Manoel, dono da Padaria “Águia de Ouro”, contratou Pedro para ser seu balconista, pelas boas informações que sempre teve dele.
O empregado anterior havia sido dispensado, por desonestidade. Manoel contou essa ocorrência a Pedro, que ouviu tranquilamente, pois era cônscio da sua honestidade. Preferia passar fome, do que lançar mão do dinheiro alheio.
Uma semana depois, o patrão lhe ordenou que fosse à casa de um freguês, receber uma conta no valor de cinquenta reais.
Pedro pegou a conta escrita numa folha de caderno, dirigiu-se ao endereço indicado e recebeu o dinheiro. Quando retornava à padaria, encontrou-se com Zenilton, um conterrâneo e amigo de infância, a quem não via há bastante tempo. Os dois amigos selaram o encontro, entrando num botequim para conversar alguns minutos.
Beberam duas garrafas de cerveja, colocaram alguns assuntos em dia e Pedro apressou-se em dizer que precisava voltar à padaria. Zenilton lhe pediu que pagasse a conta, pois estava liso. Da próxima vez, ele pagaria.
Pedro lembrou-se de que o dinheiro que tinha no bolso era, apenas, a cédula de cinquenta reais, que pertencia ao patrão, da conta que fora receber. Mesmo assim, pegou a nota, pagou as duas cervejas e recebeu o troco.
Vendo a besteira que tinha feito, voltou depressa à padaria, sem saber qual desculpa daria ao patrão, ao lhe entregar o dinheiro incompleto. Na certa, seria despedido.
Entrou na padaria pela porta dos fundos, deparando-se, no quintal, com “Sultão”, o Rottweiler que o patrão criava. Pôs-se a agradá-lo e, de repente, um plano lhe veio à cabeça: Deu um grito de pavor, para chamar a atenção do patrão.
Na mesma hora, ouviu o vozeirão do homem, a perguntar:
– Que grito foi esse? O que aconteceu?
Fingindo estar em pânico, ofegante, e com os olhos esbugalhados, Pedro contou ao patrão:
– Ocorreu uma tragédia, patrão!!! Quando eu vinha entrando aqui, trazendo na mão o dinheiro que o senhor me mandou receber, “Sultão” o abocanhou e engoliu!!!
O dono da padaria franziu a testa, calculou o prejuízo, e, de um salto, estava diante do inocente “Sultão”, empunhando uma garrafa de óleo de rícino. Auxiliado pelo empregado, abriu a boca do animal, empurrou-lhe garganta a dentro todo o conteúdo da garrafa, e, depois de purgá-lo, recomendou ao rapaz:
– Agora, você vai ficar aqui junto do cachorrão, à espera do dinheiro. Logo que ele “descoma”, retire o dinheiro das fezes, trate de limpar e secar.
Duas horas depois, estava o dono da padaria de volta, para saber notícia do resultado do purgante:
– O cachorro já “descomeu” o dinheiro? – perguntou ao empregado.
Pedro, que aguardava, ansioso, por esse momento decisivo em sua vida, abriu a mão e mostrou o dinheiro que havia sobrado das cervejas, dizendo:
– Todo não, senhor. Ele só descomeu este aqui. Mas, tenho certeza que já, já ele vai descomer o que falta.
De cara feia, o patrão recebeu o dinheiro incompleto, que Pedro trazia na mão.
Muito engenhoso. Muito esperto…. Querendo ou não Violante esse é o jeitinho brasileiro.
Obrigada pelo comentário, prezado Assuero!
O dono da padaria trocou seis por meia dúzia. E continuou sendo lesado.
Realmente, “esse é o jeitinho brasileiro.”
Bom fim de semana!
Querida Violante, Pedro se dizia honesto. No entanto foi tomar cerveja com um amigo no horário de serviço e sem dinheiro próprio para pagar a conta. Usou o dinheiro do patrão.
Eu não o vejo como esperto e sim desonesto mesmo. Desonesto e mentiroso.
Manoel, o dono da padaria deverá arrumar outro funcionário.
Um bom FDS, minha querida e vamos rezar para que o Brasil tenha menos Pedros.
Obrigada pelo comentário, querido João Francisco!
Se o empregado, anteriormente despedido, era desonesto, Pedro mostrou que não ficava atrás. Deu “show de bola” em mau-caratismo. Era um grande trapaceiro, coisa vista “a olhos nus”.
Concordo com você: Vamos “rezar para que o Brasil tenha menos Pedros.”
Um bom fim de semana para você também.
Grande abraço!
Boa estória , dá para pensar sobre o que é e até onde vai a honestidade.
Esta estória também lembra um comercial de cigarros ; brasileiro gosta de levar vantagem em tudo certo?.
O consumidor estava levando fumo , e o tricampeão levando a grana.
Seu esperto personagem usou a imaginação e sendo assim nada roubou.
