CÍCERO TAVARES - CRÔNICA E COMENTÁRIOS

Ao especialista em filme de faroeste, D.Matt. e ao boa praça, Sancho Pança, admiradores de MBM

Primeira locomotiva da Gretoeste a funcionar nos trilhos construídos em Carpina (PE), apelidada de Maria Farinha

De 1873 até 1950, a empresa britânica Great Western of Brazil, ou Gretoeste, como passou a ser chamada popularmente pelos nordestinos, conseguiu, com a autorização de José Pereira Viana, o Barão da Soledade, desbravar terras desconhecidas para construir ferrovias em quatro estados do Nordeste: Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas e Pernambuco que, quando nacionalizadas, após cem anos de atividade, já possuía o domínio de mais de 1.700 quilômetros de ferrovias, e deixou mais rastros do que os trilhos do trem em sua trajetória.

A Great Western of Brazil, não apenas criou vias férreas para o transporte de passageiros e de carga: açúcar, cana, farinha, como foi a primeira empresa no Brasil a proibir, por contrato, o trabalho escravo na construção e na operação da ferrovia. Tendo, também, em 1923, inaugurado a assistência social no Brasil com uma caixa de aposentadoria e pensões para os trabalhadores.

Quando tomou conhecimento, por meio de suas fontes oficiais e oficiosas: delegados de polícia, comissários de araque, coronéis, capangas, e, principalmente cortadores e carregadores de cana-de-açúcar em carroças de burro, matéria-prima do leva e traz da pujança desenvolvimentista popular, a cafetina Maria Bago Mole, visionária, possuidora de faro canino, não perdeu a oportunidade em organizar seu empreendimento cabarelístico: ir à procura de novas “meninas” pelos sítios, no entorno da zona da mata norte e sul, visando dar mais opções de novos priquitos aos freqüentadores assíduos e aos novos visitantes do cabaré.

Percebendo que a oportunidade era de ouro devido à chegada da estação ferroviária da Gretoeste, que passaria a 300m² do cabaré, dando mais impulso à diversão, a cafetina mais famosa e cobiçada pelos fazendeiros da redondeza, procurou ajuda financeira ao seu amado, Bitônio Coelho, que mandou construir dois quartos modernos dentro do cabaré, padrões Velho Oeste, com banheira, sauna de madeira, cabides para os hóspedes pendurarem suas indumentárias pessoais, como winchester, carabinas, odres e outros instrumentos bélicos, sem contar a construção do projeto de escadaria que dava acesso à sacada do quarto, inovação da época, para os visitantes sondarem o ambiente lá fora.

Antes da inauguração dos dois novos quartos que foram construídos no primeiro andar do cabaré, ala norte, Maria Bago Mole não teve condições de sustentar a curiosidade dos freqüentadores abastados, que queriam por que queriam estrear com suas “meninas”. Para isso, estavam dispostos a pagar as noitadas com uma fazenda de presente à cafetina, à escolha dela, desde que Bitônio Coelho não soubesse das “boas intenções” dos desafetos.

Rápida no gatilho, quais os caçadores de recompensa do velho oeste perseguindo seus prêmios, Maria Bago Mole bolou um estratagema para não desagradar aos seus clientes, nem decepcionar seu amado: nos dias que ele não aparecesse no cabaré para visitá-la, satisfazia a curiosidade dos “homens” em se deliciarem com suas “meninas” nos novos aposentos, mas em troca dos “favores” só cobrava as despesas dos “serviços” oferecidos pela “casa”. Se existia franqueza em Maria Bago Mole com seu amado, era a sinceridade, o respeito, a fidelidade, a lealdade, a honestidade, o amor. Nunca à traição, aos interesses pessoais!

8 pensou em “O CABARÉ DE MARIA BAGO MOLE E A CHEGADA DA GREAT WESTERN

  1. Quando vejo nosso cronista dizer que a “A Great Western of Brazil, não apenas criou vias férreas para o transporte de passageiros e de carga”, tenho que acrescentar que, realmente, criou foi muito mais do que isso. Meus sonhos de criança foram embalados sacolejando em seus trens, em viagens de Garanhuns para São José da Lage, Quipapá, Serra Grande …….

