A PALAVRA DO EDITOR

Cavalgando no seu alazão puro de origem pelas vastas planícies e enormes penhascos, montanhas e desfiladeiros do Oeste Cinematográfico, o PAPA do FAROESTE se tornou uma lenda imortal. O curioso na vida pessoal desse astro é que o seu nome de batismo é MARION (nome afeminado ou feminino) que na sua meninice foi motivo de gozação por parte dos garotos do seu tope ou idade. Quem diria que o maior cowboy do cinema mundial, símbolo do machismo e virilidade, tinha em seu nome da eucaristia do sacramento e do registro de nascimento um nome de mulher?

A Trajetória de Wayne se confunde com a própria história do cinema americano, já que iniciou sua carreira em 1927. Ganhou um apelido tão logo ingressou na Meca do cinema, Hollywood, a alcunha de “Duke”. O grandalhão Duke em sua vida pessoal, também tinha suas preferências. Com acentuada atração por mulheres latinas, John Wayne foi casado com duas mexicanas: JOSEPHINE SAENZ (33/44) de quem teve os filhos Melinda, Michael (que se tornou produtor) e Patrick (ator) e ESPERANZA BAUER (46/53). Em 1954 casou-se com a peruana PILAR PALETTE, que lhe deu os filhos Aissa, Marisa e Ethan (nome de seu personagem em Rastros de ódio), e terminou em divórcio em 1973.

Entre tantos, os dois maiores pesquisadores e estudiosos, aqui no Brasil, da biografia de John Wayne são Paulo Telles e Darci Fonseca – Outro muito bom é o pernambucano de Caruaru Joaílton – O carioca Telles, em suas pesquisas e seus escritos nos informa que, “Se medirmos a grandeza dos astros pelo número de pessoas que vai assistir aos seus filmes, Wayne talvez possa ser considerado o maior astro de cinema em todos os tempos. Na verdade, recuando a 1932 e verificando, daí em diante, o produto das bilheterias de todos os filmes produzidos no mundo, vamos perceber logo que ele é a maior atração do Cinema sonoro, tendo alcançado o estrelato e ficado entre os dez maiores sucessos de cada ano, a partir de 1949 até 1974”.

Já o paulista Darci Fonseca nos confirma que, “Em 1958 John Wayne se considerava (e era considerado) um homem rico e tinha muitas razões para isso. A partir de 1949 o Duke(como era apelidado) esteve sempre na lista dos dez atores cujos filmes mais arrecadavam nas bilheterias, tendo encabeçado essa lista nos anos de 1950, 1951 e 1954, sendo o segundo em 1956 e 1957 e terceiro em 1952, 1953 e 1955. WAYNE COBRAVA 500 MIL DÓLARES POR FILME e ainda recebia porcentagem pelo lucro dos mesmos, isto além de produzir muitos filmes com a sua produtora independente”. A partir da década de 1960 John Wayne não era mais uma grande atração de bilheteria, haja vista que sua saúde não ia nada bem e era impossível esconder dos jornalistas que em seus últimos filmes ele atuava com a desagradável companhia de um cilindro de oxigênio para compensar sua dificuldade respiratória, além de um batalhão de dublês…

Seu grande bilhete de sorte foi quando conheceu o diretor John Ford que acabou sendo um de seus maiores amigos e exerceria uma grande influência em sua vida artística. Em 1939, acontece a grande chance de sua carreira: NO TEMPO DAS DILIGÊNCIAS “Stagecoach”, considerado um dos maiores clássicos do Western. A princípio, os produtores relutaram em aceitar um principiante saído de faroestinhos baratos e de orçamento duvidoso para o papel célebre de Ringo Kid. Mas John Ford decidiu que já havia dado o papel a Wayne e que jamais voltaria atrás. Já O Homem que Matou o Facínora do ano de 1962 fez com que os dois se separassem. Um dos maiores clássicos do Western que tinha um elenco formado por John Wayne, James Stewart, Lee Marvin e o negão Woody Strode. O Homem que Matou o Facínora registrou o último filme da parceria Wayne/Ford.