Se fosse um sujeito real , estaria apto a entrar para política , e o cão como vítima , lembra o povo que vive forçado por eles a tomar purgante para defecar mais dinheiro . Sim porque acham que temos maquininha de produzir dinheiro no intestino.
Mas se desdobrar a estória da para escrever um livro.
Obrigada pelo comentário, prezado Joaquimfrancisco!
A desonestidade não tem limites, em todos os segmentos da sociedade, principalmente na política..
O desonesto pensa que é inteligente, mas é, apenas, sabido. Mais cedo ou mais tarde, os atos desonestos vem à tona.
Pedro mostrou que era um grande trapaceiro.
Se o empregado, anteriormente despedido, era desonesto, Pedro mostrou que não ficava atrás. Deu “show de bola” em mau-caratismo.
O dono da padaria deve ter percebido logo.
“Sultão”, o Rottweiler que o dono da padaria criava, pode mesmo ser comparado ao sofrido povo brasileiro, vítima das trapaças políticas, sobrando para ele, apenas, o “purgante de óleo de rícino”, como se fosse possível se defecar dinheiro.
Bom fim de semana!
Pelo jeito, é quase impossível encontrar alguém 100% honesto. O único que eu conheço é São Lula.
Obrigada pelo comentário, prezado Beni Tavares!
Realmente, com honrosas exceções, nos dias atuais, a desonestidade predomina em todos os segmentos da sociedade, principalmente na classe política.
Pedro, um simples caixeiro de padaria, mal começou a trabalhar, mostrou o trapaceiro que era.
Como diz o provérbio: “Cesteiro que faz um cesto faz um cento”.
Até que ponto o desonesto pode chegar, é uma incógnita. O dono da padaria deve ter percebido logo.
Bom fim de semana!
Violante,
É sempre um prazer ler sua crônica semanal no Jornal da Besta Fubana. O texto explora a criatividade de Pedro que conseguiu enganar o patrão com uma estória inteligente. Aproveito a oportunindade para compartilhar um clássico do cordel de autoria de Leandro Gomes de Barros (1865 – 1918):
O DINHEIRO OU O TESTAMENTO DO CACHORRO
O dinheiro neste mundo
Não há força que o debande
Nem perigo que o enfrente
Nem senhoria que o mande
Tudo está abaixo dele
Só ele ali é o grande.
Ele impera sobre um trono
Cercado por ambição
O chaleirismo a seus pés
Sempre está de prontidão
Perguntando-lhe com cuidado:
– O que lhe falta, patrão?
No dinheiro tem-se visto
Nobreza desconhecida
Meios que ganham questão
Ainda estando perdida
Honra por meio da infâmia
Gloria mal adquirida
Porque só mesmo o dinheiro
Tem maior utilidade
É o farol que mais brilha
Perante a sociedade
O código dali é ele
A lei é sua vontade.
O homem tendo dinheiro
Mata até o próprio pai
A justiça fecha os olhos
A polícia lá não vai
Passam-se cinco ou seis meses
Vai indo, o processo cai.
Compra cinco testemunhas
Que depõem a seu favor
Aluga dois escrivães
E compra o procurador
Faz dois doutores de prata
Pronto o homem, meu senhor!
Ainda que vá a júri
Compra logo atenuante
Dá um unto nos jurados
Se livra no mesmo instante
Tem o juiz a favor
Jurados e assim por diante.
Essas questões muito sérias
Que vão para o tribunal
Ali se exigem papéis
Que levem prova legal
Cédulas de 500 fachos
É o papel principal.
Dinheiro dá eloquência
A quem nunca teve estudo
Imprime coragem ao fraco
Dá animação a tudo
Vence batalhas sem arma
Faz vez de lança e escudo.
Aonde não há dinheiro
Todo trabalho é perdido
Toda questão esmorece
Todo negócio é falido
Todo cálculo sai errado
Todo debate é vencido.
Pois o homem sem dinheiro
É como um velho demente
Um gato que não tem unha
Cobra que não tem um dente
Cachorro que não tem faro
Cavalo magro e doente.
Porque perante o dinheiro
Tudo ali se torna mole
Porque não há objeto
Que sob seus pés não role
Bote dinheiro no morto
Que a ossada dele bole!
O bacharel por dinheiro
Só macaco por banana
O gato por gabiru
Ou um guaxinim por cana
Só saguim pela resina
Ou bode por jitirana.
A moça tendo dinheiro
Sendo feia como a morte
Caracteriza-se e enfeita-se
Sempre melhora de sorte
Mais de mil aventureiros
A desejam por consorte.
Porque dinheiro na terra
É capa que tudo encobre
Cubra o cachorro com ouro
Que ele tem que ficar nobre
É superior ao dono
Se acaso o dono for pobre.