    • Brito,

      Todos nossos sonhos de infância foram embalados pela empresa Great Western of Brazil, que a estatização criminosa o desfez.

      Depois que a empresa britânica foi estatizada tudo virou sucata, descaso e roubalheira.

      Infelizmente.

      No Brasil, até o JUDICIÁRIO deveria ser privatizado.

    • Adônis Oliveira,

      Se a Great Western estivesse sobre o domínio dos ingleses até hoje, o Brasil teria uma imensa ferrovia eficiente, transportando o progresso.

      A iniciativa privada tem de gerir tudo. Todas as empresas públicas têm de serem extintas a bem do Brasil e do desenvolvimento.

      O Cabaré de Maria Bago Mole é esse exemplo pujante. Começou numa vilazinha e tornou-se um imenso cabaré de diversão, oferecendo emprego as todas as putas da época que viviam morrendo de fome, caídas nas sarjeta.

      Criaram moral e respeitabilidade, mesmo vendendo o tabaco.

  2. Ao especialista em filme de faroeste, D.Matt. e ao boa praça, Sancho Pança, admiradores de MBM
    Era Uma Vez no Oeste do oeste do JBF…
    Por Santa Bago Mole,
    Ser citado por Ciço na mesma frase em que está DMatt é daquelas coisas QUE NÃO TEM PREÇO. PARA todo o resto dizem que há Mastercard.

    Abração na dupla Ciço e DMatt, que juntos, valem mais do que uma diligência cheia de barras de ouro cruzando o oeste amaricano com todos os índios cheyennes, apaches, navajos, comanches, blackfeet e sioux em sua perseguição.

    • Sancho Pança, Maria Bago Mole, a cafetina que enxergava a carne mijada de primeira à distância, manda um xêro para ônce e D.Matt., dois especialistas em cabaré, vinho tinto e vinho branco.

      Um xêro para quem for de xêro e um abraço para quem for de abraço, finaliza.

  3. QUERIDO AMIGO CIÇO.

    Ser citado e homenageado pelo ilustre amigo, junto ao Sancho, essa figura já
    lendária neste JBF é uma comenda das arábias.

    Sinto que cada vez mais o meu colega carioca está se tornando tão grande , tal qual uma fábula, suas pegadas estão cada vez mais gigantescas, tal qual as de um lendário ” pé grande “, note, eu disse pé , igual a um daqueles que perambulam pelas
    lendárias e exóticas florestas americanas, muito procurado e nunca encontrado.

    Já aqui, temos mais sorte e toda sexta feira deliramos com seus exóticos e gigantescos textos os quais como portas gigantescas de imensa represa, , quando abertas e vazadas, derraman sua liquidez e nos banham de sabedoria e inteligência.

    Quanto ao meu amigo do coração Ciço, que é para mim uma emoção muito grande
    senti-lo como irmão, haja vista que (como diria o Pelé fando de si mesmo ), o d.Matt
    nasceu solo e sempre carregou às costas todas as acontecências previstas no seu carma terrestre. Agora sinto diferente, pois fui premiado pela amizade
    de uma grande personalidade, que passei a considerar como um irmão, pelos
    préstimos e demonstração de muita amizade.
    Sou um sortudo.

    Ciço, seu texto de hoje está sensacional, o que para mim não é novidade,
    pois tenho acompanhado os seus belos trabalhos aqui publicados, salientando o
    belíssimo texto que você nos brindou, sobre aquele magnífico filme western
    ” Era Uma Vez No Oeste “.
    Continue, têm muitos bons filmes que ficariam ótimos para serem analisados
    por você
    Abraços westernianos.

    • Mestre D.Matt.,

      Como já disse anteriormente em diversos comentários publicados aqui no JBF, para mim é sempre uma honra saber que alguém de uma capacidade e conhecimento extraordinários chegam e reconhecem as coisinhas que escrevo, parodiano Dominguinhos, o gênio do forró além pé de serra, Ennio Morriconne da sanfona universal.

      Tenha certeza de uma coisa, cada leitura, cada filme western de qualidade que assisto, dentre outros temas, têm implícito o seu estímulo, seus comentários sábios e honestos.

      Obrigado amigo do coração mais uma vez.

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