RODRIGO CONSTANTINO

Eunício Oliveira, Luiz Inácio Lula da Silva, Cacique Raoni Metuktire, Guilherme Boulos, Ciro Gomes e Renan Calheiros

Em terra de cego, quem tem um olho é rei. E em terra brasilis, até Ciro Gomes é profeta! O esquerdista voltou aos temas comentados nas redes sociais esses dias, e não foi por fugir da indenização que deve a Fernando Holiday por tê-lo chamado de “capitãozinho do mato”, mas por conta de uma resposta que deu numa entrevista em agosto de 2022, sobre como seria um terceiro governo Lula.

Disse o pedetista: “Uma tragédia grande. A margem pra aumentar juros não existe mais. Ele não tem lucidez disso, não quer ouvir e o quadro técnico ao lado dele é de oitavo nível. Quando chegar lá, uma conta impagável com Renan Calheiros, Eunício Oliveira, MDB, Guilherme Boulos, ministério pra todo mundo. Tudo num cenário completamente diferente de 2003. E a expectativa do povão é cerveja e picanha. Ele vai botar um banqueiro em Economia, entregar as políticas de papo-furado – mulher, índio e negro – para o PT se divertir, a política e o Orçamento pro centrão e vai passear no estrangeiro”.

Ciro Gomes

Acertou quase tudo! Tirando o banqueiro na Economia — temos o poste petista do Haddad em vez disso -, cada previsão se concretizou. Lula segue fazendo várias viagens e consumindo milhões dos pagadores de impostos para se hospedar em hotéis de luxo ou levar companheiros no avião oficial enquanto autoriza liberar até R$ 10 bilhões das “emendas do relator” para o centrão, de olho na “governabilidade” no Congresso após derrotas expressivas. O Orçamento secreto era “o maior escândalo de corrupção da história”, segundo Lula, mas agora ele quer utilizar o instrumento para seu projeto de poder.

O país voltou a ter recorde de ministérios, o PT assumiu as pastas identitárias, a conta a pagar só aumenta e o presidente do Banco Central independente passou a ser o bode expiatório da vez. O quadro técnico em torno do governo, de fato, é péssimo, e a imprensa militante precisa elogiar economista que nega a possibilidade de estagflação – ou seja, gente que em pleno século 21 ainda não compreendeu que a inflação é sempre um fenômeno monetário e que é perfeitamente possível ter alto índice de aumento geral de preços com baixo crescimento econômico ou mesmo recessão.

Ciro Gomes não comentou sobre o aspecto geopolítico, mas aqui também não era nada difícil acertar: o Brasil se torna um pária mundial ao defender os regimes mais nefastos enquanto se afasta dos valores ocidentais. O PT sempre flertou com as ideologias mais totalitárias e nunca poupou elogios aos regimes ditatoriais mais cruéis do planeta.

Toda essa tragédia era certa como a mudança das estações. O que chama a atenção, portanto, não é o “dom profético” de Ciro Gomes, mas a quantidade de gente que fez o L sabendo disso tudo. Arminio Fraga, Henrique Meirelles, Elena Landau, João Amoedo e tantos outros com perfil tucano pregaram o voto no petista para “salvar a democracia”. Pouco depois, vários deles já davam sinais de arrependimento ou demonstravam receio e medo com o Lula vingativo e radical. A tal “frente ampla” nunca passou de um slogan. Talvez pela previsão de que fosse ter um banqueiro na Economia, muitos desses economistas de mercado apoiaram o PT iludidos. Acordaram com Haddad.

meirelles

Henrique Meirelles

E, como a ilusão não pode acabar, sob o risco de virar pesadelo rápido demais, eis que muitos deles resolveram transformar Haddad no bastião da responsabilidade fiscal. Com a militância da velha imprensa, eles tentam emplacar a narrativa de que Haddad é sério e bem-intencionado, além de capaz, e luta contra os devaneios petistas. O poste que foi colocado lá justamente por ser medíocre e fraco tem sido retratado pela mídia como um quadro técnico e independente, disposto a confrontar o chefe em nome do mercado!

Claro que ninguém acredita para valer nessa ladainha patética. Tanto que uma pesquisa recente da Quaest revela que 86% do mercado avalia o governo Lula como negativo, e somente 2% o consideram positivo (quem seriam esses loucos?). Para jornalistas como Miriam Leitão, que vem fazendo um tremendo esforço para defender o indefensável, isso é paradoxal, já que a maioria também aposta na aprovação do “arcabouço fiscal”. A militância petista parece incapaz de se dar conta de que uma coisa está ligada à outra, ou seja, o mercado sabe que o “calabouço fiscal” será aprovado apenas para conceder ao governo uma licença para furar o teto de gastos, nada mais.

Sim, tudo no atual governo é péssimo, e uma tragédia está em andamento. A sensação de quem sabia disso tudo é a de total impotência, de quem assiste a um filme de terror em câmera lenta, conhecendo o final sombrio sem ter como evitá-lo. Mas, se vamos todos acabar tragados pelo buraco negro petista, então ao menos alguns de nós pretendemos cair atirando naqueles que foram cúmplices da tragédia. Se até Ciro Gomes foi capaz de antecipar o caos, como perdoar figuras como Arminio Fraga, Meirelles ou Amoedo? Essa turma tem suas impressões digitais nas cenas do crime. Mesmo conhecendo bem a essência petista, preferiram declarar apoio a Lula por nojinho de Bolsonaro. E condenaram toda uma nação ao fazer isso.

