VIOLANTE PIMENTEL - CENAS DO CAMINHO

Era a hora do jantar. À mesa encontravam-se os anfitriões Silvino e Mara, e seus amigos Hermes e Telmita. Jantavam alegres e descontraídos, saboreando uma deliciosa lasanha, acompanhada de vinho.

De repente, ouviu-se dentro de casa uma voz rouca, chamando: “AFONSO…..”.Imediatamente, o ar foi empestado pelo mau cheiro de enxofre, próprio dos flatos. Em seguida, ouviu-se uma enxurrada de espirros.

Entre eles, não havia ninguém chamado “AFONSO”. Todos se entreolharam, e chegaram a pensar em alma penada.

Mara, visivelmente tensa, disse que a voz e os espirros pareciam ter vindo da rua, pois dentro de casa, além dela, o marido e o casal de amigos, não havia ninguém. Ainda tentou justificar o mau-cheiro de enxofre no ar, dizendo que esse mineral era usado para clarear roupas brancas. E naquele dia, ela havia queimado um pouco de enxofre para vaporizar as roupas brancas estendidas.

Acontece que não era nada disso. A dona da casa, uma mulher jovem e fogosa, tinha um “choro baixo” pelo verdureiro, um rapaz bonito e viçoso, que fazia entregas a domicílio. Nesse dia, o “lanche” com o entregador havia sido demorado, só terminando em virtude da antecipada chegada do dono da casa e o casal de amigos.

O jeito foi empurrar o verdureiro para se esconder no cubículo embaixo da escada, na saleta vizinha.

Tornaram a ouvir a voz cavernosa chamando “AFONSO!” e outros espirros. Aí o bicho pegou. Silvino, que era muito violento, saiu da mesa para caçar o invasor.

Dirigiu-se, exatamente, à saleta, onde estava escondido o verdureiro, no cubículo feito de tábuas, embaixo da escada. Viu, então, ali deitado, um rapaz todo defecado, e emitindo outros sons de “Afonso”, numa descontrolada diarreia.

Ordenou ao “invasor” que saísse dali imediatamente, mas o rapaz continuou deitado, tremendo da cabeça aos pés, sem condições de se levantar. Silvino agarrou-o por uma perna, puxou-o para fora, atingindo-o com um golpe de faca. Mas o amigo Hermes o impediu de consumar o tresloucado ato de matá-lo.

Os gritos de Hermes, para defender o suposto pé de lã das garras de Silvino, atraíram alguns vizinhos, que, vendo o rapaz quase morto, o levaram ao pronto-socorro.

Voltando-se para a esposa, Silvino disse que via agora, por qual motivo ela o havia deixado, juntamente com o casal amigo, tanto tempo esperando para abrir a porta.

Sem respeitar a presença do casal, disse, aos gritos, que esse procedimento da mulher merecia uma “recompensa, que ela jamais esqueceria.

Sob os insultos do marido, Mara saiu da sala, e, sem procurar se justificar, pôs-se em fuga, para lugar incerto e não sabido.

A fama de corno de Silvino se espalhou pela cidade, além de ser processado por tentativa de homicídio, mesmo “em legítima defesa da honra”.

Mara “caiu na vida” para sobreviver, protestando sempre que não seria ela a primeira nem a última mulher a colocar chifres no marido, pois como diz a música do compositor Rossini Pinto, interpretada por Núbia Lafayette (1972), “não é só casa e comida que faz a mulher feliz”.

Núbia Lafayette – Casa e Comida

18 pensou em “O ENXOFRE

  1. Perfeito, Violante!
    Parabéns!

    Vou enviar para um amigo meu que dá casa e comida à esposa, mas anda comendo muito na rua.
    (Risos).

  2. Obrigada pela honrosa presença, prezado escritor Jesus de Ritinha de Miúdo.

    Quem se contenta somente com casa e comida é gato e cachorro. kkkkkk

    A mulher quando se casa, espera que o marido cumpra a “obrigação do matrimônio”, com ela, e não na rua..

    Grande abraço!

    • Obrigada pela amável presença, prezado Beni Tavares!

      Aprendi o termo “choro-baixo” em Nova-Cruz (RN)…rsrsrs

      São as paixões clandestinas…rsrsrs

      Bom final de semana!

  3. Cara Violante, quer dizer que o verdureiro, além de atender as necessidades da Mara, quando Silvino estava fora, também era chegado em um repolho e teve incontinência fecal?

    Isso parece que está virando moda, pois ontem mesmo um ator Global lacrador de 1ª linha teve uma incontinência destas ao vivo em um podcast na internet e, numa cena altamente constrangedora teve que pedir para sair, pois havia cagado nas calças quando falava mal do Bolsonaro.

    Imagino a história que correu na cidade: “Silvino cornudo agride o verdureiro cagão”

    • Obrigada pelo comentário gentil, prezado João Francisco!

      Pois é, amigo. O verdureiro que fazia caridade à madame desprezada pelo marido devia comer muita verdura já “moída”, que fermentava no intestino. E o medo do “flagra” desmantelou a digestão. Vieram os flatos, os espirros e o mau-cheiro de enxofre…Foi azar pra mil e seiscentos diabos. rsrsrs…

      Bom final de semana!.

  4. Este problema, de defecação de forma involuntária, está mais ligado a quem teve as pregas do orifício póstero-lombar afolozadas por instrumentos incisos perfurantes.

    Quem é adepto desta prática costuma ficar feito vaca: CAGANDO E ANDANDO!

    • Obrigada pela honrosa presença, prezado adonisoliveira!

