MAGNOVALDO BEZERRA - EXCRESCÊNCIAS

A jovem chefe do Laboratório Químico da empresa metalúrgica para a qual trabalhei por onze anos em São Paulo, Maria Isabel, além de extremamente competente nos seus afazeres, era uma graça de mulher.

Graça em todos os sentidos: físico, espiritual, moral, artístico, humorístico e bundístico.

Suas curvas eram perfeitas.

Aos finais de semana participava de um grupo teatral que majoritariamente apresentava peças de contestação política e social, quando se revelava uma primorosa atriz.

Em um longínquo dia do ano de 1989, perdido nas brumas do tempo, foi contratado um novo Diretor Executivo da Empresa. Homem sério, extremamente formal com procedimentos e aparências, teve como uma de suas primeiras decisões a determinação de que todos os funcionários deveriam portar crachás, convenientemente recheados com foto, nome, função, número de matrícula e alguns outros parangolangos dos quais não me recordo.

Como toda boa descendente de espanhóis (¿Hay gobierno? Soy contra!), Maria Isabel não nutria nenhuma simpatia por ordens, principalmente as de caráter burocrático como aquela em questão. Claro que lhe impuseram, mesmo a contragosto, um crachá devidamente plastificado e conforme as novas regras.

Usá-lo? Bem, isso era um assunto que merecia uma séria discussão e vossuncê não pode se esquecer que Maria Isabel era uma rebelde por natureza.

E assim uma semana depois uma ordem mais severa do novo Diretor surpreendeu a nossa querida Maria Isabel na entrada da portaria da fábrica. O diálogo entre Maria Isabel e o guarda de segurança foi um primor de entrevero dialético-filosófico que faria inveja ao bate-boca entre o decano Marco Aurélio e o meganha Alexandre Cabeça-de-Ovo:

– Dona Maria Isabel, a senhora precisa ter um crachá, sem o qual não vai poder entrar.

– Mas eu o tenho. Está aqui na minha bolsa.

– Na bolsa não serve. Tem que estar aparente.

– Mas todo mundo sabe quem eu sou; até o senhor, que me chamou pelo nome.

– Eu sei quem a senhora é, mas tem que botar o crachá em lugar bem visível, de acordo com o memorando do sr. Diretor.

– Essa ordem é flagrantemente besta, idiota, cretina e beócia, mas não se preocupe, vou cumpri-la e botar esse maldito crachá em um local bem visível.

E espetou o crachá na bunda.

O guarda ainda tentou argumentar:

– Tem que ser na parte da frente.

– Olha, o memorando diz que tem que ser em um lugar bem visível. Pois não há lugar mais visível, observado, notado e comentado em mim do que minha bunda!

Bem, contra fatos não há argumentos e daí em diante Maria Isabel passou a pendurar o crachá no coruscante rabo, para desgosto do sr. Diretor e gáudio dos olhos da rapaziada.

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