CÍCERO TAVARES - CRÔNICA E COMENTÁRIOS

Texto escrito em colaboração com o especialista em filmes de faroeste D.Matt

Marlon Brando o eterno Don Vito Corleone

Dedicamo-lo ao mestre do SEGUNDA SEM LEI, Altamir Pinheiro

O primeiro filme da trilogia de O Poderoso Chefão gira em torno da família mafiosa de Don Vito Corleone, de 1945 a 1955, sendo considerado e aclamado como um dos melhores filmes de gângster de toda a história do cinema nas ações mafiosas e suas conseqüências. Mas o diretor teve que impor sua personalidade contra os executivos da Paramount para realizá-lo.

Ante o esmero da produção, o deslumbre técnico – a montagem que, no batismo do afilhado, intercala a oração de Michael Corleone com os assassinatos de que ele é mandante; a fotografia excepcional, que explora à sombra os negócios da máfia e a transparência na relação de Michael com Apolônia, pura e virginal -, o vigor do elenco, o roteiro que entrelaça as intrigas familiares com a disputa pelo poder, e a perfeição com que Francis Ford Coppola encena sua história. Marlon Brando e Al Pacino estão memoráveis. O primeiro como o patriarca que tudo faz pela família, o segundo como o estranho no ninho que nega o pai e aos poucos se deixa envolver pela máfia, ainda que para perceber que, na maioria das vezes, o poderoso está só.

Já na segunda parte temos ações e negócios. Compra de governo cubano, traições mafiosas, muita vingança. Excelente continuação para o grande sucesso da parte um. Neste filme acompanhamos Don Vito Corleone desde os tempos de criança quando fugiu da Itália após ter sua família toda morta por um mafioso local. Chegando à América adotou o sobrenome Corleone referente à cidade natal e cresceu sempre lutando para sobreviver junto com sua esposa e filhos que iam nascendo no decorrer dos anos.

Depois de matar o mafioso que exigia porcentagem dos ganhos aos comerciantes locais que todo mundo o temia, o seu poder, influência e riqueza começa acrescer cada vez mais, conquistando assim o respeito de todos. Paralelamente, o caçula Michael Corleone tenta expandir os negócios da família buscando novos investimentos em Havana e Las Vegas e se depara cada vez mais com traições, interesses e se vê em uma situação delicada no casamento e com membros da família, além de ter que se confrontar com uma investigação geral contra a máfia e, em conseqüência, contra sua família e negócios.

Destaca-se o ótimo elenco novamente, infelizmente sem Marlon Brando, mas trazendo Al Pacino com uma atuação soberba, além do sempre perfeito Robert De Niro. Ninguém melhor do que ele para interpretar Don Vito Corleone mais jovem. A entonação de voz e os movimentos corporais estão iguais ao de Marlon Brando.

O filme mantém a mesma qualidade do anterior em todos os aspectos e aprofunda ainda mais as relações entre os familiares e aliados. O filme conta com outro grande roteiro, uma competente edição, além do figurino, direção de arte, a excepcional fotografia e é claro, a mais uma vez genial e firme direção de Coppola. O filme é uma aula de como fazer cinema e de como uma sequência pode manter o nível do original. A única coisa que peca é que o filme tem quase 3 horas e meia, e em alguns pontos ele se torna arrastado, mas o grande mérito da edição em deixar o filme mais ágil e intercalando bem o passado de Don Vito Corleone e o presente da família, é ainda mais evidente neste filme. Mas vale a pena no quesito fidelidade ao livro de Mario Puzzo.

Na terceira parte é muitíssimo diferente. A família quer se posicionar no mundo financeiro e político, se separa das ações mafiosas e procura limpar o nome CORLEONE a qualquer preço. Para isso “compra da Igreja e do Papa” uma comenda papal ao preço de cem milhões de dólares e se posiciona como o maior investidor nos negócios do Banco do Vaticano, cooptando a tudo e a todos. O resultado não é bem o esperado, pois os demais mafiosos deixados para trás, também querem participar da grande negociata.

Negócio feito, mas não chancelado pelo Papa, que está quase à morte. Os mafiosos se digladiam entre si querendo a sua parte e não deixam barato. Envenena o Papa recém eleito “João Paulo I”, o Papa Sorriso, por ser um homem honesto e não concordar com as roubalheiras no Banco do Vaticano.

Nesse filme as ações são todas políticas, mas as diferenças são presentes e a toda hora alguém tem de pagar as suas dívidas com a própria vida.

O filho bastardo do irmão morto metralhado no primeiro filme aparece e aos pouco vai se posicionando e ganhando força no esquema, tomando a liderança de todas as ações e ocupando o lugar do personagem advogado e conselheiro dos filmes anteriores que, “simplesmente sumiu da história” sem explicação. O seu lugar foi ocupado pelo ator cubano Andy Garcia que aproveitou a oportunidade e, com grande talento, conseguiu fazer um belo trabalho no filme, sendo indicado ao prêmio Oscar de melhor ator coadjuvante.

Uma grata observação: os produtores contrataram diversos atores de prestígio, que fizeram grandes filmes e valorizam muitos personagens importantes. Nesse filme todos estão ótimos e foi muito gratificante vê-los atuando em papéis secundários, sem glamour aparente com ótimos resultados. Um desses atores é o veterano e carismático ator Eli Wallach, contumaz ladrão de cenas que como sempre sobressai em qualquer filme. Outro ator que surpreende pela qualidade do seu trabalho é o cubano Andy Garcia, com uma atuação sóbria e firme, convence como ítalo americano e termina o filme como o Poderoso Chefão, tendo suas mãos beijadas pelos mafiosos de plantão.

Não se pode deixar de mencionar a aula de montagem do filme, ao final, durante a bela ópera encenada e os acontecimentos paralelos, sendo executados com todos os devedores, ao estilo Corleone. Tudo acompanhado pela belíssima música operística.

Muitos críticos, à época do lançamento do filme e até hoje, não deram muita importância a essa terceira sequência da trilogia, talvez porque tenha havido um hiato de dez anos para ser filmado e também pelo enfoque político nele inserido. Em lugar dos temas mafiosos presentes nos filmes anteriores. Essa sequência tem validade qualitativa tão quanto às duas partes anteriores. É por isso que na História do Cinema não vai existir outra trilogia igual.

a) A História por Trás de O Poderoso Chefão (1)

b) A História por Trás de O Poderoso Chefão (2)

c) A História por Trás de O Poderoso Chefão (3)

1) Os Finais Perfeitos da Trilogia O Poderoso Chefão

3 pensou em “O PADIM CORLEONE DA MAFIA AMERICANA

  1. Excelente trilogia. Não me canso de ver. A atuação de De Muro é fita de contexto. A cena que ele mata o mafioso que acabou com sua família mostra a raiva intensa do feito passado

  2. “Se você tivesse se cercado com um muro de amigos, isto não estaria acontecendo.” Don Vito Corleone

    Os grandes já nascem fubânicos, apesar de nem todos tornarem-se fubânicos. Nem todos os Cíceros nascem gigantes; para isso precisam ser fubânicos e Tavares.
    Aproveito o espaço para mandar beijo fraterno no Trio Fubânico Los Tavares ABC: A rthur, B eni e C ícero.

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