Pacífico era um agricultor, que também criava porcos, cabras, perus e galinhas. Fazia o possível para que seus animais não saltassem a cerca e devastassem as plantações dos vizinhos. Também se indignava, quando via seu roçado ser invadido por um bode alheio, que prejudicava suas plantações.
Apesar dos cuidados de Pacífico, que procurava sempre consertar qualquer abertura na cerca do seu quintal, uma vez por outra era surpreendido com o furto de uma galinha gorda do seu terreiro. Já imaginava quem poderia ter sido, mas não podia provar.
Numa certa tarde, após sentir falta de mais uma galinha, o homem saiu pelo fundo do enorme quintal e ao olhar pela cerca do vizinho, descobriu que ali estava a galinha gorda e cevada que ele procurava. Estava sendo depenada pela dona da casa, certamente, para o jantar.
Pacífico rodeou o cercado, bateu à porta da casa, e reclamou do que estavam fazendo com a sua galinha. Acusou os vizinhos de terem furtado sua galinha, e que não era a primeira vez que aquilo acontecia.
Zé de Virna sorriu, cinicamente, e argumentou:
– Ora, compadre, pra que brigar por conta de uma galinha? Vamos entrar num acordo: A galinha vai já pra panela. Espere e jante “com nós”!
Como era Pacífico, até no nome, o dono da galinha não gostava de confusão e aceitou o convite. Esperou a hora, jantou, e voltou pra casa, de cabeça baixa, mas planejando um meio de se vingar do vizinho. Apesar de sempre suspeitar dele, quando sumia uma galinha, dessa vez a dúvida desapareceu. O vizinho era mesmo o ladrão de galinhas.
Doroteia, mulher de Zé de Virna, era uma morena forte e bonita, e toda vez que olhava para Pacífico, os olhos faiscavam e quase não desgrudavam dele. Isso acontecia em qualquer lugar, fosse na vila, na bodega ou na feira.
Pacífico lembrou-se disso e, com o desejo de vingança, resolveu explorar essa fraqueza da vizinha. Tanto planejou, que um dia, ao voltar do roçado, Zé de Virna não encontrou mais a mulher em casa.
Desconfiado, dirigiu-se à casa de Pacífico, bateu palmas, e perguntou, com seu vozeirão:
– Doroteia está aqui?
Pacífico apareceu na porta do casebre e, sorrindo, respondeu:
– Ela está aqui, compadre. Está lá dentro.
E puxando o vizinho pelo braço, convidou:
– Entre, compadre. Fique pra dormir com a gente!!! Vizinho não vai brigar por causa de galinha…
Moral da estória : A galinha do vizinho é sempre mais gostosa, gorda ou magra não importa.
Esta também vai ficar nos anais das cam digo mesas . Geni o Chico transformou em alvo . Agora dona Violante acertou o pé da Dorotéia .
Obrigada pelo comentário gentil, prezado Joaquimfrancisco!
Nesse ponto, adulto e criança se igualam. Para ambos, o brinquedo do amigo é sempre mais atraente.
Há quem diga que não há prato mais saboroso, do que uma boa vingança.
Pacífico agiu “pacificamente”, ao se vingar do furto das galinhas. Presenteou o ladrão com um chapéu de CORNO….rsrsrs
Bom final de semana!
Minha cara e divina Violante. Bela história, porém divirjo quanto ao Pacífico. Para mim ele não era tão pacífico assim, era paciente.
Vingança é um prato que se come frio. Foi isso que ele mostrou para o vizinho Zé da Virna.
Beijos, minha querida e bom FDS.
Obrigada pelo gratificante comentário, prezado João Francisco!
Realmente, Pacífico, apesar do nome, era frio e calculista. Pacientemente, vingou-se do ladrão de suas galinhas, usando a antiga Lei de Talião”, cujo fundamento era “olho por olho, dente por dente.” rsrsrs
Beijos para você também, e bom final de semana, querido amigo!
Violante,
Parabéns pela bem-humorada crônica sobre a criativa vingança sobre um roubo de galinha. Pacífico notando que a esposa de Zé de Virna tinha um olhar sensual quando o via, preparou uma maneira de transformar o ladrão de galinha no mais novo corno da redondeza. Ri bastante com seu excelente texto. Aproveito esse espaço democrático do JBF para compartilhar um cordel de Luiz Alves da Silva com a prezada amiga
A.B.C. DOS CORNOS
A cornura está na moda
O corno hoje é moderno
Até o diabo tem chifres
E reina lá no inferno
O que ninguém ignora
Os do diabo é pra fora
E os do homem são interno;
Besta é o corno que acha
Que a mulher dele é honesta
Se chega no outro dia
Depois que findou-se a festa
E ele bem sossegado
Não vê que de cada lado
Tem um calombo na testa.
