JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

Cabaré da Zefa com publicidade explítica

Acertei o corte da máquina de aparar grama. Vou cortar baixo e, já nesse primeiro parágrafo peço desculpas para aqueles que não usam esse tipo de palavreado chulo – são os que costumam cagar em pé.

Nos idos anos 50, 60 e até meados dos anos 70, quase a totalidade da moçada que namorava não exercia a cultura atual de “pegar a namorada”. Quem “pegava” tinha consciência que estava fazendo algo fora do hoje “politicamente correto” – uma das muitas coisas que acabaram emprenhando nessa geração – e sabia que precisava assumir. Isso é: casar para sustentar o bruguelo.

Mas, quem só ficava nos amassos e se conformava em voltar para casa com a cueca melada e o saco dolorido, precisava recorrer à duas soluções: 1 – descascar uma banana chamada Maria; 2 – ou arrumar uns trocados para bancar a troca de óleo. Foi a geração que mais teve punheteiros nesse Brasil e a que ajudou disseminar a prostituição, transformando as xanas em “produto de consumo” e não “ponte para o amor”.

Não faz muito tempo, puta é alguém de respeito. Muitas putas saíram do puteiro para constituir família. Hoje, em segredo, famílias probas e respeitáveis.

Mulheres aguardando clientes no Cabaré da Zefa

Na Bela Vista, um bairro de Fortaleza habitado por famílias da classe média, existia uma travessa e, nessa travessa, uma única casa pintada com um verde musgo, com muro alto e um portão sempre trancado. Ali morava a respeitável senhora Dona Josefa, viúva que resolveu reconstruir a vida após a morte do marido.

Com a chegada da escuridão e das mariposas, aquele lugar soturno se transformava no “Cabaré da Zefa”, o mais depravado puteiro que existia na periferia.

Quem ali chegasse e não fosse desconhecido, sabia as regras rígidas da casa. E sabia olhar, de imediato, para uma recomendação escrita na parede e iluminada por duas boas lamparinas:

“As putas estão aqui, todas à disposição, e não fazem nada de graça. Não procure quem você deixou em casa.” – Assina, Zefa.

Aviso mais claro que esse, ninguém vai encontrar nem nas prateleiras das bodegas (“Fiado, só amanhã”). Frequentador do ambiente sabia que, ali, tudo era pago e tinha um preço.

Tabela oficial: “Mulher nova, coxuda, com peito grande e duro” – 20 mil réis, com pagamento adiantado. A senha que afirmava que o pagamento fora feito, era um rolo de papel higiênico cor de rosa quase morrendo e um sabonete Eucalol.

Quem pagava mais alto recebia um rolo de papel higiênico branco e um sabonete Phebo. A mulher se dirigia ao “Caixa”, recebia e conduzia o “cliente”. E aproveitava para marcar a hora. Uma hora!

Radiola toca discos – acionada por moedas

E a tabela ainda continha: “mulher magra, com pouco peito, pouca bunda, mas que finge desespero na hora do orgasmo aos gritos de “mais, mais, quero mais” – 15 mil réis; mulher “fria”, gorda, que fica lixando as unhas na hora do sexo – 10 mil réis.

“Empresária” das mais bem sucedidas na venda das xanas das outras, Zefa “só pegava homem” depois de encerrar o caixa do dia, pois não dava trela para ser enganada por ninguém. Nem pelas “operárias”, nem pelos “consumidores”.

Passava o tempo aproveitando para escutar as músicas bregas de Orlando Dias, Núbia Lafayete, Cláudia Barroso, Cauby Peixoto, Miltinho, Evaldo Braga e a turma que, sem saber, fazia a alegria de qualquer cabaré brasileiro. Cada ficha para acionar o bracinho que pegava o disco e levava para tocar, custava 1 mil réis. Quem comprasse 3 cervejas, ganhava uma ficha para acionar o disco.

20 pensou em “O CABARÉ DA ZEFA

  1. José Ramos.

    Que história deliciosa… mesmo o palavreado, de tempos de antanho, não é tão ofensivo quanto certos palavreados “politicamente correto” de hoje em dia. Essa história me deu saudades de um tempo que não vivi, de um Brasil que só conheço por leituras, de uma época que não namorei e não frequentei esse tipo de cabaré. Punheteiros, por punheteiros, sou igual a Tavares – o marido canalha, eterna persona criada pelo grande cearense Francisco Anísio de Paula, nosso Chico Anysio -; “Sou, mas quem não é?… são essas histórias, como a sua que nos fazem grande, fortes de únicos. Obrigado por iluminar o meu domingo.

  2. Bom dia ZéRamos! Voltei no tempo, anos 60 em nossa querida Fortaleza, não pude deixar de lembrar do Bar da Alegria, Boate Monte Carlo, Boate Fascinação, Casa da Leila (Maraponga), Boate Guarany, Pensão da Graça e a Boate do Tatazão o viado mais maxo de Fortaleza encarava sozinho os “puliça de duas Rádio Patrulha. Tempo bom, saíamos e tínhamos certeza que voltaríamos pra casa. Ler suas cronicas aos domingos ´é um bálsamo.

    • Marcos, dessas desgraceiras todas que tu lembraste, só frequentei a Guarany, a Fascinação e a 80. No mais, para satisfazer era tocar uma bronha mesmo. Kkkkkkk

  3. Ramos, tem um cabaré famoso, que funciona toda quinta das 19h30 às 20h30. Não precisa de Viagra. Você precisa aparecer pra tocar um xaxado nesse cabaré. Cabaré do Berto. Tem um monte de homem, mas tem duas senhoras que participam: Violante Pimentel, nossa colunista, e Renata Duarte, uma Caeté porreta, que nos contou as urtimas do purtugueis. Esperamos você na próxima quinta

  4. Assuero: ainda não pude frequentar esse tal cabaré, por falta de alguns equipamentos. Estou providenciando. Mas, já vi algumas vezes e pude constatar como tem macho feio. PQP. O Maurino Júnior consegue ser maio feio que jumenta ajoelhada pedindo bis! Arre égua!

    • Pablo, claro! Repito o chavão do Tavares (Chico Anysio): E quem não foi? Na juventude, amigo, a gente não comia a namorada como a meninada come hoje. Hoje, se você não comer logo no primeiro encontro, ela manda andar e ainda te diz: a fila anda! Por isso que os meninos sequer aprenderam tocar punheta. Quando tocam é nos outros!

  5. Zé Ramos me fez voltar ao passado e me colocou diante de Tia Carmem, na Azenha, Porto Alegre, dona do cabaré das mulheres mais lindas de POA. Para desespero de Sancho Tia Carmem fechou o estabelecimento assim que começou o covid-19 aqui no Brasil…

  6. Aqui em Brasília. Tenho certeza que o Papa Berto também conheceu. Era o Posto 7 Com a famosa W3 e me Planaltina. Onde foi a minha primeira…

    • Frequentei e tenho saudades destes cantos que você falou, meu caro. O ponto na W3 era nas imediações do antigo Cine Cultura. E pra chegar em Planaltina a gente fazia uma pequena viagem, passando por Sobradinho. Saudades, saudades…

      • Viu Lindomar, como o Papa (não o papa-político argentino. O nosso, o sócio daquela roleta de Palmares) sabe das coisas e algum dia já foi da bagaça?!

  7. Lindomar, calma homem. Papa Berto nunca foi chegado a essas coisas. Se assim não fosse, como teria chegado a ser “Papa”?

  8. