MAGNOVALDO BEZERRA - EXCRESCÊNCIAS

Imagino que vossuncê nunca ouviu falar de uma cidadezinha americana chamada Emporium. Até 2003 esse ponto no mapa era também totalmente desconhecido para este fuxicador que fica contando patranhas desmanteladas a quem tem a paciência de escutá-lo, ano em que fui parar nesse lugar.

Emporium é um encantador lugarejo de não mais que 2.000 habitantes, perdido no interior da floresta que ocupa a maior parte das montanhas Alegheny, no estado americano da Pennsylvania. Eu também nunca havia sabido da existência de tal local até que fui designado para passar uma semana organizando o lay-out da fábrica da PPM – Pennsylvania Powdered Metals, onde certamente trabalhava uma boa parte dos habitantes de Emporium.

A cidade com aeroporto mais próximo é DuBois, que fica a 51 milhas (82 quilômetros) de distância.

(Curiosidade: distante 70 milhas de DuBois fica a cidade de Titusville, o local da perfuração do primeiro poço de petróleo americano em 27 de agosto de 1859, realizado por Edwin Drake, que acabou morrendo na miséria em 9 de novembro de 1880).

Um funcionário da fábrica veio buscar-me no aeroporto e fui direto ao único hotelzinho da cidade – na verdade, um motel chamado Iron Horse, onde seria hóspede por cinco dias.

Claro, precisava de um carro para locomover-me, e fui informado que havia uma Locadora na cidade que prestava esse serviço. Ficava perto do motel e fui até lá caminhando por agradáveis e pitorescas ruazinhas, onde os moradores penduravam flores nos postes em frente a suas casas.

A Locadora pertencia a um americano com a cara do artista de filmes de faroeste Roy Rogers. Não trabalhava com cartões de crédito e, como eu era estrangeiro, me pediu para pagar adiantado o aluguel da semana em dinheiro: 120 dólares. Abri a carteira e lhe dei seis notas de 20 dólares. Ele sorriu, devolveu-mos (eita língua a nossa!), e disse que era apenas para se certificar que eu tinha dinheiro para pagar. Perguntou-me duas vezes a que horas eu sairia do motel para o trabalho e a que horas voltaria.

Foi-me entregue um Mustang vermelho com um escapamento barulhento. Paciência!

No motel, por volta das 10 horas da noite, quando me preparava para dormir, resolvi dar uma olhada pela janela e ver a noite. Para minha surpresa, não vi o Mustang estacionado na minha vaga. A estas horas até os vagalumes da cidade deveriam estar dormindo e, portanto, não havia como relatar o fato a alguém. Bem, como também contratei o seguro, deixei para a manhã seguinte o aviso do sumiço do carro à Locadora.

No dia seguinte, assim que fui tomar meu café, verifiquei que o carro estava lá estacionado, perfeito, sem nenhum problema!

Que se assucedeu?

Telefonei para o Roy Rogers e lhe comuniquei o acontecido.

Tranquilamente, me disse:

– Como sabia que o senhor só iria precisar do carro após as 6 horas da manhã, aproveitei e o aluguei para um amigo que precisava ir à noite até DuBois e estava com o seu carro quebrado. Fiz assim uma graninha extra, já que não é toda hora que tenho clientes. Mas, pode deixar, darei um desconto de 10 dólares para o senhor como compensação pelo susto que lhe causei.

A Locadora, na verdade, só tinha dois carros. O segundo carro deveria estar sendo usado pelo outro cliente.

4 pensou em “O MUSTANG ALUGADO

  1. Magnovaldo.
    Suas histórias e estórias são muito boas. Por um momento pensei que o carro tinha sido levado pelos “amigos do alheio”, também. Mas isso mostra as diferenças entre Pindorama e os Zistates….Manda mais dessas. Este Q.C.C.C.T (Querido Conterrâneo Corumbaense Caeté e Tupinambá) se delicia com suas histórias.

    • Eita, Roque, também pensei da mesma forma quando vi o espaço no estacionamento vazio. Mas, mesmo que fosse um discípulo da Marcia Tiburi, certamente seria grampeado pela Polícia. Tenha um excelente final de semana. Abração.

  2. Parabéns pelo excelente texto, grande escritor Magnovaldo Santos!
    O sumiço do Mustang alugado me deixou tensa, certinha de que tinha sido furtado, e a bronca seria grande.
    Que diferença de hábitos…De qualquer forma, se o carro estava locado a você, o Roy Rogers não teria direito de alugá-lo novamente. Imagino sua preocupação!!!

    Bom final de semana para você e sua família!

  3. Ainda existe gente assim por aqui. Mas é raro.
    Certa feita (hein?!), estive em Joinville-SC e fiz reserva de um veículo com base na minha base financeira, isto é, o mais básico da base.
    Ocorreu que, no dia anterior, o avião que descia em Navegantes não aterrou por causa do tempo e foi desviado (cuma?) para Joinville.
    Passageiros pegaram os carros da base básica e quando cheguei, já não havia nenhum da categoria básica de base.
    O funcionário quis cobrar a diferença para um veículo sem ser da base e falei que a cobrança dele não tinha base, que ele tinha que garantir minha reserva (ele sabia mas não era da estirpe do locador gringo).
    Foi não foi fui, sem pagar a diferença, desfrutar não de um pé de breque, mas de veículo fora da base.

    Obrigado, Magnovaldo, pelas histórias sempre e muito interessantes.

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