ARISTEU BEZERRA - CULTURA POPULAR

Nesta deliciosa técnica literária que ridiculariza um determinado tema, o repentista e poeta Geraldo Amâncio põe em dúvida a teoria da evolução humana, de Charles Darwin. Ele interfere pela visão criacionista da Bíblia, respeitando, entretanto, o direito das pessoas, que acreditam ser o homem descendente do macaco, cultuar seus ancestrais.

Este poema foi inspirado pelos argumentos do grande escritor Ariano Suassuna (1927 – 2014) que não acreditava na teoria da evolução, ora comentada, defensora da explicação biológica para o surgimento das espécies.

O MACACO E O HOMEM

Aprendi com minha mãe
Desde o tempo de menino,
Que o homem conforme a Bíblia
É criação do Divino.
Disse um cientista fraco
Que o homem veio do macaco
Eu não creio e nem combino.

Eu ser filho de macaco?
Isso não me satisfaz.
Bicho é bicho, gente é gente,
Não misture os animais.
Por que só antigamente
Macaca paria gente
E agora não pare mais?

Se o macaco é pai do homem
O filho não puxa aos pais
Porque nos procedimentos
São bastante desiguais.
Não tem macaco roubando,
Matando nem assaltando
Do jeito que o homem faz.

O porco com uma porca
Só geram porco e mais nada.
Rato não vira preá
Não tem raça misturada.
É bom que a pergunta eu faça,
Por que só a nossa raça
De outra raça foi gerada?

Se o macaco é pai do homem
O que foi que aconteceu?
Se o pai é que ensina o filho
A falar do jeito seu.
Nisso a ciência se cala,
Se o macaco não fala
Com quem o homem aprendeu..

Quando eu souber que um carneiro
Transformou-se em boi valente,
Um gato virar cachorro,
Minhoca virar serpente,
E mosca virar mosquito,
Aí sim eu acredito
Que o macaco é pai da gente.

Eu não sou contra o macaco
Nem contra os costumes seus.
Macaco ser pai do homem
Isso é coisa dos ateus.
Cada um com seu capricho,
Se é de eu ser filho de bicho,
Quero ser filho de Deus.

Mas quem acredita nisso,
Quem nessas coisas tem fé
Assim que avista um macaco
Já sabe o seu pai quem é.
Estire o braço e a mão
E diga com educação:
Como vai pai chimpanzé?

11 pensou em “O MACACO E O HOMEM SEGUNDO GERALDO AMÂNCIO

  1. O repentista Geraldo Amâncio é católico praticante, e seus versos criativos defendem o criacionismo com muito bom humor. Faço uma observação que o criacionismo, que se opõe à teoria da evolução segundo a qual a vida teria surgido da matéria bruta, tem hoje defensores, que se esforçam em demonstrar que os textos bíblicos, tomados em seu contexto próprio, em nada contradizem as mais novas descobertas científicas. A religião é um assunto que divide opiniões, entretanto o poema desse grande repentista cearense é uma reflexão sobre a origem do homem que deve encontrar muitos seguidores e me incluo nesse grupo.

  2. Vitorino,

    Grato por seu ótimo comentário. Você fez uma interessante observação sobre o criacionismo que enriquece o assunto exposto. Acrescento a sua informação que o ser humano não “veio do macaco”. Esse é um equívoco que se criou em torno de uma ideia que não era de Darwin. Na verdade, o que ele disse é que havia indícios de que homens e macacos tinham um ancestral comum que evoluiu com o tempo e se desdobrou em vários ramos diferentes.
    Aproveito a ocasião para compartilhar uma trova de Geraldo Amâncio sobre Charles Darwin:

    Darwin fale o que quiser,
    Sua tese eu não ataco,
    Mas não creio que a mulher
    Seja filha do macaco.

    Saudações fraternas,

    Aristeu

      • Marcos Augusto,

        Agradeço ao valioso comentário do amigo. Tenho uma grande admiração por Geraldo Amâncio tanto pelo talento poético quanto pelo ser humano simples, humilde e sempre atencioso com o seu público. Aproveito esse espaço democrático do Jornal da Besta Fubana para compartilhar um episódio desse talentoso repentista cearense.

        O grande mestre da comunicação, Geraldo Freire, que trabalha na rádio Jornal do Comércio em Recife, sugeriu ao poeta Geraldo Amâncio Pereira o seguinte mote:

        Quando chove no sertão,
        Tem festa para os meninos.

        O poeta fez a esta criativa estrofe:

        Quando o nevoeiro grosso
        Manda chuva, a meninada,
        Brinca na terra molhada,
        Tibunga dentro do poço.
        Inventa curral de osso,
        Ossos grossos e ossos finos,
        Faz açudes pequeninos
        botando terra com a mão.
        Quando chove no sertão
        Tem festa para os meninos.

        Saudações fraternas,

        Aristeu

  3. Aristeu,
    Segundo a filosofia e ciência da qual eu sigo,teria uma explicação no Livro a GÊNESE da qual nos explica que a ideia que o homem evoluiu do macaco não é absurda;
    Do macaco ao homem
    Para os espíritas, diferentemente de outras religiões, a ideia de que o homem evolui do macaco não é absurda. Acompanhe uma passagem do livro A Gênese que comprova tal afirmação:

    “Da semelhança que há de formas exteriores entre o corpo do homem e o do macaco, concluíram alguns fisiologistas que o primeiro é apenas uma transformação do segundo. Nada aí há de impossível nem o que, se assim for, afete a dignidade do homem. Bem pode dar-se que corpos de macaco tenham servido de vestidura aos primeiros espíritos humanos, forçosamente pouco adiantados, que viessem encarnar na Terra, sendo essa vestidura mais apropriada às suas necessidades e mais adequadas ao exercício de suas faculdades, do que o corpo de qualquer outro animal. Em vez de se fazer para o espírito um invólucro especial, ele teria achado um já pronto. Vestiu-se então de pele de macaco, sem deixar de ser espírito humano, como o homem não raro se reveste da pele de certos animais, sem deixar de ser homem. Fique bem entendido que aqui unicamente se trata de uma hipótese, de modo algum posta como princípio, mas apresentada apenas para mostrar que a origem do corpo em nada prejudica o espírito, que é o ser principal e que a semelhança do corpo do homem com o do macaco não implica paridade entre o seu espírito e o macaco”.
    Espero que entenda o ponto de vista.
    Grata pela oportunidade!
    Carmen.

    • Carmen,

      Muito obrigado por seu comentário com explicações do livro A Gênese, de Allan Kardek. Abordei o assunto no Jornal da Besta Fubana pelos versos criativos do poeta e repentista Geraldo Amâncio. Ele foi influenciado por artigos e vídeos de Ariano Suassuna defendendo ardorosamente a teoria criacionista da Bíblia. Confesso que esse assunto é muito delicado, pois nós temos uma cultura de não questionar assuntos religiosos.
      Você é uma pessoa com muita sabedoria, então, compartilho duas sextilhas com a temática cristã do grande repentista Geraldo Amâncio:

      Voltando o Cristo querido,
      O profeta mais profundo,
      Ele vai para a montanha
      Fazer o sermão segundo,
      Na oficina da vida
      Vai ver se conserta do mundo.

      Ou o mundo dialoga
      Com Jesus de Nazaré,
      Ou marcha para um abismo
      Sem ver o fim onde é.
      Cantando o hino do medo
      Na procissão dos sem fé.

      Saudações fraternas,

      Aristeu

    • Parabéns pela excelente postagem, prezado Aristeu Bezerra!
      A Teoria da Evolução Humana, de Charles Darwin, apesar de aceita no mundo científico, também tem sido muito contestada, principalmente pelos religiosos..
      O grande Escritor Ariano Suassuna ironizava e contestava essa teoria de maneira genial, sem aceitar a ideia de que o homem descende do macaco. .

      O poema satírico, “O MACACO E O HOMEM”, do poeta e repentista Geraldo Amâncio, é inteligente e verdadeiro.

      Desse poema, destaco esta septilha:

      Se o macaco é pai do homem
      O filho não puxa aos pais
      Porque nos procedimentos
      São bastante desiguais.
      Não tem macaco roubando,
      Matando nem assaltando
      Do jeito que o homem faz.

      Um grande abraço e uma ótima semana!

      Violante Pimentel Natal (RN)

  4. Violante,

    Agradeço ao excelente comentário. Ariano Suassuna (1927 – 2014) ganhou a mídia tardiamente, de uma forma que caracteriza o espírito brasileiro: a humorística. Filiada a esse espírito, sua literatura ficou a meio caminho da melhor produção contemporânea.
    No vídeo que roda no YouTube, contra a teoria da evolução, ele arranca aplausos de uma plateia boquiaberta, incapaz de perceber os disparates ditos para causar humor. Ato contínuo à informação de que é dono de uma inteligência cética, diz-se católico. Foi assistindo esse vídeo e lendo artigos sobre o criacionismo do famoso escritor paraibano que Geraldo Amâncio se inspirou para fazer a sátira transcrita neste artigo.
    Aproveito esse espaço democrático do Jornal da Besta Fubana para compartilhar os versos de Geraldo Amâncio feitos glosando o seguinte mote:

    Não há quem sabe do dia
    Que o Salvador vai voltar.

    Em que vem o Salvador?
    De avião ou carreta,
    Numa estrela, num cometa,
    Num astro iluminador,
    Ou num disco voador,
    Que pousa em qualquer lugar,
    Sem barulho, sem zoar,
    Sem ninguém saber quem guia.
    Não há quem saiba do dia
    Que o Salvador vai voltar.

    Saudações fraternas,

    Aristeu

  5. Obrigada, prezado Aristeu, por compartilhar comigo esse mote e glosas, inteligentes e verdadeiros, do poeta e repentista Geraldo Amâncio! Adorei!!! Eles retratam a pura verdade…

    Um grande abraço!

    Violante

  6. Se o Homem foi macaco
    Quem foi que o criou
    Quem lhe ensinou falar
    E a demonstrar amor
    Respeito quem acredita
    Mas a ciência explícita
    Diz que tem um Criador!

  7. Afonso D, Silva,

    Grato por seu comentário com versos bem elaborados. Fiquei feliz ao receber um aviso do nobre editor Luiz Berto sobre dar um escllarecimento a respeito do artigo “O MACACO E O HOMEM SEGUNDO GERALDO AMÂNCIO”. Achei interessante compartilhar um cordel de Gerusa Guedes, que explica em estrofes ricas de conhecimento esse complexo assunto, então, envio para o prezado leitor essa obra prima:

    OS MACACOS

    Os macacos estão tiriricas com os humanos,
    Que história é essa de está nos imitando
    Nós os macacos não perturbamos.
    Um tal cientista disse que o homem
    Do macaco veio, isso nos consome
    Só porque com dois pés, andamos.

    Nascemos macacos e vivemos macacos
    Não venham encher o nosso saco
    Procure outra ideia seu chato.
    Já viu macaco perturbando, sujando
    As ruas com lixo, não somos humanos
    Nos respeitem, deixem disso.

    Já encontraram algum macaco agitando
    Tocando fogo em ônibus destruindo.
    Ouviram algum macaco fazendo fofoca
    Debruçado numa janela esparramado
    Com a cara dos outros curtindo
    Portanto não nos apelide de humano.

    Chamam o negro de macaco pela cor
    E os macacos amarelos meu senhor
    Brasileiro é macaquito, um pejorativo
    E os outros moradores desse universo
    O que são? Uns sapitos ou periquitos
    Preconceituosos esses humanitos.

    Pois os macacos vão tomar a providência
    E vão acabar com toda essa tola, crença
    Que homem é macaco desde nascença
    O macaco somente age, não pensa
    O homem é quem maquina a indeiscência
    Deixem os macacos em paz. Clemencia.

    Saudaçoes fraternas,

    Aristeu

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