CÍCERO TAVARES - CRÔNICA E COMENTÁRIOS

Comunidade do Tururu, Paulista-PE

Corria o ano de dois mil e dois. Ano que a galera medonha já se preparava em todo Brasil para tentar se eleger vereador ou prefeito, dando os primeiros passos na arte de articular o mecanismo para assaltar o erário público legitimado com a outorga do eleitor.

Como já tinha tido outras experiências malfadadas em eleições anteriores e já se considerava preparado para enfrentar novo desafio eleitoral, Dr.º Marcos não perdeu tempo. Filiou-se a um partido nanico, planejou a campanha e caiu em campo com garra e coragem, sem ajuda financeira do partido ao qual era filiado.

Como possuía um vasto prontuário de clientes que poderia utilizar como cadastro de contato, informou a todos que estava atendendo na comunidade do Tururu, do Rato e Chega Mais, fazendo consultas de graça em dias alternados, entregando remédios, fazendo exames. Por dia atendia de trina a cinquenta pacientes. E o povo era Dr. Marcos para cá, Dr.º Marcos para lá. Todo dia era uma verdadeira romaria de doentes a procurar Dr.º Marcos, e a cada pessoa atendida ele entregava seu número de candidato.

Também visitou todos os cabarés, freges, quermesses, para informar às pessoas que estava candidato a vereador. Nada escapava às suas investidas políticas, de doze a dezesseis horas por dia de domingo a domingo, seis meses antes do pleito.

Um mês antes das eleições era impressionante a quantidade de pessoas que o procuravam para se consultar e dispostas a trabalhar para ele como voluntária na campanha, sonhando em ver um médico de confiança na vereança do município para atender a população carente, como ele já fazia há muito sem pretensões vereanças.

No último dia antes da votação a campanha foi intensificada, e sem ajuda do partido, Dr. Marcos, crente da vitória, com recursos próprios, empenhou até o Fiesta-2002 para pagar as despesas com propagandas, camisas com estampa do número dele, confecções de santinhos, pagamentos de fiscais de boca de urna, panfletagens, lanches, almoços…

Terminada a eleição, vem a apuração dos votos. Para a decepção do Dr.º Marcos e seus eleitores leais, seu desempenho nas urnas foi tão pífio que o papudinho Tião Cu de Cana, da Comunidade dos Milagres, teve mais voto do que ele!

Decepção geral dele e de todos que faziam parte da sua equipe. Muita gente que trabalhou com honestidade para ele chorou ao ver o resultado das urnas. Tentou-se buscar explicações para o fracasso nas urnas, mas ele nunca quis saber embora tivesse uma ideia do por quê.

Passadas as eleições a vida voltou ao normal para Dr. Marcos. Todo dia chegava gente no Hospital das Clínicas onde ele atendia com o mesmo profissionalismo, nos Postos de Saúde das comunidades carentes, nos Consultórios particulares…

Mas qual a causa do fracasso, do fiasco de Dr.º Marcos nas urnas, um homem tão querido de todos? – Indagavam os mais chegados a ele.

Uma semana depois do fisco nas urnas, uma romaria de pessoas leais a Dr.º Marcos e decepcionada com o resultado das urnas, veio ter uma conversa com ele e lhe explicar o motivo do fracasso colhido boca a boca das pessoas nas comunidades:

– Dr.º Marcos, todos que estamos aqui presentes viemos nos solidarizar com o senhor pelo resultado negativo das urnas que não lhe elegeu, embora tivéssemos certeza da vitória. Infelizmente o povo não votou no senhor em massa porque o povo não suportava aquela mulher do senhor. Olhe, o senhor nos desculpe, mas aquela mulher do senhor é a pessoa mais intragável de mundo! O senhor só perdeu a eleição por causa dela – disse o emissário da comitiva, presidente da comunidade do Tururu. Eu só votei no senhor porque sou um homem de palavra, mas não podia obrigar as pessoas!

– Todo mundo que a gente consultou ficou pensando assim: Se aquela mulher de Dr.º Marcos já tem o rei na barriga, se acha as pregas de Odete sem Dr. Marcos ser vereador, imagine ele vereador? Como a gente vai ter acesso a ele com uma criatura intragável daquela ao lado dele feito piolho de cobra e chata que só o caralho?

Dr.º Marcos não disse nada. Ouviu a todos calado. Agradeceu a gentileza da visita e a honestidade de todos por dizer a verdade, mas tinha a certeza de que o fracasso das urnas era por causa da manteúda mesmo! E ficava pensando na máxima do pai: Cuidado com a paixão de mulher fogosa e possessiva! Ela pode deixar você abilolado, só pensando naquilo e estragar qualquer projeto seu!

Foi o que aconteceu e a paixão dura até hoje!

12 pensou em “O CANDIDATO, A MANTEÚDA E A ELEIÇÃO

  1. Ceio, digo estou aguardando, um livro de crônicas do cronista maior do JBF intitulado mais ou menos assim: “Bastidores da política no Nordeste: causos e casos”

    • Caríssimo Brito:

      Obrigado, de coração, pela leitura e comentário.

      Nesse caso eu participei dos bastidores da arrogância humana na figura de mulher.

      Sempre me vinha à cabeça à prostituta de César, Cleópatra, que renegou o cabaré e mandava pôr uma gato morto no priquito da prostituta que olhasse para o seu homem (dela).

      Isso é bíblico e mostra a crueldade humana quando ascende ao poder.

      Quanto à publicação das crônicas, me aguarde!

    • Jesus de Ritinha de Miúdo:

      É um privilégio tê-lo nos comentários das bobagens que escrevo só para não deixar os fatos sumirem nas poeiras das estrelas, como diria o genial cientista e físico americano Carl Sagan.

      Obrigado mais uma vez, Grande Poeta!

  2. Caro Cícero,

    Tu tás cada dia melhor.

    É uma disputa danada: quem é o melhor cronista do JBF? Tem Cícero, tem o Capitão, tem…

    A briga é pra lá de feia! É cada um melhor de que o outro.

    • Meu grande amigo e professor Adônis Oliveira:

      O nobre professor é o tipo do homem de caráter que qualquer sujeito decente (escritor) fica feliz em vê-lo comentado sua obra.

      Por isso mesmo, seus artigos, publicados aqui todos os domingos, eu os leio uma, duas, três vezes ou mais, porque são lições de um mestre – E HONESTO!

      Obrigado, professor, pela participação!

  3. Caríssimo e estimado amigo Ciro.

    Concordo com os comentaristas acima, o nosso amigo
    Cícero está cada dia melhor e não vai demorar muito para gestar um
    livro de crônicas, pois não faltam argumentos, assuntos, causos. etc..
    sem esqueçer as aventuras nada púdicas da famosa Maria Bago Mole.,
    um monumento das lendas do nordeste

    Eta ! gente, quanta aventura !
    Vamos Cícero, estamos torcendo por voce.
    Grande abraço do seu leitor e maior apreciador de suas crônicas regionais.
    Só não entendi o que tem a ver as pregas de Odete ?

    • Caríssimo amigo do coração D.Matt:

      Obrigado pela participação, comentário e admiração às crônicas despretensiosas que escrevo por pura diversão.

      O JORNAL DA BESTA FUBANA É UMA OBRA-PRIMA DE DIVERSÃO, por isso comporta essas hilariedades literárias.

      Com certeza sairá o livro, com as crônicas mais hilárias, mesmo aquelas sentimentais como O FILHO BASTARDO, que a acho ótima.

      Quanto à frase: AS PREGAS DE ODETE, é um nordestez ranzinza.

      Quando alguém está com raiva e ciúme de uma pessoa que ele não gosta, esse alguém vai e diz: “Aquela pessoa só que ser as pregas de Odente. Isto é: “Só quer ser a tal”! “Só quer ser a granfina!”…

      Obrigado, amigo do coração pela leitura e curiosidade da expressão!

  4. Mas, Cícero. O amor da manteuda é mais duradouro que o mandato de vereador. Então, deixa de Marcos consultando. Vai ver que a mulher chata é da causa da outra

    • Brigadão mesmo, Assuero pela leitura e comentário!

      Aqui para nós: ela é chata e arrogante mesmo. Como diz o filósofo Falcão: “Quem é nunca deixa de é!” É o caso dela, a manteúda.

      E olhe que eu reduzir oitenta por cento das presepadas tramadas por ela. Vou colocar numa crônica para publicação.

    • Caríssimo Carlos Ivan:

      Valeu, grande mestre das crônicas econômicas.

      Você está recheado de temas fascinantes para abordar e criticar e apresentar soluções nessa pandemia econômica em que o Brasil vai ficar mergulhado após a crise da coronavírus.

Deixe um comentário para CÍCERO TAVARES Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *