XICO COM X, BIZERRA COM I

Na sala de estar, avó e neto em frente à TV, acompanham uma reunião de Senadores, onde seus membros, do ‘Alto’ e ‘Baixo’ clero, reputação ilibadíssima – abaixo do nível do mar, ambos, se engalfinham numa elegante e respeitosa discussão repleta de amabilidades:

– Conceda-me um aparte. Vossa Excia. é um Ladrão!

– Não lhe concedo o aparte. Exijo a presunção de inocência. Ladrão é Vossa Excia.!

– Com todo o respeito, Vossa Excia. é um Corrupto!

– Data vênia, Corrupto é Vossa Excia.! Fui julgado apenas em duas instâncias colegiadas. Minha corrupção não tem trânsito em julgado.

Propõe a Avó:

– Menino, melhor desligar essa TV. A discussão é inócua. As duas Excelências estão com cobertos de razão. Ambos falam a verdade: são corruptos e ladrões.

Num canto da tela, outros engravatados (colarinhos brancos eivados de escuras manchas), sem prestar atenção aos ‘elogios’ entre colegas, celulares nos ouvidos, conversam ao celular e riem entre si.

– O homem está falando e ninguém presta atenção, vovó. Riem de quem, dos brigões?

– Não, meu querido. Riem de nós que os colocamos lá. Sorriem do povo.

Trocam de canal e assistem a uma sessão de um Tribunal que se diz Supremo, cujos integrantes exigem tratamento de Excelência mas agem de forma a não merecê-lo. A população, verdadeira Excelência, vive a ser por eles insultada. Sob negras togas, mudam o entendimento sobre o mesmo assunto diversas vezes num espaço de tempo diminuto, contrariando o bom senso e todas as regras do Direito, expondo o povo à insegurança jurídica que a eles, ‘donos da Lei’, convém.

Enojados, após irem ao banheiro para uma sessão de vômito em dueto, avó e neto desligam a TV, dão-se as mãos e vão até a banca de jornal mais próxima. Compram uma revistinha imoral, de putaria explícita. Quase tanto quanto. Quase.

Fecha-se a cortina, apagam-se as luzes. Faz-se breu no País. Escuridão total.

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  1. Exatamente assim poeta Xico, essas excelências estão deixando a imagem do nosso país cada vez mais escura. Pobre Brasil.

  2. Mestre Xico,

    Parabéns por nos mostrar com uma dose de ironia as hienas, os ratos e os urubus se digladiando nos corredores do congresso nacional, esse pinico saído dos traços de dois gênios das Belas Artes, Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, que não têm nada que ver com as putarias que os “agentes políticos” tramam lá dentro contra os brasileiros de bem, honesto, trabalhador.

    Obrigado, Bizerra e ótima semana para o poeta, a esposa, as filhas e os três netos.

  3. Obrigado, Cicero. Estamos mal servidos de representantes, infelizmente. Diria que são cocô do mesmo pinico. Resta-nos torcer por dias melhores (até porque piores é impossível). Meu abraço segue até você.

  4. Amigo Cícero, minha prole é composta de um casal de filhos (João e Mariana) – e não 2 filhas, e três netos: Bernardo, Vinicius e Leonardo, 8 anos, 1 ano e 2 mes, respectivamente.

  5. Amigo Xico, tenho publicado seus textos em meu Almanaque, com autorização, principalmente do fraterno Luiz Berto. Mas, desde janeiro deste ano, venho sofrendo seriíssimo problema no pé esquerdo, inclusive com internação em hospitalar, amputação de dedo, muito antibiótico, tratamento domiciliar e fisioterapia. Por isso, vejo-me impossibilitado de pescar assuntos em outros sites, como sempre fiz.
    Por isso, se você achar que devo continuar a publicar seus excelentes textos e melodias, que muito enriqueciam o Almanaque Raimundo Floriano, por favor, mande-os diretamente para mim, através do site abaixo.
    Obrigado!
    Deus conosco!
    raimundofloriano@raimundofloriano.com.br

  6. Vou fazê-lo, seu Raimundo, a partir da próxima semana. Mas vc poderia captá-lo diretamente do JBF, sem qualquer restrição Está autorizado, desde já. Abraço

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