CÍCERO TAVARES - CRÔNICA E COMENTÁRIOS

Texto escrito por Luis Antonio Tavares Portella, filho deste colunista e estudante de Biologia da Unicap-PE.

Imagem irônica feita à época da exacerbação da censura em Hollywood

Hoje em dia, parece impensável a ideia de censura e limites à liberdade de expressão de um artista, porém é interessante lembrar que cerca de 90 anos atrás um dos maiores guardiões (atualmente) da liberdade de expressão foi palco de um código de censura moral imposto sobre a arte, e estamos falando dos Estados Unidos, mais especificamente, de sua indústria cinematográfica.

Voltando no tempo, em 1922, após uma série de filmes polêmicos e escândalos envolvendo estrelas de Hollywood, os estúdios de cinema decidiram por criar uma associação, conhecida formalmente como Associação de Produtores e Distribuidores de Filmes da América (Motion Picture Producersand Distributorsof America – MPPDA). Para comandá-la, foi contratado o líder presbiteriano Will H. Hays como presidente, numa tentativa de restabelecer a boa imagem de Hollywood perante a sociedade americana da época. Hays, então ex-diretor-geral do Serviço Postal dos Estados Unidos, e um membro proeminente do Partido Republicano, recebeu um extravagante salário para defender a indústria dos sucessivos ataques externos.

Nesta mesma época, líderes religiosos, civis e políticos condenavam a indústria cinematográfica como uma fonte de imoralidade. A pressão política sobre os estúdios estava cada vez maior, com cerca de mil projetos de lei censurando o cinema sendo discutido em 37 dos estados americanos.

Isto foi possível devido a uma decisão da Suprema Corte em um caso em 1915, onde foi decidido que a Primeira Emenda da Constituição não se aplicava ao cinema. Com base nesta decisão, em 1921 o Estado de Nova York criou um comitê de censura, sendo seguido pelo Estado da Virgínia e outros. De repente, cerca de oito estados possuíam um comitê de censura, o que significava que um único filme deveria se submeter às diferentes regras de cada estado. Os cineastas, com medo de que logo cada estado e cidade adotasse seu próprio código, fazendo com que fosse preciso produzir diferentes versões do mesmo filme para cada região, aumentando em muito o gasto com a produção, começaram a pensar em um sistema de autocensura, um imposto pela própria Associação, para que acelerasse a liberação dos filmes nas diferentes regiões. Se eles mesmos censurassem seus filmes, os outros comitês não teriam do que reclamar.

Foi quando Hays sugeriu aos chefes de estúdio a criação de um comitê para debater como seria feita essa censura aos filmes. Os chefes dos principais estúdios responderam ao chamado e criaram uma lista chamada de “os “não pode” e “tenha cuidado” dos filmes”, baseada nas reclamações dos comitês de cada estado. A lista era longa e trazia onze assuntos que deveriam ser evitados e vinte e seis que deveriam ser tratados com cuidado pelos diretores. Logo essa lista foi aprovada pela Administração Federal do Comércio (Federal Trade Commission – FTC) e Hays se pôs a criar o Comitê de Relações com os Estúdios (Studio Relations Committee – SRC), para fiscalizar a implementação. Entretanto, ainda não havia uma forma eficaz de controlar o conteúdo dos filmes, e a sociedade passava pela Grande Depressão de 1929, aumentando a controvérsia e as polêmicas sobre os seus conteúdos.

Foi então formulado o Código Hays, conhecido oficialmente como Motion Picture Production Code ou Código de Produção de Cinema, um conjunto de normas morais aplicadas aos filmes lançados nos Estados Unidos pelos grandes estúdios cinematográficos. Sob a liderança de Hays, a MPPDA (Motion Picture Producersand Distributorsof America), mais tarde conhecida como MPAA, adotou este código de autocensura em 1930, sendo aplicado de maneira mais rígida a partir de 1934. A partir de agora, o código diria qual conteúdo era aceitável ou não-aceitável para os filmes produzidos nos Estados Unidos.

Entre 1934 e 1954, sob o regime de Joseph Breen, administrador indicado por Hays para supervisionar a implementação do código enquanto diretor da PCA (Production Code Administration), a indústria seguiu o código à risca. Durante sua regência, os filmes que se adequavam ao código recebiam um selo de aprovação da Associação, enquanto os reprovados eram proibidos de serem distribuídos pela entidade, o que reduzia bastante seu alcance junto ao público e suas chances de êxito comercial. Além disso, os estúdios infratores recebiam uma multa de cerca de 25 mil dólares na época.

A partir de 1956, devido ao impacto da televisão, à influência de filmes estrangeiros, à presença de diretores controversos que não aceitavam as restrições e à intervenção da Suprema Corte, o código começou a sofrer mudanças. Com a contracultura dos anos 1960, os cineastas se tornaram mais ousados e começaram a violar o código de maneira deliberada. Em 1964, o diretor Sidney Lumet incluiu cenas de mulheres nuas em seu filme “O Homem do Prego” (The Pawnbroker – 1965). Foi um dos primeiros filmes a trazer cenas de nudez e embora a MPAA tivesse garantido que se tratava de uma exceção, pouco tempo depois outros diretores começaram a ousar e o Código Hays passou a ser cada vez mais ignorado. Perdendo sua força com o tempo, foi derrubado e substituído em 1968 pelo Sistema de Classificação Indicativa por Idade da MPAA, que está em vigor até hoje.

A MPAA ainda concede um selo aos filmes que são distribuídos pelos estúdios que fazem parte da Associação. Este selo contém a classificação indicativa da obra em questão, sendo: G (conteúdo livre para todas as idades); PG (algum conteúdo inadequado para crianças); PG-13 (algum conteúdo inadequado para menores de 13 anos); R (menores de 17 anos precisam de acompanhamento) e NC-17 (conteúdo adulto – proibido para pessoas com 17 anos de idade ou menos).

12 pensou em “O CÓDIGO DE HAYS

  1. Ritinha,

    Nem eu mesmo sabia, Jesus de Miúdo.

    E como Luis Antonio está estudando Biologia da Católica, jamais imaginaria que ele chegasse para mim com um texto desse sobre censura, e logo onde: nos Estados Unidos.

    Mas ele justificou para mim: o sujeito que não souber de tudo um pouco, Painho, fica “boiando” em conversas de intelectuais sérios. Daí eu me interessar também por cinema, e os clássicos, como o senhor. É onde a gente encontra a força que vem da arte sem artifícios tecnológicos.

    Obrigado, grande poeta. em nome de Luis Portella.

    • Mestre Adônis Oliveira,

      Luis Antonio me faz emissário dele para lhe agradecer as palavras de conforto do mestre que o pai tanto admira pela sapiência.

      Ele também não tinha conhecimento que a maior Democracia do Mundo permitia-se à indústria de cinema criar um órgão de conduta para censurar cineastas e filmes em pleno início do século XX. Mas não se pode esquecer que era uma questão particular e não uma interferência do estado na censura.

      Embora o Brasil tenha repetido a mesma experiência na época militar, mas dentro dum contexto social diferente, onde a esquerda burra, improdutiva, canalha e incompetente, queria assumir o poder avacalhar com a decência.

      Obrigado, mestre mais uma vez pelas palavras de respeito.

      Luis Antonio agradece.

  2. Presado amigo Cícero.

    Não vou dizer que fiquei surpreso com esse excelente artigo , escrito por
    um estudante de Biologia. Acontece que ele foi se inteirar de um assunto, no
    qual o seu pai tem demonstrado um elevado conhecimento, com textos
    de farta qualidade e informação e como não podia deixar de ser, ele foi
    influenciado , principalmente por ter acompanhado e estudados, naturalmente,
    todos aqueles belíssimos e didáticos textos sobre grandes filmes.
    Como não se fazem filmes sem organização, regras e procedimentos legais,
    próprios de cada industria, ele foi buscar no nascedouro, o que e como
    das regras pertinentes e sem dúvida necessárias
    O resultado foi esse artigo esclarecedor , o qual nos habilita a conhecer melhor e julgar o porque da evolução dos conteúdos no nascedouro da industria cinematográfica e
    entender como a sua evolução ( muitas vezes super involutivas ) se portaram
    com o passar de décadas de trabalho, progresso e criação de uma arte que
    sem dúvida propiciou o conhecimento mundial do modo de vida comportamental
    e , mudanças e exemplos em todo o mundo civilizado.

    Como estudante de cinema e fanático por filmes, vou guardar esse texto nos meus arquivos e consulta-lo , quando preciso, no futuro, pois aqui temos o melhor ´ mestre muito mais digno de crédito que alguns eminentes e auto intitulados
    professores da sétima arte.

    Esse é um texto que eu gostaria de ter escrito, fico invejoso de
    tamanha compreensão de um assunto que muito me agrada e
    faço por onde me manter informado.

    Peço licença ao Luiz Antônio, para assinar embaixo. Eu teria muito orgulho
    de ter criado um texto igual a esse.

    Um grande abraço, filho do Mestre.

    • Ciço,

      Por Darwin,

      “Seu minino”, estudante de Biologia, deixou de lado a tese sobre a beleza anatômica das pererecas trepadeiras e nos brinda com o que é próprio ou impróprio na Sétima Arte.

      Diversificar o “conhecimento” sempre é bom. Os textos do garoto trazem mais luz para este já tão luminoso farol fubânico.

      Mas, brilhante mas, enquanto o rapaz estuda, vamos nós à caça, nos brejos puteríficos das estradas da vida, de exemplares ainda por conhecer.

      Abração Ciço e D Matt, mestres de Sancho na arte de bem viver.

      ,

      • Mestre Sancho,

        Seu bom humor e seu amor à vida têm o respaldo de Maria Bago Mole, que anda me fustigando para eu levá-lo a uma festa de arromba que vai acontecer no cabaré.

        Ela me solicita a presença também do D.Matt., para contar a emoção que teve, como repórter, de entrevistar a diva jazz, Sarah Vaughan, seu corolário

    • Mestre D.Matt.,

      Luis Antonio Tavares Portella se sente muito orgulho com o seu comentário a algo que ele escreve junto comigo para o JBF, a casa de todos.

      Já apelei a ele para assumir uma coluna para o JBF mas devido aos problemas psiquiátricos por que ele sofre que o impedem de assumir uma coluna, eu me calo, não tenho argumento.

      O argumento é amá-lo do jeito que ele é com suas limitações e interações sociais.

      Solicitei a ele um novo tema a critério dele e ele me prometeu algo novo.

      Aguardemos.

      • Ora, Ciço,

        Os problemas de jovem o fazem UM vencedor, pois a eles não se entrega. Quanto à coluna no JBF certamente o Berto não se opoia se ele escrevesse apenas quando fosse possível.

        Seria, inclusive, uma possibilidade a mais para interação e bom convívio com essa maravilhosa gente fubânica.

        Abração, manu véi.

        • Sancho, meu Chapa. Como carioca, tomo a liberdade de chama-lo de Chapa, pois sei que
          como otoridade em gíria, conheçes o significado
          do conceito ( dito engenhoso) carioquês da gema.
          Estou cem por cento com a sua acertada sugestão de que o jovem e brilhante estudante, faça as suas
          crônicas, quando possível, sem obrigação de datas marcadas e sempre à critério de sua vontade e
          possibilidades, sem prejudicar os seus estudos.
          Pelo que ele já nos demonstrou em ensaios anteriores, não perdemos por esperar, pois a sua inteligência nos convida a aguardarmos grandes surpresas.
          Caríssimo cronista, aguarde , pois fui informado com detalhes de algumas aventuras futuras e que acontecimentos inusitados ocorreram no Cabaret de Maria Bago Mole, e fiquei sabendo que o Sancho,
          carregando uma trupe de jegues lotados de cocos verdes, e chegando ao Cabaret é muito festejado
          e participa de algumas aventuras no festim cabaretiano. É claro
          que devido a sua fama que já ultrapassou as
          páginas famosas do JBF. , a sua presença é exigida e recebida com grandes festas, mesmos que
          alguns destemperos não esperados, aconteçam,
          envolvendo a sua figura, já um tanto conhecida e
          respeitada naquela região,
          Essas informações me foram transmitidas, confidencialmente, pelo Mestre Cícero, Pai, Autor, Criador e arauto das aventuras e desventuras Cabaretianas que tanto aguardamos com grande expectativa.
          Enquanto espera, gratifique a sua mente
          com alguns blues divinos e Jazz da melhor qualidade, como por exemplo, ,ouvir Misty na
          voz da divina Sarah Vaughan .
          Abraços.

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