PEDRO MALTA - A HORA DA POESIA

A tarde vai seguindo o enterro do crepúsculo…
O horizonte vermelho – ensanguentado músculo –
Numa púrpura embebe as lágrimas do sol!
O ventre da amplidão de nuvens está grávido
E o sol mesmo a tombar inda num gesto impávido
Deixa uns pentes de luz nas tranças do arrebol!

O mundo é um pedestal de sólida pirâmide
Que a cúpula do céu – desmesurada clâmide –
Abriga nossa concha enorme do infinito!
A Vésper já reluz na abóbada simbólica
E a terra concentrada em confissão bucólica
Parece erguer a Deus o coração contrito!

A noite é a exalação perene de um turíbulo…
Como o eunuco fugindo à ideia do prostíbulo
Nos confins do planalto o vento se suicida!
As sombras se confundem místicas e plácidas
E as flores estremecem tímidas e flácidas
Sobre o seios aromal da noite adormecida!…

O poeta lança o olhar ao mundo melancólico,
E a pérola do sonho – ergástulo simbólico –
Rebrilha em sua fronte pródiga de luz!
A mão trêmula escreve… o cérebro é um atlântico…
A ideia é branca estrela… o ritmo é um doce cântico
E a nau da inspiração em cismas o conduz!…

O verso é o batelão singrando o abismo frígido…
A rima é frágil vela aberta ao vento rígido,
Afrontando a impiedade e a fúria de Nereus…
A crença no Trabalho é a bússola poética…
O ideal é o mastro… a flâmula é a estética…
O Mar é a Natureza… e o porto imenso – é Deus!

Almanaque de História: Quem é Rogaciano Leite.

Rogaciano Bezerra Leite, São José do Egito-PE, (1920-1969)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *