Mãe Oxum, a protetora do pau mole
Rita Parrecão era uma morena exuberante, monumental. Um metro e oitenta centímetros de pura beleza tropical, olhos da cor do mar, coxas grossas e bem delineadas, joelhos torneados, cintura de pilão, cabelos pretos, cacheados, batendo na cintura. Mas apesar de todos esses atributos femininos naturais que chamavam a atenção de todos que a viam, ela era cismada com qualquer bicho fêmeo que tentasse se aproximar do marido para quaisquer conversês.
Certo dia pôs na cabeça que Adamastor da Silva, seu marido, comerciante de Secos e Molhados bem sucedido no bairro, estava fofando a empregada Tonha de Zefa, matutinha assanhada que ela mesma teria trazido do interior para ajudá-la nos afazeres caseiros e cuidar das três filhas menores.
Para provar o improvável, o que só existia na sua imaginação, Rita Parrecão armou várias arapucas para ver se pegava o marido traçando a empregada dentro ou fora de casa. Mas não conseguia porque tudo não passava de coisas de sua cabeça, idealização à traição.
Insatisfeita por não obter resultados positivos de suas desconfianças delirantes, Rita Parrecão disse ao marido que precisava visitar a família no interior, pois a mãe estava doente, mas sua pretensão era consultar Mãe de Oxum, a mais famosa macumbeira da região, especialista em descobrir traição de maridos infiéis que andavam mijando fora da bacia.
Consulta feita, preço combinado. Detalhes da execução do “serviço” foram acertados verbalmente entre a contratante e a contratada. De cara, Mãe de Oxum exigiu três galinhas pretas, três caixas de charuto vendido no armazém de Seu Mané Rolim. No mesmo dia, depois de participar da primeira sessão de descarrego, Rita Parrecão volta para casa satisfeita com o resultado dos primeiros ensaios, com todos os caboclos recriminando “os atos do marido”…
À noite, antes de deitar-se, ela entra em transe, dá umas sacudidelas no corpo incorporado por uma entidade recomendada por Mãe de Oxum e tibunga debaixo do lençol nua, onde já encontra o marido, deitado e, para sua surpresa, roncando feito um porco, fato esse nunca lhe acontecido antes.
Mais seca do que o mês de janeiro em Pico para as camaradagens com o marido, ela começa a passar a mão nos trololós dele, que não se intumescem nem a pau. Dormindo estava dormindo ficou, e ela na maior frustração.
Passou a noite nessa agonia e no outro dia, quando se levantou, fez o café de Adamastor da Silva, serviu-o e, curiosa porque o maridão não a procurou para dá uma, perguntou-o:
– Meu filho, você ontem não me procurou. Foi dormir tão cedo. Que sono foi aquele que deu em você?
– Minha filha, eu não sei por quê, mas de ontem para cá eu estou sentindo uma coisa estranha na minha tesão. Eu estou sentindo que estou perdendo a potencia sexual por você. Até o pau encolheu como você pode ver aqui – e arriou o zíper mostrando a mulher o desmantelo.
Quando viu a cena do feitiço inverso, o pingolim do marido lânguido, desiludido, Rita Parrecão endoidou. Inventou uma nova viagem ao interior para procurar a mãe de santo e desfazer a mandinga. Ao chegar no interior, aflita, procurou Mãe Oxum, que para sua desdita tinha tido um infarto fulminante na noite anterior e batera as botas. O corpo estava sendo velado.
Como a mãe de santo pregou um nó que só ela mesma poderia desatar, o que aconteceu com várias mulheres da região que, naquele instante chegavam contando o mesmo dilema, o consolo de Rita Parreção foi o de ter de conviver com o badalo do marido murcho e ficar na espreita para um dia o pau ressuscitar.
Desse dia em diante Rita Parrecão aprendeu uma lição por ter ficado sem o pau ardente do marido toda noite, a não ser apelando à cabocla Jurema, milagreira do pau mole, a ressurreição do “bicho”: quem não pode com a mandinga não carrega o patuá.
Sua crônica está impagável, querido colunista Cícero Tavares, a começar pelo nome da distinta, Rita Parrecão. Esse monumento feminino, que você descreve com perfeição, botou na cabeça que o marido estava “fofando” a sua empregada,(rsrsrs). Movida pelo ciúme, terminou levando uma rasteira de uma macumbeira, a quem recorrera para pôr fim ao namoro imaginário do marido. Bom demais!!!rsrsrs
Um abraço.
Digníssima Violante Pimentel, estou orgulhoso e honrado com o seu comentário. Vale um abraço.
