A PALAVRA DO EDITOR

Há diferenças entre militante de esquerda e pensador de esquerda.

Um “militante de esquerda” é aquele que luta, ativamente, pelas causas da esquerda.

O objetivo do militante é convencer, obter adesão, fazer com que a esquerda (qualquer esquerda) alcance o poder e se torne a força dominante da sociedade para alcançar os objetivos que essa esquerda pretende realizar.

O pensador de esquerda não é, necessariamente, um militante: ele procura compreender quais são as forças ideológicas em ação na sociedade para estabelecerem a forma de atuação política, econômica, social e, até, filosófica, por assim dizer, com vistas a obter os resultados que essas forças consideram que devem ser adequados para administrar o Estado (país ou nação).

A partir daí, ele manifesta seu pensamento pelos meios possíveis e disponíveis, escrevendo livros, artigos em publicações, dando entrevistas, ministrando aulas, estabelecendo teses, criando teorias, com o objetivo de ampliar o conhecimento humano.

Não estamos dando um valor positivo ou negativo ao pensador, porque suas ideias podem ser úteis, adequadas e convenientes, ou não.

Por exemplo, Paulo Freire e Olavo de Carvalho.

Ambos podem, eventualmente, em campos radicalmente opostos, terem produzido ideias, o primeiro à esquerda, o segundo à direita, de alguma utilidade para o respectivo reforço ideológico.

O militante é aquele que “fechou” o seu pensamento, suas convicções estão estabelecidas e ele sai em campo para a luta de obter adesão.

Embora ambos, pensador e militante, acabem tendo pontos em comum, quando sua filiação a determinadas ideias coincidem, o pensador é o criador e o militante o operário.

Para o pensador Olavo de Carvalho, conservadorismo significa fidelidade, constância, firmeza e “não é coisa para homens de geleia”.

É esse um exemplo de pensamento a respeito da política de direita, que dá sustentação ao militante para que vá em busca de outras pessoas que não sejam de geleia e que, assim, se encantem com o conservadorismo.

Para o pensador Paulo Freire, desrespeitando os fracos, enganando os incautos, ofendendo a vida, explorando os outros, discriminando o índio, o negro, a mulher, não estaremos ajudando nossos filhos a serem sérios, justos e amorosos da vida e dos outros.

É esse um típico pensamento de esquerda, embora não a traduza nem resuma, pois põe em evidência os poderosos em relação aos mais fracos e preocupa-se com aqueles que a sociedade discrimina, como índios, negros e mulheres, cujo militante sairá às ruas para granjear a simpatia dos que sejam de geleia.

Falamos, então, do pensador de esquerda que foi Paulo Freire.

Muitos têm a falsa visão de que a pedagogia de Paulo Freire se resume ao método de alfabetização que, unindo o ensino da leitura às circunstâncias da vida do alfabetizando, leva o indivíduo a pensar sobre a (sua) realidade, de tal modo que ao invés dos então tradicionais métodos que levavam o indivíduo a, sim, aprender a ler, mas desvinculada essa leitura de questões sociais, seu método fazia e faz uso de palavras ligadas ao meio social do educando – mas não só isso.

A pedagogia de Paulo Freire vai muito, muito além da alfabetização, sempre preocupada com a conscientização dos estudantes e dos professores, com a dignidade humana, com a ética e a moral – com os valores humanistas, enfim.

Seu esquerdismo reside, precisamente, no fato de levar o indivíduo a pensar, a pensar sobre si, sua situação no mundo, sobre a justiça, sobre a opressão, sobre as transformações individuais e sociais necessárias a sua emancipação.

Um dos perigos da aplicação da Pedagogia do Oprimido reside no fato de que ela tem caráter político, libertador, conscientizador – o que estabelece tal diferencial da metodologia de Paulo Freire com outros métodos educacionais.

“Paulo Freire, em sua obra, critica as formas de ensino tradicionais. Defende uma pedagogia fundada na ética, no respeito, na dignidade e na autonomia do educando. Questiona a função de educador autoritário e conservador, que não permite a participação dos educandos, suas curiosidades, insubmissões, e as suas vivências adquiridas no decorrer da vida e do seu meio social. Coloca vários argumentos em prol de um ensino mais democrático entre educadores e educandos, tendo em vista que somos seres inacabados, em constante aprendizado. Todo indivíduo seja educadores ou educandos devem estar abertos a curiosidade, ao aprendizado durante seu percurso de vida. Nesse sentido destaca a importância dos educadores e suas práticas na vida dos alunos”.

Para ele, “Ensinar não é transferir conhecimento”, e Marcelo Ricardo Camara Nalin analisa os ensinamentos de Freire para concluir que ele lecionava que é preciso respeitar a autonomia e a identidade do educando e que para passar conhecimento o educador deve estar envolvido com ele, para envolver os educandos, e deve estimular os alunos a desenvolverem seus pensamentos, argumentando que dessa forma é possível o desenvolvimento da crítica e do “pensar certo”.

Não pretendo, aqui e agora, desenvolver monografia a respeito do pensamento, da obra e da vida de Paulo Freire, apenas destacar, em face de inúmeras críticas aparentemente injustas quanto ao seu trabalho, que convém estudá-lo com mais profundidade e situá-lo no seu momento histórico, para avaliar a sua importância – que o nomeou Patrono da Educação Brasileira.

Certo que esse título foi concedido em pleno governo de esquerda, em 2012, quando Dilma Roussef era presidente da república, de modo que hoje, outubro de 2020, em pleno governo de direita de Jair Messias Bolsonaro, não se vê como improvável que o título lhe seja cassado e uma outra lei torne Olavo de Carvalho o novo detentor do título de Patrono da Educação Brasileira.

34 pensou em “O PATRONO DA EDUCAÇÃO AO GOSTO DE BOLSONAROS

  1. Caro Goiano,
    Tu agora estás de sacanagem!
    Dizer que as esquerdas não fica ” enganando os incautos, ofendendo a vida, explorando os outros, discriminando o índio, o negro, a mulher”, é brincadeira.

    Vamos por partes. ENGANANDO OS INCAUTOS – E eles estão fazendo o que quando se dizem não comunistas E SÃO COMUNISTAS. Quando tiram a foice e o martelo, assim como a estrela e a cor vermelha, das propagandas, só para induzir o eleitor a erro. Quando desviaram bilhões do erário público, através dos meios mais escusos possíveis. A lista é infinita.

    DEFENDENDO A VIDA – e são favoráveis desbragadamente ao aborto.

    DISCRIMINANDO O NEGRO E A MULHER – Quando enchem de privilégios indevidos a estas facções da sociedade, estão discriminando os homens, héteros, brancos, pelo simples fato de os terem excluído dos privilégios só por serem o que são.

    Esses felas da puta falam tanto em igualdade (que é uma merda) para depois eles mesmos dividirem a sociedade em facções. São simplesmente esquizofrênicos! Dupla personalidade! São casos para psiquiatra.

    • Goiano sendo Goiano e Adônis sendo Adônis.

      Agora, que tá feio os vermelhos esconderem foices, martelos, estrelas e seus chapeuzinhos vermelhos, isso tá!

      A linda candidata, que o marqueteiro deixou mais linda quando a vestiu “a la Michele” também não pegou bem…

      Diriam alguns, mais, muito mais espertos que Sancho:

      “É a política, estúpido!”

      Estrategista da campanha de Bill Clinton em 1992, James Carville cunhou a expressão “É a economia, estúpido!”

      E lá vai o estúpido Sancho em sua nova profissão, de quatro no gramado aparando a grama da casa da fina flor da burguesia, com os dentes. Economiza Sancho o combustível da roçadeira (que não possui) e enche a barriga com deliciosa gramínea.

      Se o pessoal da região do ABC precisar do serviço de corte de grama, na nova modalidade de consumo in natura, contem com Sancho.

    • Adônis, as esquerdas não são, em geral, “favoráveis ao aborto”. Mas elas se perguntam: Se por ser proibido e por constituir crime as mulheres os fazem clandestinamente, morrem pelas más condições dessa clandestinidade, ou se mutilam, e correm o risco de irem para a cadeia, dentre outras circunstâncias negativas, será justo manter a proibição, ou seria mais humano e justo permitir o aborto em circunstâncias tais e quais?
      Assim, também, as esquerdas se posicionam em relação à liberação de drogas, visando, inclusive, a experiências desenvolvidas em outros países: o que é mais danoso, o uso de drogas recreativas ou a criminalidade desenvolvida em torno disso? E questionam se a criminalidade desenvolvida pelo tráfico pode ser contida pela simples liberação controlada.
      Não que os esquerdistas pretendam entupir nossa juventude de drogas, pelo contrário, mas o uso está aí, jovens honestos sendo processados e recebendo penas por uso pouco importante de certas drogas, como a maconha, enquanto os traficantes não só enriquecem, como estabelecem um império de crimes variados, inclusive de mortes e de cooptação de menores, com aquelas disputas de pontos que causam verdadeiros climas de guerra em comunidades.
      As esquerdas procuram alternativas para a solução de problemas que são “deixados para lá”, aparentemente insolúveis pelos processos existentes, e que precisam de alguma criatividade para serem enfrentados.
      Há outras questões nas quais as esquerdas assumem posturas aparentemente antiéticas, como essas, mas que têm sua razão de ser, porque manter como está não tem resolvido.
      Sabemos que é preciso ir mais fundo em certas coisas, porque é evidente o traficante não vai ficar bonzinho se não tiver mais droga para traficar: ele vai partir para outra, como tráfico de armas, assalto a bancos, roubos em geral e outros crimes, de modo que é preciso aliar a certas tentativas de solução outras providências, como a melhoria dos sistemas policiais, o aumento da justiça social e a educação.
      E assim pede-se que as lutas das esquerdas sejam analisadas sem o viés de que somos canalhas e tudo o que pensamos e fazemos seja diabólico.
      Quanto à questão da publicidade dos políticos da esquerda, evitando usar certos símbolos, é um pragmatismo que pode ser malmente comparado ao fato de que não se entra na torcida do Flamengo vestindo uma camisa do Vasco.

