A PALAVRA DO EDITOR

Enquanto a eleição presidencial norte-americana segue sendo questionada judicialmente pelos republicanos, a nação continua dividida, e Joe Biden fez um discurso em prol da união. As palavras são positivas, mas os atos, nem tanto. Afinal, seu Partido Democrata tem sido responsável por segregar o povo, demonizar os adversários e eleitores de Trump, e nem sequer consegue condenar abertamente movimentos radicais e violentos como Antifa e Black Lives Matter.

Além disso, a política de identidade tem jogado mais lenha na fogueira da divisão, o ataque ao legado dos “pais fundadores” é frequente e ideias socialistas vão ganhando força dentro da base democrata. O partido que hoje tem Bernie Sanders, Kamala Harris, Alexandra Ocasio-Cortez e Ilhan Omar seria irreconhecível para um JFK, católico, anticomunista e defensor de menos impostos. O tecido social da América está esgarçado, e Trump é bem mais sintoma do que causa.

Nesse contexto, talvez seja útil resgatar a análise daquele que foi o observador mais arguto das peculiaridades norte-americanas que fizeram dos Estados Unidos uma grande potência democrática. Alexis de Tocqueville foi conhecer in loco a realidade do país e se encantou com muitas características excepcionais, que criavam certo abismo em relação à realidade europeia, em especial àquela francesa, de seu país natal.

Tocqueville escreveu seu clássico A Democracia na América buscando contribuir para a preservação da liberdade na França durante a conturbada transição da aristocracia para a democracia. Apesar do tempo transcorrido, o livro continua atual e válido em vários aspectos. Tocqueville reconhece a importância do caráter nacional norte-americano para a liberdade existente no país, e dá crédito aos religiosos puritanos pela moldagem desse caráter.

Entre as observações que fez sobre o país, consta a extraordinária capacidade das associações voluntárias no dia a dia da vida norte-americana, como uma força social muito mais potente e extensiva que o Estado. Se os franceses se voltavam para o Estado, e os ingleses para a aristocracia, os norte-americanos formavam livres associações uns com os outros quando precisavam de alguma coisa.

Os norte-americanos praticavam o autogoverno, em síntese. Não dependiam do governo, mas se organizavam para alcançar os próprios objetivos. Ele concluiu que a lei da associação é a primeira lei da democracia: “Entre as leis que governam as sociedades humanas, há uma que parece ser mais precisa e clara do que todas as outras. Se os homens devem continuar a civilizar-se ou tornar-se civilizados, a arte de associação deve crescer e melhorar, na mesma proporção em que aumentam as condições de igualdade”.

A igualdade de que falava Tocqueville não tem nenhum elo com a igualdade pregada pela esquerda democrata hoje, voltada para resultados iguais, independentemente do mérito ou valor gerado. Tocqueville deixou isso bem claro numa passagem conhecida: “Democracia e socialismo não têm nada em comum além de uma palavra: igualdade. Mas note a diferença: enquanto a democracia procura a igualdade na liberdade, o socialismo procura igualdade na restrição e na servidão”.

Os norte-americanos imaginam, segundo observou Tocqueville, que está em seu próprio interesse fazer contribuições para o bem-estar comum e o bem público. O futuro deles e de seus filhos se beneficia disso. O bem público está assim associado ao próprio interesse de cada um, ao dever moral de quem se sente parte de um todo. Não é preciso falar em altruísmo, pois a própria busca da satisfação dos interesses particulares já leva um povo mais avançado culturalmente a cuidar dos bens comuns. O norte-americano sente que a coisa pública é sua também, é de todos.

Tocqueville explica melhor seu ponto sobre o respeito do cidadão às leis: “Ele obedece à sociedade não porque seja inferior aos que a dirigem ou menos capaz de governar a si mesmo do que outro homem; ele obedece à sociedade porque a união com seus semelhantes lhe parece útil e porque sabe que essa união não pode existir sem um poder de controle”.