Olhe que Adamastor da Silva não era essa coisa toda de boniteza não! Mas Rita Parrecão lhe tinha uma paixão doentia, coisas que só a psiquiatria pode explicar ou não.
“Quem ama o feio bonito lhe parece!” Essa máxima se encaixa perfeitamente na paixão doentia dela por Adamastor da Silva.
Talvez o caso de Rita tenha sido o de o marido lhe dar uma atenção máxima na cama e fora da cama. Coisa de casal que se entende.
Obrigado amiga do coração por compartilhar com a minha alegria. O Jornal da Besta Fubana nos proporciona essas alegrias. Muito bom para o nosso espírito.
Essa crônica foi reproduzida no Blog. O Novo Bar de Ferreirinha de hoje, o que me deixa muito orgulhoso.
https://novobardeferreirinha.blogspot.com/
Belíssima crônica, Mestre Cícero.
Pobre Rita. O feitiço virou contra o feiticeiro.
Obrigado digníssimo amigo do coração Marcos André M. Cavalcanti.
São comentários feito o seu e de outros colegas que nos deixam orgulhosos e felizes.
As tensões da pandemia em todos os setores da sociedade que está sofrendo muito a guerra desse vírus chinês desaparece quando temos em mãos o humor para nos expressarmos.
Obrigado amigo do coração por compartilhar comigo esse texto que foi bolado eu caminhando para mostrar uma casa a um cliente.
Para minha alegria essa crônica, que compartilho com o amigo do coração, foi publicada no Blog. O Novo Bar de Ferreirinha, o que me deixa orgulhoso.
https://novobardeferreirinha.blogspot.com/
Saravá, Pai Ciço da besta fubana.
Esse despacho está incompleto.
Eu acrescentaria, além das galinhas pretas e dos charutos,
um litro de whisky escocês para dar mais moral e mais firmesa., e
sete notas de 200 pilas, não servem notas velhas de 100.
Garanto que o resultado seria muito diferente.
Obrigado amigo do coração D.Matt.,
Um comentário seu elogiando essas bobagens que escrevo para as páginas do JBF, assim como o dos outros admiradores, me envaidecem e enchem de alegria meu espírito.
Guimarães Rosa, o mestre de Grande Sertão: Veredas, costumava colocar as críticas negativas a seus livros de cabeça para baixo e as positivas, de cabeça para cima, no mural em sua casa no Rio de Janeiro.
Os críticos “negacionistas” à sua obra sumiram na teia do esquecimento enquanto Guimarães Rosa tornou-se imortal.
Todo elogio será sempre bem vindo, amigo do coração, e do seu em especial. E dos outros também.
Para minha surpresa essa crônica foi reproduzida hoje no excelente Blog. O Novo Bar de Ferreirinha.
Compartilho com todos o feito.
Mestre Cícero, segue relato veridico do nosso mundo jurídico e espiritual.
O religioso que prestar um serviço espiritual e não receber o valor combinado com o contratante pode entrar com uma reclamação na Justiça do Trabalho e ser indenizado. O entendimento é da juíza Bianca Libonati Galúcio, da 3ª Vara do Trabalho de Macapá, que decidiu conceder indenização a um pai-de-santo. As informações são do site Jus Navigandi.
O pai-de-santo alegou que não recebeu por um serviço espiritual prestado e conseguiu indenização de R$ 5 mil. Ele relatou que fez um trabalho espiritual para a proprietária de um frigorífico. Como não recebeu pelo serviço prestado, pediu na Justiça do Trabalho R$ 15 mil a título de mão-de-obra e outros R$ 1,8 mil para custear os materiais utilizados.
A dona do frigorífico, em sua defesa, alegou que os serviços não foram solicitados nem surtiram efeito. A juíza não aceitou o argumento. Ainda cabe recurso no caso.
Se o mal persistir recomenda Sancho que dona Rita procure os serviços de MacumMeire, charuteira de encruzilhada das mais eficazes, responsável por Sancho agradar a esposa, as quadrigêmeas amantes tailandesas e as vizinhas fogosas cujos maridos já não estão dando no couro.
MacumMeire, charuteira de encruzilhada atende ás sextas-feiras, da meia-noite à uma da madrugada na encruzilhada perto da antiga bica de água mineral, próximo à antiga Votorantim, em Resende-RJ.
Que fantástico texto. Eu adoraria vê-lo ilustrado, como quadrinhos.
Cícero, quase me engasgo de rir. Coitados…. Aproveitando, podia convidar o D Matt para o Cabaré. Nunca apareceu…