  2. Goiano.

    Parabéns pela coluna. Você continua sendo um escrevinhador lúcido, defende suas ideias com paixão, mas com racionalidade, equilíbrio e bom senso. Apesar de estarmos em campos ideológicos opostos (sou conservador – reacionário fascista na novilíngua daqueles de direita e de esquerda, que pensam com os quatro membros apoiados ao solo). Seu ponto de partida conceitual entre o militante de esquerda e o pensador de esquerda é bem pontuado e traz luz ao debate, como disse, para aqueles que acham que a porção final do intestino grosso, que termina em um par de músculos denominados esfíncteres, se chama cérebro. Você é vinho de outra pipa, cuscuz feito com outra marca de farinha de milho. Deu um prazer arretado ler seu texto, apesar das discordâncias de praxe. Aliás, você não seria Goiano e eu não seria o bom caeté aqui do glorioso Mato Grosso do Sul se não discordássemos de alguma coisa.

    • Goiano sendo Goiano, Roque sendo Roque e Adônis sendo Adônis.

      Só Sancho mudou: agora apara gramados:
      E lá vai o estúpido Sancho em sua nova profissão, de quatro no gramado aparando a grama da casa da fina flor da burguesia, com os dentes. Economiza Sancho o combustível da roçadeira (que não possui) e enche a barriga com deliciosa gramínea.

      Se o pessoal da região do ABC precisar do serviço de corte de grama, na nova modalidade de consumo in natura, contem com Sancho.

      • Prezado Sancho,
        Tem posts que me lembram a frase clássica do Romário
        “Pelé, quando calado, é um poeta”.
        Esse foi um, com licença da má palavra.
        Mas a liberdade de expressão é garantida na Lei Maior.

        • Ora, Francisco.
          O que tens contra o Sancho ganhar o pão com o suor do seu rosto? Necessito ganhar o pão e estou entrando no ofício de corte de grama, algo muito digno e que dá uma boa grana.
          Inclusive, seguindo orientação da OMS, o faço após as 15 horas, quando o sol já não é nocivo à saúde humana.

          Vendo cocos nas madrugadas na Baixada Santista e durante o dia (parte da tarde e noite) complemento minha renda cortando grama.

          • “Pelé, quando calado, é um poeta”.

            Pelé, Romário e Sancho na mesma frase não combina. Dois foras-de-série e um retardado.

            Quanto a ficar calado, eis algo impossível… Sancho adora falar, comentar… como estamos no terreno futebol, o Berto de vez em quando me dá uns cartões amarelos, mas (expulsório mas), ainda não ameaçou com o vermelho.

            Sei que não faria falta se minha morte fosse anunciada ou se minha voz neste jbf fosse calada. Assim é a vida, assim é a morte.

            Alguns, por furo fingimento até diriam: oh, morreu o idiota. às vezes era engraçado, na maioria da vezes apenas patético.

            Sancho é tão importante quanto peido de paraquedista quando está fora da aeronave, com o para-quedas inflado pelo vento.

    • Meu caro Roque, aprecio muito conversar com quem, como você, é benevolente com o outro, no sentido de, mesmo discordando, analisar, avaliar, apreciar e, principalmente, aceitar o outro, mesmo discordando e achando que suas argumentações e posicionamentos, face ao seu ponto de vista, são deficientes. Me ocorre quando debatem um Evangélico e um Espírita, quando um aceita conversar sobre os pontos de vista do outro, mesmo quando o Evangélico, pelas noções de sua religião, tem o ponto de vista prévio de que Espiritismo é “coisa do diabo”, enquanto o Espírita acha que as noções do Evangélico são rígidas e retrógradas – mas aceitam ouvir um ao outro. Pois, grato por seu comentário e continuemos nossas conversas e discordâncias.

  3. “Coloca vários argumentos em prol de um ensino mais democrático entre educadores e educandos, tendo em vista que somos seres inacabados, em constante aprendizado. Todo indivíduo seja educadores ou educandos devem estar abertos a curiosidade, ao aprendizado durante seu percurso de vida. Nesse sentido destaca a importância dos educadores e suas práticas na vida dos alunos”.

    Para ele, “Ensinar não é transferir conhecimento”, e Marcelo Ricardo Camara Nalin analisa os ensinamentos de Freire para concluir que ele lecionava que é preciso respeitar a autonomia e a identidade do educando e que para passar conhecimento o educador deve estar envolvido com ele, para envolver os educandos, e deve estimular os alunos a desenvolverem seus pensamentos, argumentando que dessa forma é possível o desenvolvimento da crítica e do “pensar certo”.

    Pela primeira vez depois de muito tempo, consegui ler um texto inteiro do Goiano. De fato, no início parecia apenas uma análise do pensamento de correntes opostas, sem maiores pretensões. Até chegar nos trechos acima.

    Ora, se somos todos seres inacabados, em constante aprendizado, como podemos nos arvorar o direito ou mesmo a pretensão de levar alguém a “pensar certo”? O que é pensar certo?

    Por força das circunstâncias (precisava trabalhar) meu primeiro emprego foi numa unidade da CNEC, na pequena São Tomé/RN, onde ensinava matemática a alunos das 4 séries ginasiais, em 1978. Era moda (muito mais que hoje) criticar a ditadura e falar mal do governo.

    Em meus 20 anos, era um “esquerdista” como quase todos de minha idade naquela época e adorava seguir a corrente, metendo o pau no governo e na ditadura, sempre que tinha oportunidade. Mas, por intuição ou por pensar “errado”, jamais admiti qualquer discussão diferente do propósito que eu e os alunos tínhamos na sala de aula. Eu tentar ensinar e eles aprenderem matemática.

    • Canindé, uma diferença básica, não só da pedagogia, mas do pensamento de Paulo Freire, é que em vez de ele, por exemplo, propor uma soma, digamos, de dois mais dois, ou de duas laranjas mais duas laranjas (a não ser que o trabalhador trabalhasse em um laranjal), é que ele sugeria somar duas enxadas mais duas enxadas, isso simplificando grosseiramente o método para exemplificar de modo rasteiro a aplicação que seria em aritmética. Como se tratava de alfabetização, originalmente, Paulo Freire propunha o aprendizado utilizando os termos relacionados à vivência do sujeito, como trabalhador ou como agente social. O objetivo era levá-lo a desenvolver sua alfabetização em torno de sua problemática existencial. Assim, em vez de Ivo viu a uva, Severino olhou a terra árida…

      • Pode ser bonito para quem nunca viu uma enxada e pensa que todo pobre é um Severino.
        Dos 12 aos 18 anos utilizei enxadas, pás, latas de querosene, picaretas, carros de mão e ainda fiz bico como engraxate. Conhecia uns dois Ivos, mas nunca tinha visto uma uva.
        Se tivesse me iludido com a ideologia do “patrono” da educação, talvez estivesse hoje aposentado pelo funrural.
        Mas desde cedo entendi que para quem nasce pobre só há um caminho. Estudar e aprender. Não ídeologias idiotas, úteis apenas para saraus de boçais, preferencialmente em Paris, mas aquilo que pode ser útil para progredir na vida por seus próprios esforços.

        • Canindé, esse aí é o famoso “idealismo” que sustenta a direita: Eu venci por meu próprio esforço, qualquer um também pode, só não consegue quem é preguiçoso bláblábláblábláblá.
          Não existe “ideologia” do patrono da educação, existe conscientização.
          Hoje temos vinte milhões de desempregados que não conseguem chegar lá, porque não há oportunidade. Alguns conseguirão, a maior parte dos milhões dependerá do governo, por mais que tentem, lutem, ralem, se esforcem. Não conseguirão estudar, não se especializarão, não terão emprego, e ainda serão chamados de vagabundos pelos idealistas da direita.
          É foda, véi.

          • “Hoje temos vinte milhões de desempregados que não conseguem chegar lá, porque não há oportunidade.”

            Quantos milhões estão desempregados na Venezuela? Na Argentina? E quantos dependem de esmolas do governo na Coréia do Norte, em Cuba?

            Sem oportunidades, os bons são os mais prejudicados, pois não conseguem se alocar e têm vergonha de recorrer às esmolas, só o fazendo em última instância. Os medíocres, ao contrário, geralmente já vivem delas e não têm nenhum pudor em fazê-lo.

            Se eu consegui estudar há mais 40 anos, quando precisava andar 14 km a pé diariamente, hoje são poucos os que não têm condições para estudar. O PT distribuiu milhares de ônibus estundantis (imagino o tamanho da propina) e os prefeitos mantêm equipes de veículos contratados (uma forma de comprar votos “legalmente”) para ir buscar os estudantes nos rincões mais distantes dos municípios.

