelos amigos, ingressou na política, em 1946, e foi o vereador mais votado do Rio de Janeiro, pela UDN-União Democrática Nacional. As duas causas em que mais atuou foi a construção do Estádio Maracanã e a defesa do direito autoral. Era dotado de excepcional senso de humor. Quando foi internado no hospital, diagnosticado com cirrose hepática que o vitimaria, ligou para seu amigo David Nasser, despedindo-se porque ia morrer. Nasser perguntou: “Como você sabe?”. “É que estão tocando muito minhas músicas no rádio”, respondeu tranquilo. Realmente, faleceu em 9/2/1964, num domingo de carnaval.

Segundo os críticos, Ary Barroso celebra a invenção da brasilidade mestiça da Era Vargas, quando o samba, a mulata, a ginga e a natureza tropical passam a traduzir as cores da nação. Foi homenageado pela Escola de Samba União da Ilha do Governador, em 1988, com o enredo “Aquarilha do Brasil”, contando sua história. No ano de seu centenário (2003), a Rede STV SESC SENAC produziu o documentário O Brasil Brasileiro de Ary Barroso, dirigido por Dimas Oliveira Jr., com depoimentos de diversos amigos. Sergio Cabral pesquisou sua vida e escreveu uma bela biografia – No tempo de Ary Barroso – publicada pela Lumiar Editora. Os interessados numa visão panorâmica de seu legado, podem consultar seu site oficial na Internet Ary Barroso : Vida

15 pensou em “OS BRASILEIROS: Ary Barroso

  1. Ary Barroso foi um compositor que exaltava as belezas do Brasil em suas canções.

    Aquarela do Brasil foi considerada em uma votação no “Fantástico” da Globo 22 anos atrás a melhor canção do século XX, ganhando de Carinhoso (Pixinguinha – 2º lugar) e Garota de Ipanema (Tom e Vinícius – 3º). É a música brasileira mais conhecida lá fora e quando começam os acordes todos lembram de um Brasil bonito. É o nosso Hino popular.

    Ari não se rendeu ao comunismo ou ao elitismo, o que era muito comum nos artistas contemporâneos seus.

    Só por Aquarela do Brasil merece o título de melhor compositor brasileiro de todos os tempos.

  2. Obrigado, Brito.

    Bonita homenagem à Ary Barroso, que podemos imaginar seja “inesquecível”.
    Abraço,
    Airton

  3. João Francisco

    Você fez uma boa síntese do compositor, músico, animador, radialista, político… Ary Barroso. Não se encontra entre os interpretes do Brasil, como Paulo Prado, Gilberto Freyre, Antonio Cândido…. Porém é um de seus principais formuladores. “Aquarela do Brasil” ´´é um de seus “quadros” mais representativos.

    • Caro João Francisco

      Estás coberto de razão. Em termos acadêmicos Ary Barroso não se encontra entre os interpretes do Brasil ao lado de Paulo Prado, Gilberto Freyre, Antonio Cândido….
      Porém, em termos reais, é seu principal interprete. Não por acaso seu “quadro” pintado e sua “quadra” cantada chama-se ‘Aquarela do Brasil”

      • Caro Brito, o que eu sempre digo é que no Brasil se formou desde o início do século passado uma “elite intelectual” que tentou moldar o Brasil em suas regras na cultura e nas ciências.

        Quem não pagasse pedágios a esta elite estaria fora da “academia”. Então gente como Ary teve que vencer, assim como muitos outros artistas, pela força popular.

        Este domínio elitista de nossa cultura nos custou muito caro. Nunca tivemos um Nobel de Literatura bem como nas ciências, ou um Oscar no cinema. É verdade que a língua portuguesa (que tem diferentes versões em cada país que a fala) atrapalha um pouco na divulgação da nossa cultura popular, que é riquíssima.

        A meu ver estas elites sequestraram a cultura, as ciências e sempre viveram de benesses do estado.

  4. Caro João Francisco

    Fizeste uma boa síntese do compositor, animador, músico, político… Ary Barroso, Não está na galeria dos interpretes do Brasil, como Gilberto Freyre, Paulo Prado ou Florestan Fernandes mas certamente é um de seus formuladores

  5. Faltou só um final divertido. Percebendo que iria morrer, Barroso deixou escrito sua última vontade. De que, na sua lápide, fosse escrito “ Aqui jaz um homem que odiava jazz “ . E a mulher não atendeu/ é danado. Pobre do Ary Barroso.

  6. Mestre Brito, o homem das minibiografias,

    Um dos episódios mais interessante do mestre Ary Barroso, que comprova a sua genialidade e capacidade ímpar para descobrir talento, foi quando se apresentou no seu programa de calouros da Tupy a adolescente sapeca Elza Soares, que não tinha papa na língua.

    Perguntada por Ary Barroso de qual planeta ela teria vindo quando se apresentou, respondeu, isso aos 13 anos:

    Ao se deparar com aquela menina de aspecto frágil, o apresentador questionou de onde ela vinha.

    Em resposta, ouviu da jovem a frase que se tornou uma lenda na música brasileira: “Vim do planeta fome”.

    Ary Barroso e Elza Soares eram geniais!

    Abraçaço, estimado memorialista.

  7. Brito Véio,

    Mais uma vez seu patriotismo prepondera nestas folhas.

    Bastaria Aquarela do Brasil para perpetuar o grande Ary.

    E pelo espírito dos grandes compositores que já foram, dou-lhe meus parabéns por mais esta difusão.

    Abraços,

    Carlos Eduardo

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