Com a chuva que desceu
O sertão tem outro brilho
Quem vê de longe a ‘boneca’
Nos braços de um pé de milho
Pensa que é uma mãe
Dando de mamar um filho.
Raimundo Nonato
Depois que a chuva caiu,
Ficou verde o arrebol,
A babugem cobre o chão;
Parece um verde lençol,
Cicatrizando as feridas
Das queimaduras do sol.
Sebastião Dias
O Nordeste está mais lindo
No final da estiagem
O gado dormindo em cima
Do sobejo da pastagem
E um pincel de tinta verde
Mudando a cor da paisagem.
João Paraibano (1952 – 2014)
A chuva voltou molhando
Os punhos da minha rede
O tambor de doze latas
Sangrou no pé da parede
E as lágrimas da natureza
Cegaram os olhos da sede.
Adelmo Aguiar
No ano bom do inverno
Deus benze a agricultura,
O sertanejo gargalha
Olhando a roça segura;
Sai do inferno da fome;
Entra no céu da fartura..
Francisco Sobrinho
Uma seleção de sextilhas sobre o inverno que demonstra como a beleza da natureza pode ser descrita na poesia pura dos repentistas. A estrofe de Sebastião Dias tem duas palavras pouco conhecidas de quem não frequenta as cidades do interior do Nordeste:arrebol e babugem. Esclareço que arrebol significa a cor avermelhada das nuvens quando o sol se põe no horizonte e babugem é a espuma produzida pela água agitada. Chuva é sinal de fartura para o nordestino e a meteorologia indica que teremos um bom inverno este ano.
Vitorino,
É gratificante receber seu excelente comentário. Agradeço por esclarecer duas palavras não usuais na estrofe de Sebastião Dias. Lembrei-me nesse instante que a dupla João Paraibano (1952 – 2014) foi a que melhor descreveu a natureza maravilhosa do sertão nordestino. Aproveito a ocasião para compartilhar uma belíssima sextilha de João Paraibano com o ilustre leitor fubânico:
Quando chove no sertão
O sol deita e a água rola
O sapo vomita espuma
Onde o boi pisa,se atola
E a fartura esconde o saco
Que a seca pedia esmola.
Saudações fraternas,
Aristeu
As estrofes são muito bem elaboradas. Fica difícil eleger qual a mais bonita, entretanto os versos do cantador Chico Sobrinho dá uma dimensão perfeita da alegria do sertanejo quando se inicia a temporada de chuva. É digna de memorizar.
Neide,
Muito obrigado por seu comentário. Só consegue entender a alegria do sertanejo quando chega o inverno quem conhece as cidades do interior nordestino. Gentileza gera gentileza, então, compartilho uma estrofe do repentista João Paraibano (1952-2014) com a prezada leitora fubânica:
O rio aumenta as enchentes
Formiga sai da panela
Se avista a borboleta
Beijando a flor amarela
Pedindo licença a pétala
Pra se deitar dentro dela.
Saudações fraternas,
Aristeu
Versos simples, singelos e inspirados. Isso faz bem à alma da gente…
Parabéns!!
Patriota,
Agradeço ao seu ótimo comentário. Concordo com suas observações sobre os versos dos repentistas serem singelos, simples`e inspirados. O repente é a poesia pura que tal como o diamante pode ser lapidado, porém não perde a beleza porque suas metáforas são bonitas demais da conta. Quanto a fazer bem alma, isso é uma verdade, pois trazemos no DNA a poesia dos nossos ancestrais.
Compartilho uma das sextilhas mais bonitas do grande poeta e cantador de viola
Pinto do Monteiro (1896 – 1990) com o prezado leitor fubânico:
Essa palavra saudade
Conheço desde criança
Saudade de amor ausente
Não é saudade, é lembrança.
Saudade só é saudade
Quando morre a esperança.
Saudações fraternas,
Aristeu
Parabéns pela bela postagem, prezado Aristeu Bezerra! O tema “O INVERNO NOS VERSOS DOS REPENTISTAS” reuniu uma admirável seleção de sextilhas, de grandes repentistas. Destaco:.
O Nordeste está mais lindo
No final da estiagem
O gado dormindo em cima
Do sobejo da pastagem
E um pincel de tinta verde
Mudando a cor da paisagem.
João Paraibano (1952 – 2014)
Um abraço e uma ótima semana!
Violante Pimentel Natal (RN)
Violante,
Muito obrigado por seu generoso comentário. Saiba que a sextilha que você escolheu é de um grande poeta e repentista que tive oportunidade de assistir em diversas ocasiões. É surpreendente como João Paraibano (1952 – 2014) tinha uma facilidade de fazer belos versos de improviso sem possuir muito estudo. O dom da poesia tem uma via genética e outra fornecida pelo meio ambiente no qual o futuro poeta é criado.
Aproveito a oportunidade para compartilhar nesse espaço democrático do Jornal da Besta Fubana uma sextilha do genial João Paraibano:
Faço da minha esperança
Arma pra sobreviver
Até desengano eu planto
Pensando que vai nascer
E rego com as próprias lágrimas
Pra ilusão não morrer.
Saudações fraternas,
Aristeu
PS.: Por ocasião do encantamento de João Paraibano, fiz uma singela homenagem com este poema:
O HERDEIRO DOS ASTROS
Foi João Paraibano
Quem sempre plantou poesia
Nos irrigou com versos
Da divina sintonia
Hoje, colhe o apreço
Daqueles que o aplaudia.
Obrigada, prezado Aristeu, por compartilhar comigo essa bela sextilha do poeta João Paraibano!
Achei lindíssimo, a começar pelo título, “O HERDEIRO DOS ASTROS”, o poema com que você homenageou esse genial repentista, por ocasião do seu encantamento, ocorrido em 2014.,
Você também é um grande poeta! Parabéns!
Violante