            Não sou idealista de porra nenhuma, mas tenho certeza que se o governo não criar as oportunidades, mesmo com um regime comunista, como a China, jamais haverá desenvolvimento e riqueza. Quando os governos tiram de uns para dar a outros, distribuem os butins para os amigos e as migalhas para a plebe. Vide PT.

  4. O que seria de nós, leitores do JBF, sem os devaneios do Goiano. Imagine o marasmo, a monotonia que seria a nossa velha vida? Então, hoje, não vou esculachar o Goiano. Vou agradecer a ele por tornar a minha existência menos triste. Gracias, mercibocu, tenquiu, blagodaryu vas, danke, ou simplesmente brigadu.

  5. No dia que historiadores mostrarem ao mundo uma civilização que tenha sido erigida sob os conceitos do amor, da ética, da moral e da igualdade, aí sim estará dada a receita do efetivo mundo melhor. Mas nunca aconteceu. Essas teorias servem, e devem servir, como freios morais e éticos, e nunca negados como inúteis. Entendo como sentimento elevado buscar esses valores, mas não dá para basear a construção de civilizações a conceitos maravilhosos, mas utópicos. Parece que os chineses já perceberam isso desde da época de Deng Xiao Ping. Aquela história de não importar a cor dos gatos, desde de que cacem ratos. Esse pragmatismo é muito menos danoso do que utopias bolivarianas, embora não sirva para o próspero ocidente democrático. E é justamente aí que percebemos o porque não saimos do lugar: Um múltiplo cabo de guerra, de vários lados, puxando de tempos em tempos para um lado com mais ou menos força. Nos oferece o país do futuro que nunca acontece.

    • Sérgio, ainda que não se seja espírita, os quais, espíritas, compreendem vivermos em um mundo de provas e expiação, de modo que nós que passamos por aqui pela Terra estamos em um nível de aprendizado básico, só superior, aos que vivem em mundos primitivos, e deste modo não estamos ainda aptos a viver plenamente o amor, a ética, a moral e a igualdade – mas estamos em fase de aprendizado para chegar a isso, já praticando os respectivos rudimentos, ainda assim, eu dizia, podemos compreender que as organizações sociais instituídas pelo ser humano não são capazes de distribuir a educação necessária para que todos sejam conscientes da necessidade de agirem corretamente, de conterem a ambição desmedida, de colocarem a elevação moral acima do desejo de possuir coisas e de competir com os demais com o melhor carro, a roupa mais cara e o celular mais avançado. Possivelmente, o Estado precisa organizar de forma a distribuir a justiça social de tal formas que todos tenham acesso à educação adequada, à boa saúde, à alimentação equilibrada, a um lar harmonioso e ao conhecimento das elevadas filosofias de vida, religiosas ou não, para que esse quase paraíso na Terra se estabeleça. Daí, acreditamos que ao invés do capitalismo liberal, ou neo-liberal, o caminho esquerdista, estabelecendo controles necessários ao alcance de maior justiça social, é a opção capaz de tornar a sociedade mais igualitária e elevada, diminuindo as circunstâncias do capitalismo selvagem. Se o socialismo não é possível, pensam as esquerdas que a atuação direta do Estado na inclusão dos pobres no mundo da abastança pode ser o caminho do progresso e da obtenção de uma civilização humanizada.

  6. Goiano, tenho um orgulho imenso em ser professor. Dei minha primeira aula particular quando tinha 10 anos. Fui ensinar um coleguinha que estava com dificuldade em frações. O problema da ideologia de Paulo Freire é a babaquice de dizer que na frase “vovô viu a uva”, que é usada na alfabetização, é necessário saber quem plantou, de quem era a terra, etc. Babaquice da grossa. Talvez fosse muito mais proveitoso dizer as qualidades que a uva tem. A UFABC criou uma disciplina chamada afro-etnomatemática que não serve para porcaria nenhuma. Que não vai fazer o Brasil melhorar a qualidade da educação. No exame de matemática do PISA ficamos no 69o lugar, quando tinha 72 países participantes .Os nossos alunos não souberam responder problemas de percentagem, raciocínio lógico, geometria, não souberam usar o teorema de Pitágoras. E n~~ao é com uma disciplina ridícula dessas que irão aprender. Falei sobre isso na minha coluna e Jesus de Ritinha de Miúdo contou ter estudado Cálculo 3 quando fazia administração. Essa disciplina é cálculo vetorial e só serve para engenheiro ou físico. No curso de Ciências Atuariais havia 4 cálculo e eu briguei para deixar apenas 1 um duas disciplinas mistas de equações diferenciais e álgebra linear. Meus alunos aprendem a resolver problemas práticos. Problemas que eu vivi quando era bancário e trabalhava com renegociação de dívida. Precisava recuperar crédito respeitando a capacidade de pagamento do cliente e montava inúmeras alternativas de amortização.
    Ano passado eu estava num shopping e um cara distribuindo uma propaganda de um consórcio de veículo em 60 meses. A proposta era pagar as parcelas com 25% de desconto até o mês que o cara fosse contemplado. Peguei a proposta e botei na prova. Pedi que o aluno explicasse a situação de quem fosse sorteado no 1o, no 30o e no 59o meses. E comigo a explicação não é na base do “eu acho ….”. Eu ensino como o cara faz análise de investimento, então use os conceitos.
    Uma ocasião, um aluno meu se submeteu a uma seleção de estágio e o diretor da empresa, vendo o grupo, disse, brincando, que a vaga seria de quem soubesse fazer uma planilha de excel para um financiamento do BNDES. Meu aluno perguntou: “com quantas liberações?” e ele disse “basta uma”. “Eu faço com seis liberações se o sr. quiser. É só dizer as datas e os valores liberados”. Eu ensinei isso. Alguns aprendem, outros apenas guardam a planilha. Meu aluno sai do curso de matemática financeira sabendo usar a HP 12c. Formei vários alunos que fizeram estágios e arrumaram empregos em empresas de investimentos.

    Nas minhas aulas tem espaço para tudo, agora eu nunca preguei ideologia nem de esquerda nem de direita. Parto do princípio que suas escolhas afetam primeiro você próprio. Eu tenho interesse em métodos quantitativos, corrupção, economia da saúde, finanças, mas nunca obriguei meus alunos a pesquisar meus interesses. Eu digo, cada início do curso, que meu papel é ajudar a realizar o sonho deles, portanto, cada uma pegue seu objeto de pesquisa e vamos usar os conceitos que ensino. A ideologia? cada um segue a sua. Eu digo como Cazuza… ideologia, eu quero uma pra viver. Fui de esquerda, mas vi que a esquerda não melhorou o país. votei em Lula em todas as campanhas, exceto a da reeleição por conta do mensalão. Depois votei em Cristóvão Buarque e em Marina duas vezes. Na última votei em Amoêdo depois de uma conversa que tive com ele aqui em Recife. Dar dinheiro para população só melhora o consumo, não forma patrimônio para ninguém.

  7. Assuero, para entendermos do que falamos creio que precisaríamos estabelecer do que falamos: qual é a crítica ao método de Paulo Freire: seu modo de ensinar induz o indivíduo a se tornar comunista?
    Pelo que entendo, quem tem medo de Paulo Freire o teme por isso: os educandos se tornam esquerdistas.
    Será isso verdade?
    Tu, que labutas nessa área, conheces estatísticas que confirmem ou infirmem isso?
    Por outro lado, talvez se possa afirmar que o método, ainda que ministrado por professores que não tenham pretensões de moldar o educando ideologicamente, deve estimular o aluno a pensar sobre a sua realidade; e a “pensar melhor”, ou “pensar certo”.
    Sim, é claro que se o analfabeto, em lugar de aprender a ler e escrever mediante frases superficiais, que nada têm objetivamente a ver com a problemática existencial, como “Ivo viu a uva”, e em lugar disso recebe uma frase motivacional, como Democracia, Liberdade e Justiça, apenas para estabelecer um paralelo, ele terá seu interesse despertado para o que sejam essas coisas, a quantas andam.
    Preferias, dizes, que “Ivo viu a uva Pinot Noir, que faz um vinho excelente e sua produção pode ser realizada no Nordeste com grande aproveitamento”? Ora, que seja, e talvez não estejas tão distante quanto pensas da ideologia, ou da inspiração, de Paulo Freire, pois o fundo de sua “doutrina” é a conscientização do indivíduo para agir e modificar a realidade em seu favor e ems proveito da sociedade.
    Agora… temos um problema a pesquisar: se levar o indivíduo a pensar e a conscientizar-se o transforma em esquerdista… fazer do quê?
    Outro aspecto da nossa conversa diz respeito a discordâncias radicais relacionadas aos nossos pontos de vista: para mim, os governos de esquerda, ao contrário do que dizes, melhoraram e muito o País. Veremos se os de direitas farão melhor, inclusive no aspecto civilizatório.
    EM TEMPO: Não é impossível que alunos teus se tenham tornado esquerdistas, graças mesmo à capacidade de pensar com profundidade que lhes tenhas proporcionado. Ou, que os que se mantiveram ou se tornaram direitistas sejam direitistas de boas orientações civilizadas, completamente diferentes dos que defendem coisas como bandido bom é bandido morto, só para ficar num exemplo rasteiro.
    Concluindo: meus cumprimentos por teres cumprindo e vindes cumprindo tua tarefa de educador com a consciência de um dever bem realizado.

    • Goiano,
      O problema todo começa quando o tal de Paulo Freire, e mais toda a sua gangue de seguidores, passa a se considerar “EDUCADOR”

      NÃO SÃO E NUNCA SERÃO!

      Deviam se contentar com o belíssimo papel de PROFESSOR, Na minha forma de entender, um mero estimulador do prazer de crescer como ser humano, aprender novas coisas, evoluir rumo a uma condição de maior esclarecimento sobre o mundo. E PARA POR AÍ!

      Quando o amarelinho se arvora ao direito de “EDUCAR” o aluno, coisa para a qual ele não foi contratado, torna-se simplesmente um “CATEQUIZADOR” dos alunos para a sua ideologia de preferência. Ideologia entendida como PREGUIÇA DE RACIOCINAR e a imbecilidade de se deixar guiar cegamente por um de visões do mundo pre-fabricadas e que só servem a terceiros. O cara se torna um instrumento da realização de algum tiranete,

      Quando Freire começa com essas churumela de oprimido, já entrou de cabeça na idiotização e ideologização dos bestas que caírem sob seu domínio.

    • Meu caro, sobre as escolhas dos meus alunos eu não questiono. Tenho alunos de esquerda e de direita. Em 2018 tive que dá um chega para lá na turma em nome do respeito pela preferência. O método Paulo Freire foi implantado antes de 64. Depois acabou com o regime militar. Ele se destinou a alfabetizar adultos. É diferente de alfabetizar crianças. O erro é esse: ao invés de ensinar o que estão querendo fazer é doutrinar. Querem ensinar com uma ideologia, que não agregou um milímetro no desempenho do Brasil no PISA. Que faz com que um cara graduado ganhe menos do que um salário mínimo. Um dia uma aluna chegou radiante para que eu assinasse uma declaração sobre as qualidades dela como aluna porque estava fazendo uma selação de estágio no banco do Brasil. Era aluna de administração. Eu fiquei feliz por ela. Assinei. Uma semana depois fui até a agência e ela estava orientando pessoas no caixa rápido. Ou seja, tudo que é conceito obtido no curso serviu para porra nenhuma e o estágio dela não iria agregar uma vírgula ao conhecimento profissional. Hoje, nós somos atendidos por robôs. Eu não ensino meu aluno ideologia. Ensino ele a pensar. As escolhas passam a ser problema dele. Agora, eu discordo que se queira empurrar essa doutrina de Freire como se resolvesse os problemas da educação. Não resolve. Resolve o da ideologia.

      • Meu caro Assuero, o mau desenvolvimento do ensino brasileiro certamente nada tem a ver com o “jeito de ser” dos governos de esquerda, que podem, sim, levar os alunos, de todos os níveis, a adquirirem um tipo de consciência crítica, mas que não, por seu esquerdismo, é falho metodologicamente.
        Os problemas no sistema de educação brasileiro têm várias causas, inclusive determinadas pela política esquerdista de abrir o acesso às escolas de quem a elas não tinha, fenômeno aliado ao aumento populacional, que de cento e oitenta milhões em 2003 no Brasil aumentou cerca de quarenta milhões de lá para cá.
        Com o acesso facilitado ao ensino, foi preciso construir escolas e contratar professores, o que reduziu o nível de exigência (inclusive pela má remuneração dos educadores).
        Veja só: em 2019 apurou-se que mais de 70% dos estudantes das universidades federais são de baixa renda, o que dá uma ideia do maior acesso do povo ao ensino superior.
        Em resumo: a democratização do ensino é, de certa forma, uma faca de dois gumes, pois o maior acesso das pessoas pobres às escolas pode determinar uma perda da qualidade e também dos resultados da avaliação, porque os estudantes vindos de classes mais baixas não dispõem de formação educacional de elite vinda dos lares e dos meios que frequentam.
        Esse fenômeno não é novo: as pessoas formadas no ensino médio de início do século vinte dispunham de conhecimentos bem mais sólidos, liam, falavam e escreviam melhor o Português, tinham conhecimentos mais firmes de línguas estrangeiras, de história e geografia, eram pessoas mais cultas – sendo que, por outro lado, eram em geral pessoas de classe social mais elevada.
        Desde 1995, o primeiro ano após a criação do Plano Real, até 2015, os recursos para a área da educação foram multiplicados por três vezes, mesmo que considerada a inflação. Quase todo o aumento se deu nas gestões petistas.
        Apesar do crescimento dos valores correntes, houve diminuição dos gastos, se considerada a inflação, entre 1995 e 2003.
        O salto começou justamente em 2003, último ano em que houve redução dos valores investidos em relação ao ano anterior após a correção inflacionária – como ocorrera em 1996, 1997 e 2001. Desde então, foram 12 anos consecutivos (2004-2015) de aumento real dos investimentos na área.