Para além da figura do americano duro e vigoroso, John Wayne é considerado um dos atores mais conservadores e reacionários da história de Hollywood. Ele protagonizou heróis imbatíveis em dezenas de filmes, pretendendo simbolizar a característica típica de um norte-americano vigoroso, duro e rápido no gatilho. Fora das telas, Wayne se tornou conhecido por suas visões políticas reacionárias, pois era um REPUBLICANO convicto. Produziu, dirigiu e atuou em “O Álamo” (1960) e “Os Boinas Verdes” (1968), com recursos próprios, ambos refletindo suas inclinações nacionalistas e conservadoras. O roteiro da Guerra do Vietnã deste último alimentou a fúria dos opositores a essa intervenção militar estadunidense, que realizaram vários protestos contra a exibição do filme.

Há uma grande confusão, por parte de muitos críticos, entre as interpretações de Wayne no Cinema, como um grande individualista, bem como as posições políticas e reacionárias do homem, como republicano de direita, onde realmente ele se opunha a qualquer atitude mais liberal. Por incrível que possa parecer, o maior inimigo que teve em vida não foi no cinema, e sim, na vida real, e começou a caçá-lo em 1964. Era o Câncer. Em 1964, Wayne foi obrigado a tirar um pulmão. Ele morreu de câncer do pulmão (fumava seis maços de cigarros por dia) em 1979 aos 72 anos de idade. Precisamente há 40 anos falecia o número um do faroeste mundial.

Em 1976, Wayne daria ao mundo sua maior performance num duelo de vida e morte, onde se despediu das telas e realizou sua derradeira fita, O Último Pistoleiro (The Shootist), dirigido por Don Siegel, com Lauren Bacall e Ron Howard (que se tornaria um grande cineasta como bem o conhecemos), no papel de um velho caubói morrendo de câncer mas ainda lutando para sobreviver. O roteiro, que tinha muito a ver com a própria vida do astro trazia a história de um velho e lendário pistoleiro que sofria de câncer e procurava um local onde pudesse morrer em paz. Mas não conseguia escapar de sua reputação. Este foi o último filme em vida da fascinante carreira de John Wayne.

Independente de gostos partidários ou posições políticas que o Duke defendia, mesmo nos anos 60/70, onde pareciam querer sepultar o faroeste, lá estava o nosso cowboy, mesmo doente, cansado, despedaçado, ali seguia ele, ereto em sua cela, brigando, disparando e ainda nos enchendo da alegria e prazer de vê-lo em ação. Assim era o velho, enfermo e cansado Wayne, Marion ou Duke que, através de seu derradeiro filme do ano de 1976, O ÚLTIMO PISTOLEIRO, Wayne se despediu da vida com uma pistola na mão. Lamentavelmente, o Duke nos abandonou para sempre em 1979. A vida nos privou de novidades do nosso grande herói do faroeste, mas nos legou o trabalho de toda sua vida em prol dessa modalidade de cinema: o filme faroeste de cowboy ou bang, bang!!!

11 pensou em “O PAPA DO FAROESTE, JOHN WAYNE, HERÓI DAS PLANÍCIES E PENHASCOS DO OESTE AMERICANO

  1. Me permita, Sr, Altamir, um reparo ao seu texto. Depois de O Homem que Matou o Facínora, John Wayne e John Ford trabalharam, juntos, em mais dois filmes: no episódio A Guerra Civil, que fez parte do filme A Conquista do Oeste, no qual George Marshall e Henry Hathaway foram os outros diretores, e em O Aventureiro do Pacífico, que, esse sim, encerrou a parceria dos dois formada em mais de quinze filmes. A maior registrada no cinema entre diretor e ator, superando, inclusive, a de Akira Kurosawa e Toshiro Mifune.

  2. O filme A CONQUISTA DO OESTE é do ano de 1962 o mesmo ano das filmagens de O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA… Outra: os três diretores aproveitaram cenas de outras obras. A marcha dos soldados mexicanos veio de O Álamo (1960). ÁLAMO foi dirigido e estrelado por John Wayne como ator principal.

