CARLOS EDUARDO SANTOS - CRÔNICAS CHEIAS DE GRAÇA

Praia do Carmo, Olinda, atualmente, em flagrante de Alamy Stock

Na década de 20 os Banhos Salgados, logo ao amanhecer, eram recomendados para curar doenças de pele e de nervos, por conterem, as águas do mar, grande quantidade de iodo. Por esta razão, Olinda passou a ser a praia preferida pelos moradores do Recife e localidades próximas.

Os padrões das roupas de banho, na época, eram bem diferentes. Senhoras e senhoritas se vestiam obedecendo padrões rígidos, a fim de cobrirem seus corpos.

Entre as praias dos Milagres e do Carmo, onde as ondas eram mais revoltas, havia pescadores disponíveis, que por pequenas gratificações ofereciam-lhes mais segurança, através de um “varadouro”, improvisado por cordas interligadas a paus enterrados na areia, permitindo aos frequentadores a tranquilidade de ali se segurarem para não serem tragados pelas ondas.

Logo ao amanhecer chegavam as famílias. As vestimentas obedeciam a um padrão moral que hoje pareceria ridículo. Pelas fotos do Arquivo Público de Olinda se vê que os corpos das senhoras e senhoritas eram quase todos cobertos.

Roupas femininas da época. Homens do mar protegiam as senhoras contra a fúria das ondas

A partir dos anos 50, quando surgiram maiôs “Catalina” durante a difusão dos Concursos de Miss, os padrões das roupas de banho permitiram às mulheres adotar um estilo cada vez mais incongruente; ou seja, em desacordo com os padrões morais dos anos 20.

Depois de 1946, quando o Atol de Bikini ficou famoso pelas explosões atômicas, a pequena ilha de corais situada no Oceano Pacífico, inspirou os estilistas de moda e criou-se uma “vestimenta sumaríssima” que ficou conhecida como biquíni, caindo em cheio no gosto popular.

Os maiôs já haviam se reduzido bastante, deixando o corpo da mulherada à vista. Porém, os modistas foram traçando as novas roupas cada vez com menor quantidade de tecido, ao ponto de se popularizar e aportuguesar o biquíni, cujo nome foi inspirado naquele atol oceânico.

Aliás, o biquíni nem é mesmo “roupa de banho”, pois mais parece um guardanapo com dois laços, que dá a impressão de cobrir as partes pudicas de cada jovem e até das balzaquianas mais afoitas.

Nos anos 30, aos seis anos de idade, fui partícipe de um desses passeios, quando meus pais, minhas tias Laura, Tereza e a prima Nicinha utilizaram um Banho Salgado. Suas roupas cobriam até os joelhos. O pudor ainda era congruente; isto é dentro de padrões – se não de elegância – pelo menos de moralidade.

Sendo o terminal do bonde da linha Olinda-Carmo, a concentração de pessoas era maior. Somente anos mais tarde, após as obras dos arrecifes artificiais instalados para conter o avanço do mar, é que a praia do Carmo se requalificou, permitindo ao público desfrutar os Banhos Salgados sem perigo, pois hoje existe grande faixa de terra, boa arborização, barracas de lanches e muita gente bonita.

Já sob a predominância de modelos revolucionários das Roupas de Banho, a partir de 1950, começamos a observar que com apenas dois guardanapos se poderia criar um modelo de verão: um biquíni; tempo em que a incongruência passou a servir de mote para os poetas versejarem.

Aproveitando o tema, criei um mote para o poeta Carlos Antônio Rabelo glosar:

O mote:

O pano desta priquita
É bastante incongruente.

A glosa:

E porque de tão pequeno
Até para um clima quente
O pano dessa priquita
Dá num buraco de dente
Mesmo que seja bonito
Para o tamanho do priquito
É bastante incongruente.

9 pensou em “O PANO DA PRIQUITA

  1. Para vê-la mais bonita
    Do jeito que veio ao mundo
    Eu rasgo em um segundo
    O PANO DESTA PRIQUITA.
    Quero olhar esta cabrita
    Por trás e depois de frente
    E digo sinceramente,
    Se puder dou uma lambida
    Porém, com a bicha vestida
    É BASTANTE INCONGRUENTE.

    (JRM, poeta popular)

    • A maior paga por escrever minhas crônicas é despertar em leitores inteligentes como você as qualidades que sempre afloram à cada mote.

      Grato, mesmo.

  2. Pois é Carlos ……

    Comparando as fotos, “me-parece-me” que a segunda fica um pouco melhor para nossos olhos …..

    Assim continua a “me-parecer-me” que a estética fica mais coerente com o conteúdo …….

    Yééésssssss …… Grandes histórinhas ………..

    Grande contador de histórias ……… Parabéns …..

  3. Tutú,

    Assim eu chamava meu saudoso pai que tinha o mesmo nome seu.

    Sua leitura é a paga maior do meu trabalho de pseud-escritor.

    Ele era um gozador.

    Quando eu estudava Contabilidade ele costuma dizer-me, zoando:

    Você vai ser um grande Contador… de histórias.

    Deu no que você está vendo.

    Um abraço altamente fubânico.

    • Só para relembrar familia

      Meu falecido pai Henrique, Eu (Arthur Henrique), meu mano Carlos Henrique e o caçula apenas Marcelo pois de Henrique minha mãe, ainda viva (100 anos) estava cheia de Henriques ……. Ka Ka Ka

      Obrigado e retribuindo um abraço altamente fubânico…..

      PS: continua a dúvida ……. Fubânico ou Fubano …… rsrsrsr….

  4. O que nos interessa é FUBANIZAR, o resto são detalhes incongruentes.

    O jornal escroto nos permite inventar verbetes e publicá-los; feito o “Pano de Priquita” que poderá substituir a palavra biquine; ou mesmo “Guardanapo de Buceta”.

    Grato, amigo, por seus comentários, dignos da escrotice reinante nesta época de pandemia, quando só resistimos porque somos fazedores de alegria.

    • Pois é ……

      “Guardanapo de Buceta” ka ka ka

      “…. O jornal escroto nos permite inventar verbetes ….”

      Ok …….
      Só não sei se minha mâe uma senhora com mais d 100 anos vai falar para sua nora de coração …..

      “… Oi minha filha, vai estrear hoje na praia seu Guardanapo de Buceta …”

      Chiiiiii,,,,,,,

  5. “Guardanapo de Buceta”. Não falem de coisicas que são a perdição de Sancho. Isso é mais mió de bao que leite condensado.

  6. Já imaginou a teatralização da cena de amor?… Meia luz, retirada dos dois lacinhos numa naice, depois preparar o leitinho Condensado Marca Moça e derramar feito cachoeira, depois sentar a lingueta e deixar a bichinha estribuchando na cama.

    Já visse? (como diriam os baianos).

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