      Concordo com a sua opinião, de que a defecação de forma involuntária, “está mais ligada a quem teve as pregas do orifício póstero-lombar afolozadas por instrumentos incisos perfurantes”. kkkkk

      Entretanto, no caso em apreço, acredito que o verdureiro “se cagou” mesmo foi de medo do “magnífico cornudo”. kkkk

      Grande abraço.

  5. Eita ferro! Daria meu dinheiro para ver o mocinho valente liberando suas vontades por outro orifício.
    Valeu, Divina. Arreganhei meus beiços de tanto rir.
    Tenha um excelente final de semana.
    Beijocas estralosos.
    Magnovaldo

    • Obrigada pela agradável presença, prezado Magnovaldo!

      O mocinho valente e sua “amada amante” nunca imaginaram que, naquele dia, o corno fosse chegar tão cedo em casa….

      O susto que o verdureiro levou provocou-lhe um revestrés na barriga, com uma bruta “caganeira” e um festival de flatos, cujo mau cheiro de enxofre empestou o ar. De quebra, o infeliz “mancebo” ainda teve crises de espirros, quebrando o silêncio do esconderijo. Foi moleza muita!!!kkkkkk
      . .
      Beijocas para você também e um excelente final de semana!.

  6. Vivi, minha linda,

    Sexta bem? kkkkkkk

    um “choro baixo” pelo verdureiro…

    Minha sogra, que também possui um “choro baixo” pelo verdureiro e todo tipo de entregador que bate à porta, riu muito da crônica da Pimentel, dizendo que a moça potiguar bate um bolão às sextas-feiras, diferente do imprestável Sancho, a quem ela não perde tempo lendo.

    Vivendo, aprendendo e “gostando” cada vez mais da sogrona … gostei do “choro baixo”, pedindo à musa sexta-ferina autorização para usar tal termo em crônica sanchina futura.

    Um beijo,um queijo e até a proxima crônica, querida senhora de todas as sextas.

  7. Seja bem-vindo, Sancho! Obrigada pela agradável presença.

    Um “choro baixo” pelo verdureiro resultou numa bruta “caganeira”, em merecida homenagem ao magnífico cornudo. kkkkk

    Coitado do rapaz.. Será que valeu a pena.o risco que ele vinha correndo? “Algum dia a casa cai”. E caiu!!!!. kkkkkkk

    Use e abuse do “choro baixo”, que cabe como uma luva em certas situações…

    Um beijo e um queijo para você também!

  8. Só pra lembrar aos colegas que curtem Nubia Lafayette que existe uma banda de nome Realeza da Seresta, aí em Recife, que interpreta todas as musicas desta maravilhosa cantora.

  9. Violante,

    Parabéns pela excelente crônica deixando minha sexta-feira alegre. O seu bem-humorado texto me fez conhecer algumas expressões como “choro-baixo”, “o lanche”, emitindo outros sons de “Afonso” e “caiu na vida”.
    Aproveito a ocasião para compartilhar uma piada de corno, que achei criativa, com a prezada amiga.

    VENENO LETAL

    Uma mulher entra na farmácia e pede ao atendente que lhe traga 10g de cianureto. O rapaz, curioso, pergunta para quê ela precisa dessa substância tão letal. Ao que ela responde com a maior calma do mundo:

    — Para matar o meu marido!

    — Mas senhora, isso é crime, e…

    Antes que o rapaz terminasse de falar ela puxou uma foto da bolsa onde o marido estava na cama com a mulher do atendente.

    Ele, com ódio, diz:

    — Ah, a senhora tem receita!

    Desejo um final de semana pleno de paz, saúde e alegria

    Aristeu

  10. Obrigada pelo generoso comentário, prezado Aristeu!
    Fiquei feliz com suas palavras.

    Meu vocabulário interiorano é muito vasto. Uma vez por outra me vem à memória alguma expressão hilária, que eu ouvia na época da minha infância e juventude…

    Obrigada por compartilhar comigo esta engraçadíssima piada do corno da farmácia. Ele deve ter continuado corno o resto da vida….kkkkkkkkk..

    Desejo a você também, um final de semana pleno de paz, saúde e alegria!.

  11. Excelente história, Dama Violante!

    No nosso mundo machista – mormente no nordeste – cresce o numero de feminicídio.
    Geralmente, em caso de traição, é notório o ímpeto do corno em querer eliminar a companheira.
    A esses que, depois, com mais calma, vão procurar o divórcio, eu conto uma historinha muito convincente. Digo, fez bem em não ter atentado contra a vida dela, pois você iria galgar uma serie de horarias e medalhas indesejáveis. Siga o raciocinio: 1º CORNO, depois ganha medalha de ACUSADO, em seguida é homenageado como ASSASSINO, logo em seguida recebe a honraria de CONDENADO, seguindo a trilha, torna-se PRESIDIÁRIO e, por ultimo, VIADO. Sim, presos “abusam” de quem mata mulher ou criança.
    E ainda acrescento, depois você pode tornar-se um CORNO CIGANO Aquele que toda vez que leva chifre, muda de bairro. Ou CORNO POLÍTICO O que só faz promessa (vou matar esse cara).

  12. Obrigada pela gentileza do comentário, prezado Marcos André!

    Sua análise foi muito sensata. Se o corno tivesse cometido um feminicídio, teria sofrido as con sequências que você citou.

    O crime não compensa, nem para o advogado. rsrs.
    A violenta emoção passa, e o arrependimento não absolve ninguém.

    O bom da história foi que Mara “caiu na vida” para sobreviver, protestando sempre que não seria ela a primeira nem a última mulher a colocar chifres no marido, pois como diz a música do compositor Rossini Pinto, interpretada por Núbia Lafayette (1972), “não é só casa e comida que faz a mulher feliz”.

    Grande abraço, e um excelente final de semana!

    ..
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