Mas essa postura, para Tocqueville, era derivada de valores e costumes que a religião ajudava a preservar. A importância que Tocqueville deu ao fator religioso, especialmente o protestante, no sucesso relativo dos Estados Unidos foi enorme. Conforme resume Michael Novak em seu The Universal Hunger for Liberty, seriam basicamente cinco os aspectos mundanos da utilidade religiosa: restrição aos vícios e ganhos na paz social; ideias fixas, estáveis e gerais sobre as dinâmicas da vida; o foco na questão de igualdade perante a lei; uma nova concepção de moralidade como uma relação pessoal com Deus, e, portanto, um motivo para agir de forma correta mesmo quando ninguém está observando; e, por meio da elevada honra dedicada ao laço do matrimônio, uma regulação tranquila das regras no casamento e em casa. Uma rede de confiança inspirada pela fidelidade, alimentada dentro do lar familiar e criando filhos felizes, isso aumentaria as chances de sucesso de um governo republicano.

Para Tocqueville, a religião vê na liberdade civil um nobre exercício das faculdades do homem. Ela vê no mundo político um campo liberado pelo Criador para os esforços do intelecto. A liberdade, por sua vez, vê na religião a companheira de suas lutas e seus triunfos. Considera a religião como salvaguarda dos costumes e os costumes como garantia das leis e de sua própria durabilidade.

A aristocracia artificial, a nobreza por nascimento, era algo incompatível com a realidade democrática norte-americana, e Tocqueville celebrava isso. O “homem comum” tinha um valor bem superior ao que ele notava na Europa, e o ceticismo para com a classe governante era um antídoto contra tiranias. Tocqueville certamente demonstraria preocupação com a “tirania dos especialistas” na era moderna, com a arrogância dos “homens da ciência” que desejam agir como “engenheiros sociais”. Ele constatou: “O império moral da maioria se baseia na ideia de que há mais esclarecimento e sabedoria em muitos homens reunidos do que em um só, mais sabedoria no número do que na escolha dos legisladores. Esta é a teoria da igualdade aplicada ao intelecto”.

O que fez da América uma grande potência livre vem sendo abandonado faz tempo, em especial pela esquerda democrata. Obama, em seus discursos, diminuía a importância do empreendedor na criação de riqueza, apelando para um coletivismo incompatível com a meritocracia individual. A tentativa de apagar o passado e rejeitar as tradições herdadas é outra postura antagônica àquilo que Tocqueville enxergava como crucial para a manutenção do tecido social. O desprezo pelo cristianismo, tão comum em meios “progressistas”, representa um perigoso afastamento dos pilares norte-americanos.

Em suma, seria ótimo se os democratas realmente desejassem maior união. Mas para tanto seria necessário abandonar boa parte da retórica atual, eivada de um sentimento de arrogância elitista e ressentimento tóxico contra os “deploráveis”. Os democratas teriam também de depositar maior confiança no cidadão, no indivíduo, e menos no papel estatal como locomotiva do progresso e da “justiça social”. Tais crenças parecem bem mais próximas da mentalidade francesa aristocrática dos tempos de Tocqueville do que com aquilo que fez da América um caso excepcional de sucesso. Os democratas precisam resgatar Tocqueville se querem mesmo resgatar a América!

20 pensou em “O RESGATE DE TOCQUEVILLE

  1. Tudo o que um esquerdista mais odeia é a tal meritocracia, que é algo único, parte de cada indivíduo, que acredita, por méritos próprios poder chegar a onde almeja.

    Crescer pelo mérito só é possível em sociedades que valorizam a liberdade individual, de pensamento e de crença.

    O Estado tem que cuidar das coisas comuns, das leis, da saúde dos mais necessitados, da segurança individual, da nação e da educação geral. Todo isso sem se intrometer na liberdade do indivíduo que segue as leis.

    Tudo isso que Constantino falou define o conservadorismo.

    Goiano, o progressista, libertário, revolucionário, sonhador, utópico, igualitário, me pediu um exemplo de onde o conservadorismo tinha sido responsável pelo progresso e crescimento.

    Eu digo: leia Tocqueville.

