Quase todo o litoral do Nordeste e boa parte do Sudeste brasileiros foram, antes do nosso descobrimento e por muito tempo depois, territórios da grande nação indígena Tupi-Guarani. Procurar o significado desses nomes é tarefa tão agradável quanto surpreendente pela sonoridade e beleza que cada palavra contém.
No Rio Grande do Norte, a influência começa nas denominações de municípios do estado. Acari vem de guaraci que é nome de macaco e de planta; por uma corruptela fonética é o nome dado, por muitos, ao peixe cascudo. Assu vem de assu, que significa grande. Angicos é originário de anjyca, que é uma acácia. Apodi, apotyr, é terra florida. Arez vem de aré, vagaroso. Caiçara, caá-yssá, significa cerca de ramos.
Caicó, caia-có, é roça da queimada. Canguaretama, güer-etama, é região das ossadas. Caraúbas vem de carayba, nome de planta. Guamaré, guamá-r-y, é rio do guama, o peixe-coelho. Ipanguaçu, upa-guaçu, é uma lagoa grande. Ipueira vem de y-pueira, um rio estreito. Itajá vem de tajá, raiz da tajoava, planta de folhas comestíveis. Itaú vem de itá-y, rio das pedras. Jaçanã é um pássaro pequeno.
Jandaíra é nome de abelha ou jandai-eíra, mel de jandaia. Janduís vem de nhandu-Í, nome de aranha, mas, existe a versão que o nome homenageia a tribo nhanduí, originária da região. Japi é uma ave e Jucurutu é uma espécie de coruja. Macaíba vem de macayba, nome de palmeira. Maxaranguape, vem de massará e guá, enseada dos massarás (armadilha de peixes). Mossoró de mo-soroca, erosão.
Paraná, em Tupi, é parente de mar. Paraú, vem de para-una, rio negro. Parnamirim, de paraná-meri, rio pequeno; e, Patu é um neologismo tupi com influência portuguesa que significa pato. Taipu, it-upu, é uma fonte de pedra. Tangará é nome de pássaro. Tibau vem de t’yba-y, rio das frutas. Timbaúba é planta leguminosa. Umarizal é também uma planta, e vem de umari. Upanema, upa-nema, significa lagoa fedorenta.
Ceará-Mirim é uma referência ao rio que banha a cidade, porém o topônimo que originou o nome da cidade vem de carri ce-ará, onde ce significa classe superior e ará, homem. A cidade de Cerro Corá traduz homenagem a batalha de Cerro Corá, no Paraguai, onde morreu Francisco Solano Lopes, presidente do país. Corá vem do neologismo guarani corá, cujo significado é curral. Itaretama, hoje Lajes, vem de itá-e-tama, região das pedras.
A influência do idioma Tupi é presente, também, nas denominações de rios, lagoas, aldeias e praias. Araraí, vem de arara-y, rio das araras. Caraú, de acara-u, comedouro de acarás (peixe). Igapó significa mata inundada. Jacumã é o leme da canoa. Japí é uma ave que imita o canto de outros pássaros. Jenipabu vem de jenypab-u, rio do jenipapo (fruta).
Jundiaí vem de jundiá-y, rio do bagre. Papari, de upa-pari, barragem ou pesqueiro da lagoa. Pirangi vem de pira-y, rio das piranhas. Tabatinga, de tabatinga, aldeia onde as casas são caiadas. Trairi, de tarair-y, rio das traíras.
O vocábulo potiguar, que identifica os norte-rio-grandenses se origina de poti-guara cuja tradução é comedor de camarões.
Caro José,
Mais uma vez v. demonstra seu estilo professoral.
Guardei os verbetes para aproveitá-los em minhas futuras crônicas.
Terei o cuidado de retransmitir sua aula para meus 72 amigos-correspondentes.
Não é aula simples, a sua, mas algo de suma importância e curiosas informações que causam interesse a todos que apreciam a origem das palavras.
Muito obrigado e bom domingo.
Sr. Carlos Eduardo, o senhor é colunista deste jornal do mesmo modo que o senhor José Narcelio. A diferença é que o senhor faz comentários na coluna dele. Mas ele não faz comentários em nenhuma outra coluna porque só vem aqui no dia em que a coluna dele é publicada. Não sabe o que está perdendo.
Señora Gomes,
O Jornal da Besta Fubana, onde Berto sabiamente não incluiu a figura do moderador, nos possibilita o diálogo (e/ou cooperação) entre cronistas e leitores (comentaristas) em franco diálogo, salutar em 99,9% dos casos. Segundo Roger Chartier essa inovação é tão radical que faz com que os leitores possam se transformar em co-autores, dado que seus comentários e intervenções podem chegar aos escritores rápida e diretamente, sem passar por intermediários como ocorria nos jornais em papel, por exemplo. Chartier afirma que leitores e autores se confundem e se fundem em um mesmo suporte material. Se ao JBF conhecesse, o señor Chartier diria mais; diria que aqui, neste JBF de todos nós há o exercício pleno de algo chamado DEMOCRACIA.
Que tenha a señora um maravilhoso final de semana.
Estimado Sancho, fiel escudeiro do JBF e agora, também, o D. Quixote dos colunistas que aqui publicam suas ideias.
Entendo, que quem escreve para o público está sujeito de forma idêntica a ser, de público, também questionado ou criticado. Esse sim, o livre arbítrio da palavra no processo democrático e o sagrado direito do leitor.
Sensibilizou-me, ilustre confrade, as suas observações em apoio a este escrevinhador, ante a nossa meticulosa e observadora leitora, a qual você se referiu acima.
Entendo que, ante admoestações do tipo, cabe ao autor do escrito as opções seguintes: acatar as críticas em silêncio, rebate-las acaloradamente criando murmúrios inúteis – o que não é do meu feitio – ou, simplesmente, abandonar o barco para aliviar a tensão dele ou do ambiente.
Fortíssimo abraço e o meu muito obrigado pela gentil atitude.
Uma Feliz Páscoa, grande Sancho.
Que aula rica…
Me encanto com esses históricos que não encontro em outros blogs que acesso! PARABÉNS grande escritor e historiador! Continue nos presenteando!
Valeu, Carlos, por seus comentários incentivados. Forte abraço.
Caro Narcélio,
Mais uma fascinante aula, desta vez sobre as origens das palavras originadas na língua tupi.
Parabéns!
Muito obrigado, Adonis, e Feliz Páscoa para você e toda família.