Corno só é quem tem sorte
Tem quem não é e deseja
Bota um detetive e diz: –
Siga a mulher, olhe e veja
Depois venha mim chamar
Que vou a ela encontrar
Em qualquer lugar que esteja.
# 2 #
Depois que o chifre nasce
Não morre mais nem mocheia
Se o corno inconformado
Matar um vai pra cadeia
De lá demora a sair
Não pode se divertir
E a mulher com a casa cheia.
E machos dentro de casa
Igual abelha em cortiço
Um entrando outro saindo
E o maior reboliço
Na cadeia ele contesta
Com tanto chifre na testa
Já parecendo um ouriço.
Feliz o corno que sabe
Porque não mata ninguém
A mulher dá pra os outros
E dá pra ele também
Ele diz: – Sou satisfeito
E melhor do que prefeito
Que é hoje, e amanhã não tem.
# 3 #
Gaia é um negócio bom
Para quem faz profissão
Tem sua casa arrumada
E nunca lhe falta o pão
O negócio está crescendo
E já tem gente querendo
Fazer o corno padrão.
Hoje em dia é diferente
Do tempo da minha avó
Se alguém chamava um de corno
Ele o matava sem dó
Hoje não é mais problema
O corno diz: equizema
É ela quem come só.
Igual a Papai Noel
Corno gosta de criança
Todo corno é imortal
Morto fica na lembrança
No mármore do cemitério
Quem ler diz: Ele era sério
E o mais corno da vizinhança.
# 4 #
Jesus deu ordem a São Pedro
Pra laçar alma com gaia
Quem for laçado segure
Na corda pra que não caia
Que se uma ponta quebrar
E de cima ela despencar
No chão se espatifaia.
Livrai-me meu São Cornélio
Grita o corno já caindo
O santo vem lhe segura
Na outra ponta sorrindo
E diz: – Você quase cai
São pontas do Paraguai
Estão sempre escapulindo.
Mas como tu me chamaste
Logo vim te socorrer
Corno que não crê em santo
Com certeza vai sofrer
Sem estar no meu caderno
Morrendo vai pro inferno
Chorar, penar e gemer.
# 5 #
Na terra tem muitos cornos
Sem fé sem religião
No Brasil tem mais chifrudos
Do que em outra nação
Se um dia necessitar
Fazer a lista e contar
O Brasil é o campeão
O que está acontecendo
Parece uma epidemia
Eu vejo sempre aumentando
A cornura a cada dia
Ninguém não tem mais vergonha
Tem gente que a noite sonha
Que é corno e sente alegria
Papai sempre me dizia
Gaieira só vai matada
Ou então fica mavú
Com a orelha cortada
Se fosse assim hoje em dia
Eu creio que sobraria
Orelhas pra feijoada
# 6 #
Quem é corno e não reclama
Está feliz hoje em dia
Que a vida não está fácil
E precisa de garantia
Me disse Zé de Lulu
Se tem corno cururu
Tá faltando o corno jia
Respondi: – Meu caro amigo
Logo vai aparecer
Que o que não tem no Brasil
Alguém procura fazer
Se não tem ninguém fazendo
Mas vão terminar trazendo
No Paraguai deve ter
Seguro morreu de velho
É um ditado popular
Se a cornura já dá lucros
O Brasil vai exportar
Corno é o homem que ama
Se ver outro em sua cama
Espera ele terminar.
# 7 #
Tá faltando é empresário
Pra investir na cornura
O que ler este ABC
Ou ver na TV Cultura
Creia no que eu escrevi
Pode o dinheiro investir
Que sua renda é segura.
Um corno já me contou
Que a mulher ganha bem
E até me sugeriu
Pra eu ser corno também
E eu só fiz responder
Antes prefiro morrer
Sem possuir um vintém.
Vários poetas fizeram
Folhetos sobre a cornura
E eu fiz este ABC
Valorizando a cultura
Coloquei no meu diário
Fazer o Dicionário
Dos cornos com estrutura.
# 8 #
Xavier para ser corno
Já nasceu predestinado
A primeira mulher dele
O engaiou com um soldado
A segunda com um banqueiro
A terceira com um joalheiro
Chega o pobre anda envergado.
Zé das Medalhas também
E a rede Globo mostrou
Através de uma novela
Que há muito tempo passou
Aqui termino o livrinho
Leve um pra seu vizinho
E é corno quem não gostou.
Leitor isso é homenagem
A quem foi corno primeiro
Lhe digo não foi Adão
Vi o seu currículo inteiro
Ele não teve um rival
Segundo este folheteiro.