Eu já vi narrar um fato
Que fiquei admirado
Um sertanejo me disse
Que nesse século passado
Viu enterrar um cachorro
Com honras de potentado.
Um inglês tinha um cachorro
De uma grande estimação
Morreu o dito cachorro
E o inglês disse então:
– Mim enterra essa cachorra
Inda que gaste um milhão!
Foi ao vigário e disse:
– Morreu cachorra de mim
E urubu do Brasil
Não poderá dar-lhe fim
– Cachorro deixou dinheiro?
Perguntou vigário assim.
– Mim quer enterrar cachorra!
Disse o vigário: – Ó inglês
Você pensa que isto aqui
É o país de vocês?
Disse o inglês: – O cachorra
Gasta tudo desta vez.
– Ele antes de morrer
Um testamento aprontou
Só quatro contos de réis
Para o vigário deixou!
Antes do inglês findar
O vigário suspirou:
– Coitado!, disse o vigário
De que morreu este pobre?
Que animal inteligente
Que sentimento tão nobre
Antes de partir do mundo
Fez-me presente do cobre!
– Leve-o para o cemitério
Que o vou encomendar
Isto é, traga o dinheiro
Antes dele se enterrar!
Estes sufrágios fiados
É factível não salvar.
E lá chegou o cachorro
O dinheiro foi na frente
Teve momento o enterro
Missa de corpo presente
Ladainha e seu rancho
Melhor do que certa gente.
Mandaram dar parte ao bispo
Que o vigário tinha feito
O enterro do cachorro
Que não era de direito
O bispo aí falou muito
Mostrou-se mal satisfeito.
Mandou chamar o vigário
Pronto, o vigário chegou:
– Às ordens, sua excelência!
O bispo lhe perguntou:
– Então que cachorro foi
Que Seu vigário enterrou?
– Foi um cachorro importante
Animal de inteligência
Ele antes de morrer
Deixou a Vossa Excelência
Dois contos de réis em ouro
Se errei, tenha paciência!
– Não foi erro, Seu vigário
Você é um bom pastor
Desculpe eu incomodá-lo
A culpa é do portador
Um cachorro como este
Já vê que é merecedor!
– O meu informante disse
Que o caso tinha se dado
E eu julguei que isso fosse
Um cachorro desgraçado
Ele lembrou-se de mim?
Não o faço desprezado!
O vigário entregou-lhe
Os dois contículos de réis
O bispo disse: – É melhor
Do que diversos fiéis
E disse: – Provera Deus
Que assim lá morressem uns dez!
– E se não fosse o dinheiro?
A questão ficava feia
Desenterrava o cachorro
O vigário ia pra cadeia
Mas como o cobre correu
Ficou qual letras na areia!
Judas era homem santo
Pregava religião
Era discípulo de Cristo
Tinha toda direção
Porém por trinta dinheiros
Dispensou a salvação!
O dinheiro só não pode
Privar do dono morrer
Para o vento no ar
E proibir de chover
O resto se torna fácil
Para o dinheiro fazer.
O sacerdote no templo
Inda estando no sermão
Chega um ateu na igreja
Traga-lhe meio milhão
Que ele vai encontrá-lo
Bota-o na palma da mão.
Havendo muito dinheiro
Casa-se irmã com irmão
O bispo dispensa um quarto
Vai ao papa outro quinhão
O vigário dá-lhe o unto
E por que não casam então?
Desejo um final de semana pleno de paz, saúde e alegria.
Aristeu
Obrigada pelo gratificante comentário, prezado Aristeu!
Gostei imensamente e lhe agradeço o compartilhamento, do impagável Cordel “O DINHEIRO OU O TESTAMENTO DO CACHORRO”, de autoria de Leandro Gomes de Barros (1865 – 1918):
A trapaça de Pedro, o novo caixeiro da padaria, parece coisa de Chicó, personagem do “Auto da Compadecida”.rsrs
A maior vítima de tudo foi “Sultão”, o Rottweiler do dono da padaria, que engoliu de uma só vez uma garrafa de óleo de rícino, correndo risco de vida. Coitado!
Um final de semana com muita paz, saúde e alegria, para você também!
Violante
Um excelente “conto animal”
Uma “raposa” que fez o cachorro pagar o pato.
Um duplo pecado. Enquanto o culpado saboreou cerveja, o inocente Sultão se viu obrigado a tomar óleo de rícino.
Fiquei com pena do Rottweiler, que pagou caro pela mentira de Pedro.
Obrigada pelo comentário, prezado Marcos André!
Realmente, o Rottweller foi quem “pagou o pato”. Correu o risco de perder a vida, ao ingerir, à força, uma garrafa de óleo de rícino.
Pedro mostrou que era um grande trapaceiro, mau caráter e capaz das piores maldades.
O dono da padaria deve ter percebido logo.
Uma ótima semana!