Miriam Leitão

3 pensou em “O PROFETA CIRO

  1. Numa ditadura não se poderia concordar com o colunista, é certo. Na democracia sui generis em que vivemos, depende: o MiniVer, o MiniAmor, o MiniPaz e o MiniFar já chancelaria? E o editor supremo? Não sabendo se houve essa chancela, não posso dizer que concordo, mesmo concordando. De todo modo, fica registrado que não disse que concordo, mesmo concordando e se for considerado aprovado o texto, não digo que disconcordo, discordando desse disconcordo porque, mesmo concordando, não posso dizer que concordo.
    É isso.
    Até que desdigam, claro, porque se desdisserem, não é isso e, não sendo isso, isso não pode ser.
    Espero ter sido claro porque se dizer que não fui claro, é racismo.

  2. Alexandre de Moraes, o censor
    Notas & Informações
    4–6 minutos

    Com urgência, o País precisa de uma lei que reconfigure os limites e as responsabilidades das plataformas digitais. A experiência dos últimos anos mostrou que o marco legal vigente é insuficiente para prover um ambiente virtual que respeite as liberdades e os direitos de todos os cidadãos. O cenário atual é de desequilíbrio: as plataformas desfrutam de muitos direitos, mas têm pouquíssimos deveres. Além do mais, o fenômeno não é uma exclusividade nacional. Há, no mundo inteiro, a percepção da necessidade de aperfeiçoar a regulação das redes. E, ainda que venha causando muito barulho, o tema não deveria a rigor estranhar ninguém: novos setores da economia e novas realidades sociais sempre demandam ajustes e reformas na legislação.

    Na tarefa de prover um marco jurídico adequado para o mundo digital, existe um ponto politicamente importante. Não basta que a proposta de lei seja equilibrada e tecnicamente bem redigida. A tramitação no Legislativo deve proporcionar à população a segurança de que a nova regulação não reduzirá a liberdade de expressão. De forma concreta, não deve pairar dúvida de que a nova lei não criará nenhum censor da verdade, por parte do governo ou de quem quer que seja. Nesse sentido, o texto do Projeto de Lei (PL) 2.630/2020 é muito prudente, assegurando à sociedade o direito de debater livremente as ideias.

    O debate público sobre o PL 2.630/2020 vem sendo, no entanto, enormemente dificultado pela atuação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Repetindo o que fez no início do mês, quando determinou a exclusão de publicações contrárias ao PL 2.630/2020, Alexandre de Moraes expediu, na quarta-feira passada, ordem para que o Telegram retirasse as mensagens críticas ao projeto que foram enviadas aos usuários do aplicativo. O manifesto do Telegram é profundamente equivocado (ver editorial Noção infame de democracia, de 11/5/2023), mas isso não autoriza que um juiz ordene sua exclusão. Não é assim que funciona no Estado Democrático de Direito.

    Não é de hoje que Alexandre de Moraes manifesta uma compreensão expandida de suas competências e poderes. Em abril de 2019, no mesmo Inquérito 4.781/DF em que agora proferiu decisão arbitrando o debate público sobre projeto de lei, ele expediu ordem de censura contra a revista Crusoé. Na ocasião, lembrou-se neste espaço que, no regime democrático, a informação é livre. “Não cabe à Justiça determinar o que é e o que não é verdadeiro, ordenando retirar – ordenando censurar, repita-se – o que considera que não corresponde aos fatos” (ver editorial O STF decreta censura, de 17/4/2019).

    No episódio de 2019, Alexandre de Moraes reconheceu rapidamente seu erro e levantou a ordem de censura. Foi uma decisão corajosa, que fortaleceu a autoridade do STF, ao mostrar que a Corte não tinha compromisso com o erro. Infelizmente, no entanto, parece que o ministro voltou a sucumbir à pretensão de definir o que pode e o que não pode ser dito.

    “A mensagem enviada pelo Telegram tipifica flagrante e ilícita desinformação atentatória ao Congresso Nacional, ao Poder Judiciário, ao Estado de Direito e à democracia brasileira, pois, fraudulentamente, distorceu a discussão e os debates sobre a regulação dos provedores de redes sociais e de serviços de mensageria privada”, disse o ministro na quarta-feira, como justificativa para determinar a exclusão do manifesto do Telegram. Ora, suas atribuições jurisdicionais não o autorizam a definir o que é ou não é desinformação, tampouco a dizer se determinado argumento distorce a discussão pública – o que está na esfera de debate da sociedade, e não na alçada de um juiz ou de qualquer outro funcionário público. O Estado tem de respeitar o espaço livre de discussão da sociedade.

    O mais estranho é que a decisão de Alexandre de Moraes afronta até mesmo o PL 2.630/2020. Estivesse já vigente, o novo marco só corroboraria a ilegalidade da ordem do ministro. O colegiado do STF tem de reagir prontamente. Censura no debate público é intolerável.

  3. Dessa mesma entrevista tem uma outra resposta interessante:

    Valor: O que na sua visão acontecerá com o país em caso de reeleição do Bolsonaro ou volta do Lula?

    Ciro: Só aprofundar o que tá aí: país dividido. Ódio, paixão e morte de inocentes. Se o Bolsonaro sentir que o chão vai lhe faltar, vocês vão ver o que vem por aí. Na cabeça dele o delírio é completo. Dos 16 comandos militares, 12 são antagônicos

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *