A PALAVRA DO EDITOR

Não era de hoje, mas o menino se queixava sempre que tinha pesadelos horríveis.

Contava que tinha um sonho repetitivo, recorrente, atribulado, difícil. Sentia-se quase sempre sufocado e que era puxado e arrastado pelas pernas em direção a uma espécie de banheiro, pois no sonho, dizia, dava para ver os azulejos brancos nas paredes e o odor de desinfetante, aquele cheiro de pinho misturado com o fedor de urina. Aí o pesadelo acabava ali no banheiro, não continuava e o menino não sabia o que acontecia depois que ele era puxado para ali.

No dia seguinte, sabia que o pesadelo se repetiria e que acabaria de novo sendo arrastado para o banheiro. De outras vezes, o sonho recomeçava com uma nova roupagem. Era como se estivesse em uma casa nova, espaçosa e com janelas grandes que davam para um quintal ainda maior, onde se via um milharal. Ele também dizia, o menino, que quase sempre sentia no ar, uma fragrância que quase não podia descrever, como se fosse a mistura de diversos cheiros, como seiva de alfazema e tangerina, ou até mesmo percebeu algumas vezes, um cheiro adocicado, semelhante ao cheiro da fervura de calda de abacaxi.

Chamava a esses odores de “cheiro alienígena”, pois desconfiava que teria sido abduzido por entidades de outro planeta, no dia em que presenciou um objeto metálico no quintal. Mas isso já seria uma outra história.

Nos dias em que sentia no ar esses estranhos e específicos odores, era certo que teria o tal pesadelo do banheiro.

Mas tal sonho não o assustava mais. Pelo contrário, esperava o dia em que o sonho ultrapassasse a cena fatídica do banheiro. Queria a todo custo saber o que iria acontecer logo depois, mas por capricho, o sonho só acabava naquele mesmo ponto. O que viria depois ainda era um mistério e a curiosidade mal o deixava dormir.

Tempos depois, já passando dos cinquenta anos, tinha ainda o pesadelo recorrente e interminável. O sonho às vezes o atormentava durante semanas, mas parecia que não chegaria a nenhum término. Às vezes, o pesadelo era tão real que, no meio da noite, apertava a mão da esposa sonolenta ao seu lado, querendo que ela o socorresse e impedisse que fosse levado para sempre dali. E quase sempre ela o abraçava e o sonho cessava.

Mas amanhã começaria tudo outra vez.

3 pensou em “O PESADELO

  1. Newton, vivi algo assim por muito tempo. O meu caso consistia numa família composta pelo casal e uma filha. Atabavazam-me e eu não conseguia dormir. 4, 4h30 e acordava e não dormia mais. Uma vez por semana. Aí, num diálogo com eles eu disse “chega! Não darei mais atenção. Apareçam quando quiserem. Vou ignorar”. As coisas ficaram menis frequentes, mas ainda presentes.

    • Pesadelos recorrentes, muitas vezes, significam que entidades espirituais querem se comunicar conosco e como não estamos prontos, se repetem até que possamos entrar em sintonia.

      • Concordo, mas nesse caso era uma obsessão mesmo. Duas entidades desencarnadas. Eu já tentei doutrinar e por um tempo melhorou, mas tem época que volta tudo.

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