  8. Goiano a diferença entre o pensador de esquerda e o militante é a diferença entre quem faz as regras, quem manda e a massa de manobra, que obedece e não questiona. Militante não pode questionar o Comitê de Comando.

    “Para o pensador Olavo de Carvalho, conservadorismo significa fidelidade, constância, firmeza…”

    Nada mais errado. O conservador é quem moveu e transformou a civilização ocidental; baseado em conceitos sólidos, que já deram certo. A moral judaico cristã e o direito e filosofias greco-romanos são exemplos das bases sólidas do conservadorismo ocidental.

    Os valores inegociáveis do conservador são: a defesa da liberdade e de pensamento individual, da vida (e sua auto defesa), da pátria (a soberania da nação), da família e da propriedade privada.

    O Conservador portanto presa pelo crescimento pelo mérito individual, sem se esquecer dos menos favorecidos (moral cristã). é um cético e não acredita que pessoas (coletivos) representados pela elite governamental (Estado) possa tomar as rédeas da economia, tomar o seu dinheiro e decidir onde, quando e como o Estado irá alocar estes recursos. O conservador acredita que o Estado não é um bom administrador.

  9. João Francisco, conservador não move, conservador conserva. A moral judaico-cristã poderia estar ainda na Santa Inquisição e o direito e a filosofia estariam estagnados com as mulheres destinadas a cuidar da casa, os escravos nos servindo se não fosse a dinâmica promovida em geral pelas forças vanguardistas, contrárias ao conservadorismo, sem negar, é claro, as luzes trazidas pelas religiões, pela filosofia e as bases do direito que vêm de Roma.
    Mas, dizer que “o conservador” não negocia com a defesa da liberdade é negar o separatismo norte-americano, o apartheid africano, a ditadura militar no Brasil (ou, para suavizar aos teus ouvidos, o “regime militar”) a partir de 1964, conservador por excelência e limitador das liberdades e do pensamento =-= e por aí vai.
    Esse idealização da direita é o chamado idealismo do capitalismo liberal, aquele que garante que se tu conseguiu aquele cabra lascado só não vence porque é preguiçoso.

  10. Goiano, v. falou em mundo com escravos.

    Quem acabou com a escravidão tanto aqui no Brasil como nos EUA, foram os conservadores, aqui foi a monarquia e nos EUA os Republicanos. Como consequência as “forças vanguardistas” da época deram um golpe militar (esse foi verdadeiro) e derrubaram a monarquia. Nos EUA teve a guerra civil proporcionada pelos Democratas sulistas que não aceitaram o fim da escravidão. Isso é história.

    O apartheid Sul africano nada tem a ver com conservadorismo. Por falar nisso sabia que lá hoje ocorre o racismo com os brancos, que são atacados nas terras em que vivem há mais de 100 anos? Isso seria reparação de injustiças? V. sabia que os únicos negros que viviam na África do sul antes dos Europeus eram os das tribos Zulús?

  11. João Francisco, creio que existe uma distorção ótica em tuas avaliações a respeito de “conservadores”. Os conservadores eram os que queriam manter a escravidão, as lutas abolicionistas são por definição de vanguarda e como tal de esquerda. Seria um quase sacrilégio dizer, por 4xemplo, que John Brown era um “conservador”. Seria Castro Alves um conservador? Ou um pensador de vanguarda, nesse sentido “de esquerda”, procurando conscientizar os conservadores dos horrores da escravidão? (Existe um povo que a bandeira empresta para cobrir tanta infâmia e covardia).
    O apartheid, segregação das populações negra e branca, veiculada pela política oficial de minoria branca da República da África do Sul, durante a maior parte do século vinte, era, sim, política “de direita”, conservadora, para manter o “status quo” da segregação, segregação que em seus próprios termos é política de atraso, e as esquerdas são radicalmente opostas ao atraso.
    Parece que não sabes o que tu mesmo és.

  12. Alvíssaras!
    Grande Goiano!
    Retornas falando a respeito de Paulo Freire.
    Respeito demais esse caboclo.
    ***
    Os opressores de diversos matizes vexam-se quando algo cheira à pedagogia do oprimido.
    Enxergo na negação sistematica da teoria do valor de Marx e da pedagogia de Freire um certo desespero em querer esconder de todos os motivos que os fazem ricos.
    ***
    Contudo, em que pese citar o pedagogo potiguar, você ainda não assimilou a essência libertadora da teoria e persiste em tergiversar para uma dualidade fictícia.
    Esquerda e direita são apenas dois rótulos da mesma coisa.
    ***
    Tente entender que só ao oprimido interessa acabar com a opressão e, assim, só a ele pertence a iniciativa da ação.
    ***
    Nós somos burguesotes bem nutridos e apreciadores dos deleites.
    Esquerdistas e direitistas só querem arrancar algum do oprimido.
    ***

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