Desejo um final de semana pleno de paz, saúde e alegria
Aristeu
Mais uma bela crônica/piada da nossa colunista Violante.
Grato pela espalhafatosa risada que me tomou por inteiro.
Obrigada pelo amável comentário, prezado Brito.
Fiquei feliz em saber, que a leitura do meu texto lhe provocou uma gostosa risada!!! rsrsrs.
Grande abraço, e bom final de semana!
Obrigada pela gentileza do comentário, prezado Aristeu.
A vingança de Pacífico, contra o ladrão de suas galinhas, foi baseada na Lei de Talião: “Olho por olho, dente por dente”… rsrsrs
Gostei demais do cordel de Luiz Alves da Silva, “A.B.C. DOS CORNOS”, que você, gentilmente, compartilhou comigo. Obrigada, amigo! Achei sensacional.!!!…
Um final de semana, com muita paz, saúde e alegria para você também.
Violante Pimentel
Queridíssima Violante Pimentel,
Parabéns pela bem bolada crônica.
Zé de Virna não tinha argumento, nem razão, para se insurgir contra Pacífico por sua mulher, Doroteia, se encontrar em “convecês’ na casa do vizinho. Afinal de conta, eram vizinhos.
Talvez Machado de Assis, o gênio da raça, tivesse mudado o rumo da história de Capitu se tivesse lido “OLHO POR OLHO.”
Eu fiquei fascinado.
Toda mulher bonita e de ancas fartas merece ser olhada e admirada. Doroteia está nessa lista.
Fraternais saudações do admirador.
Obrigada pelo comentário gentil, querido amigo Cícero Tavares!
Zé de Virna não respeitava Pacífico, e por isso furtava suas galinhas. Jamais imaginou que o vizinho fosse capaz de lhe tomar a mulher, por vingança.
Machado de Assis teria dado mais “quentura” ao romance oculto de Pacífico e Doroteia e daria um jeito de Zé de Virna se matar de desgosto, por ter se tornado CORNO…rsrsrs
Grande abraço e um excelente final de semana!
Toda mulher bonita e de ancas fartas merece ser um olhar mais atento de Sancho (os olhos faiscam).. Doroteia está nessa lista, segundo meu irmão Ciço. Fiquemos com Doreteia, pois Dulcineia é coisa lá do Quixote. kkkkkkk
Um maravilhoso final de semana, Vivi (ops, Violante, musa maior desta extraterrrestre gazeta, que de escrota nada tem.)
Querido Sancho,
Violante Pimentel é a Dama das Crônicas do JBF.
Tudo que ela escreve escreve com encanto que encanta a todos nós seus admiradores.
Panza também não ficar a desejar, pois suas crônicas são uma mistura de tudo que é brasilidade, como assegura o D.Matt., nosso mestre e eu assino em baixo.
Obrigada pelos generosos elogios, querido Cícero!
Gosto imensamente dos escritos de Sancho. Ele é dono de uma inteligência privilegiada!
Grande abraço..
Obrigada pelo agradável comentário, querido Sancho!
“Doroteia, mulher de Zé de Virna, era uma morena forte e bonita, e toda vez que olhava para Pacífico, os olhos faiscavam e quase não desgrudavam dele…
Pacífico lembrou-se disso e, com o desejo de vingança pelo furto das galinhas, resolveu explorar essa fraqueza da vizinha…….”
E Zé de Virna passou a ser o maior corno do lugarejo….rsrsrs
Um maravilhoso final de semana pra você também, Sancho!
Excelente e bem humorada crônica, Violante.
No fim, constata-se que não houve roubo e sim uma troca de mercadorias idênticas. Ou, se roubo houve, ambos, serão perdoados durante cem anos.
Os produtos do roubo foram semelhantes. A diferença é uma foi saboreada na mesa..
Literalmente e sem metáforas…,
Excelente fim de semana.
Obrigada pelo gentil comentário, Marcos André!
A classe das galinhas é muito desunida. E amigos não devem se incompatibilizar por causa delas.
Pacífico sentiu-se desrespeitado, por ter suas galinhas furtadas pelo vizinho Zé de Virna. Preparou, calmamente, uma vingança, se aproveitando da “queda” que, literalmente, a galinha do vizinho sempre teve por ele.
Tomou a mulher do ladrão, aplicando, sem saber, a Lei de Talião: “Olho por olho, dente por dente.” rsrsrs ..
Pacífico transformou Zé de Virna, o ladrão de suas galinhas, no mais novo CORNO da região. rsrsrs….
Excelente fim de semana, para você também.