    • João Francisco, não conheço a obra de Alexis de Tocqueville, seria preciso estudá-la para conhecer melhor seu pensamento e as conclusões a que chegou a respeito das observações que fez quanto à “nascente democracia norte-americana” em sua visita que fez aos Estados Unidos para estudá-la, por volta de 1832.
      Creio ser necessário compreender os momentos históricos – aquele dos anos 1800, isto é, passados duzentos anos, o momento atual e como se desenvolveu a chamada democracia no mundo e o que se pode entender como “democracia”. Democracia é sinônimo de capitalismo? Democracia quer dizer liberalismo? Ou democracia quer dizer simplesmente o sistema político em que os cidadãos elegem os seus dirigentes por meio de eleições periódicas?
      Será preciso compreender o que Tocqueville observou, analisou e concluiu, para assegurar que seus estudos e conclusões são uma prova de que o conservadorismo é a pedra de toque do desenvolvimento da civilização ocidental, até porque o período anterior à Revolução Francesa (1789), época próxima a Tocqueville (1805), era o retrato de uma civilização conservadora (os que se sentavam à direita?).
      Seja como for, Tocqueville, quanto |à “nascente democrtacia americana” também observou:
      “elementos negativos da democracia, que considerava tediosa e alertava que ela poderia se tornar uma tirania de massas (regime no qual as minorias não têm direitos assegurados)”.
      Detalhe importante que Rodrigo Constantino deixou de lado em sua exposição.

      • E as minorias enchendo o saco de todo mundo e querendo ser as pregas do cu, sempre amamentadas por um estado escroto?

        E os comunas, sempre insuflando o ódio das minorias contra todos os demais, a fim de viabilizar uma revolução de merda para impingir um socialismo de merda que ninguém, em sã consciência, quer?

          • Goiano,

            Você deve ter uma paixão anal com Bolsonaro, pois tudo o que falas, roda…roda… e volta sempre a se referir ao NOSSO PRESIDENTE.

            Para de ser babaca, cara!

            Todas as pessoas que possuem mais de três neurônios são putas com as armações escrotas das esquerdas, sempre tentando nos impingir uma tirania babaca que ninguém quer, e agora…De repente…

            ´TUDO É CULPA DE BOLSONARO!

            Vai ver se eu estou lá na esquina…

            • Adônis, se parares de encher tua cabeça com o bobajol de “tirania babaca”, “armações escrotas da esquerda” e outras sandices, abrirás espaço na mente para pensar sobre coisas sérias.
              Talvez estejas ocupando a cabeça com esse lixo mental justamente para não se ocupar em pensar coisas novas, modernas, produtivas.
              Limpa a mente, doido. Abre um buraco para deixar as coisas caírem dentro.
              Muda o disco.

                • Adônis, qual é a bobagem que eu idolatro?
                  Ah, sei, ou tu és bolsonarista fanático ou tu és comunista…
                  Muda essa porra desse disco que o meu grande, poderoso, lindo, enorme, sedoso e cabeludo saco bolso-escrotal não suporta mais tu sempre nessa tecla do aiaiaia meu Deus o comunismo vem aí, precisamos do Messias Jair Bolsonaro, não necessariamente nessa ordem, para nos salvar desse perigo, ai medinho deles.
                  Poiis bem, o Lula vem aí, em carne e poste, não vai ter comunismo, nem socialismo, nem paranóia, mas teu rico dinheirinho vai ter de ser desembolsado uma parte, pequenininha, para salvar teus irmãos da miséria e impedird que crianças morram à toa, como já foi feito e será mais ainda, se disso tens medo também, podes tremer.
                  A não ser que a direita continue contagiando as mentes debilóides deste imenso País.

                  • Queres saber o que é que eu desejo para “os irmãos da miséria e as criancinhas que morrem à toa”?
                    ?
                    MORRAM!!!!

                    JÁ VÃO TARDE!!!!

                    Querem parir menino adoidado e eu é que vou ter de sustentar?

                    UMA OVA!!!!

                    A parte pequenininha que me é arrancada por esse governo de salafrário já é mais de 50% de todo o meu dinheiro.
                    E tu ainda achas pouco?

                    DÁ DO TEU, PORRA!!!

                    E para de me enche o meu saquinho lindo e cabeludo com tanta imbecilidade.

      • Acho que v. não entendeu direito Goiano.

        Os EUA não são uma democracia no sentido como v. descreveu.

        Lá impera uma União de Estados Federados em uma República. Neste sistema há pesos e contra pesos, justamente para que não haja a tirania da maioria sobre a minoria, como seria normal em uma democracia.

        São 3 coisas necessárias para a implantação da República: pessoas, muitas; uma comunidade de interesses (uma nação, um território) e um consenso de direito, que no caso dos EUA é fé cristã e filosofia / direito greco-romana.

        Neste sistema não pode haver a “tirania das massas”. Por isso nos EUA não há eleição direta para PR. Tem o sistema de colégio eleitoral, e mesmo este, pode decidir diferente do que a população votou, caso a república esteja em perigo, o que parece ser o caso atual.

        A história está sendo escrita nestes dias, caro Goiano. As coisas que estão sendo decididas vão muito além deste seu pensamento binário.

        Eu sei que é difícil para v., mas gostaria que abrisse sua cabeça para a realidade. Mas v. não me decepciona.

  2. Veja só: “democracia” como “tirania de massas”.
    Aspecto comentado por Lênin quando se referiu à “ditadura do proletariado” em contraposição à “democracia burguesa”.
    Para os comunistas, a ditadura do proletariado é que é o governo do povo para o povo, porque para eles a maioria é composta da classe trabalhadora e pobre.
    Para captar a mensagem é preciso mais do que filiar-se às estampas das redes sociais e mergulhar na leitura de livros, livros à mancheia.

    • Vão com a tirania das massas, com a ditadura do proletariado, para a puta que os pariu!

      Esses canalhas não me enquadrarão nessas ideias de merda NUNCA!!!!

      Se insistirem muito, vão ser corridos daqui na bala!

      Esse tal de Lenin soube muito bem pegar as carradas de ouro que os Krupp lhe deram, de modo a financiar a sua revolução sangrenta em San Petersburgo.

      Depois, quando conseguiu o poder, a primeira providência foi fazer um tratado de paz com os capitalistas alemães e com a Alemanha, em que cedeu todos os ganhos territoriais da Rússia na guerra como agradecimento pela “mãozinha” financeira que recebeu do Kaiser e sua patota. ahahahahah

      Goiano!

      Prá cima de moá? Neca!

      • Adônis, vê se arranja uma outra coisa para ter medo que não seja o comunismo. Tenha medo, por exemplo, de cobra, de jacaré, de deputado, de senador, e deixa os comunistas viverem em paz na santidade.

        • Por mim…

          Podem se fuder todos! Deputados, senadores, comunistas, veados, cobras e jacarés.

          Se eles vivessem em paz e não me enchessem o saco, sempre tentando empurrar suas ideias de merda em nossas vidas, eu estaria plenamente satisfeito.

          SÓ QUE NÃO É ASSIM!

          Esses filhos da puta só ficam satisfeitos se empurrarem goela abaixo de todo mundo a sua ditadura de merda.

          Então… Não venham não, que sairei na porrada.

  3. Como disse Thomas Jefferson: “A humanidade não nasceu com selas nas costas, nem [foram] uns poucos privilegiados com botas e esporas prontas para montá-las legitimamente, pela graça de Deus.” A única fonte legítima de poder governamental é o consentimento dos governados. Esse princípio é a pedra angular do governo, da sociedade e da independência da América.

  4. Deco, foi ele quem disse “sai daí, Zé. Sai daí logo antes que você faça réu um homem inocente, o presidente Lula”?
    Huummm, acho que não, creio que foi o primo dele, o Roberto…

  5. Esta foi a única vez em que O primo do Jefferson se enganou e falou besteira. O “INOCENTE” é o maior gatuno que a humanidade já conheceu. Foi o líder do maior trambique da história da humanidade;

    Nunca, na história desse pais,… um canalha roubou tanto e prejudicou tanto a nação.

    Acho que ele quis ser bonzinho com o larápio Nine Fingers.

    No mais, todas as patifarias relatadas foram absolutamente verdadeiras.

    • Caro Adonis, Bob Jeff, o crápula do bem, já se penitenciou por esta mancada, a de dizer ao Zé ruela Dirceu, que levaria um homem inocente à cadeia, o Lula.

      Na época Bob ainda não tinha total noção do que ele estava metido.

      Pagou pelos seus crimes (foi o político que mais tempo ficou na cadeia) e se redimiu. Deu nome ao mensalão e ao covidão. Denunciou todos os 11 ministros do STF (antes do Kássio).

  6. João Francisco, eu não vi esse penitenciamento do Robert Jefferson, mas se ele o fez deve ser por ter, como o Barack Obama, lido nos jornais material para mudar de opinião.

    • Lula foi condenado por Moro em julho de 2017 a 12 anos e 1 mês de prisão em uma sentença de 300 páginas, onde sobraram provas (delações, depoimentos, fotos, visita, escritura em nome da Marisa).

      Bastava ver a sentença que foi confirmada em mais duas instâncias. Não foi de “ouvi dizer”. Tá mais que sentenciado.

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