  3. Papo legal, Altamir e Francisco Sobreira, de pessoas inteligentes e civilizadas que conhecem e dominam o assunto!

    Isso só faz enriquecer as páginas internéticas desta GAZETA ESCROTA!

  4. Depois de ler O PAPA DO FAROESTE, JOHN WAYNE, HERÓI DAS PLANÍCIES E PENHASCOS DO OESTE AMERICANO, só me convenço de uma coisa: preciso ter e assistir a todos os filmes de faroeste no tempo que filmes eram sevados a sério!

    A propósito de filme levado a sério: assisti ao documentário dos bastidores de Apocalypse Now realidado pela esposa de Francis Ford Coppola, e a única conclusão a que cheguei foi a seguinte: se fosse feito hoje, mesmo com o mesmo diretor, seria uma merca por que os efeitos especiais o maculavam!

  5. A título de esclarecimento: o documentário dos bastidores das dificutosíssimas filmagens de APOCALYPSE NOW, lançado em 119 chama-se, “Hearts of Darkness: A Filmmaker’s Apocalypse, e foi dirigido pela esposa de Coppola, Eleanor Coppola, Fax Bahr e George Hickenlooper, que relatam as dificuldades que a equipa passou e mostra cenas dessas dificuldades filmadas por Eleanor.

    TUDO FOI FEITO NA TORA, NA RAÇA, NO TALENTO E NA VONTADE DE FAZER CINEMA DE QUALIDADE!

  6. Incrível seu texto acima, não só é muito detalhado, como
    demonstra a sua paixão pela magia dos filmes westerns.
    Este texto é para ser guardado e sempre que possível ensinado
    para todos aqueles que se interessam por cinema, pois é um
    exemplo de dignidade, bravura e hombridade, coisa rara nos dias atuais.
    Mas, acima de tudo dou nota 1.000 para este incrível vídeo biográfico
    sobre a vida do nosso herói John Wayne. É completo, não falta
    nada. Vou guarda-lo pois certamente vou desejar revê-lo e mostrar
    para algumas pessoas que se interessam por cinema, de como se
    faz um Heroi, Um verdadeiro Astro, uma personalidade que não
    tenho dúvidas, faz parte da história dos EE.UU. História com H.

    Quanto mais eu leio e aprendo com os seus textos sobre filmes
    westerns, mais desejo que o seu livro ” No escurinho do cinema ” seja publicado e
    apreciado por todos os leitores, e não somente os seus fanáticos leitores
    desta Gazeta , para nós viciados em cinema, também didática e cinematográphica.

  7. Um filme que eu gostava de ver (ainda vejo vez por outra) é os filhos de Katie Elder. Dean Martin,pra mim, um cara que eu gosto muito

    • Caro Mauricio. Esta gazeta escrota vicía mesmo , até o grande cronista de grande diversidade jornalistica também está ficando
      viciado em filmes Westerns. É claro que nos mostra o seu
      bom gosto cinematográfico.
      A propósito, o caro cronista gosta muito de Dean Martin e eu também gosto, por isso o aconselho a ver o filme ” Onde começa
      o inferno” ( Rio Bravo) que além de John Wayne, Dean Martin, tem mais dois excelentes coadjuvantes o cantor Ricky Nelson e o notável Walter Brennan que já ganhou dois prêmios Oscar.
      E de sobremesa tem também a belezura da moreninha Angie Dickison, um colírio que faz até cego enxergar.
      A propósito. Poucas pessoas sabem a origem do nome
      Katie Elder. Esta personagem já apareceu em muitos filmes
      Westerns, ela foi a amante de Doc Holiday (que muitos pensam
      que era um médico, mas foi um personagem verdadeiro e era
      formado como dentista e morreu tuberculoso numa casa de
      saude no interior do Estado, ,pois era de origem de uma familia
      classe média alta. Katie Elder já foi representada por várias
      atrizes famosas e cito apenas uma LINDA DARNEL, no filme
      de John Ford em que ela contracena com Victor Mature que
      faz o personagem Doc Holyday.
      Peço desculpas, se estou sendo intrometido.
      Sou leitor da sua coluna e aprecio muito o seu trabalho.

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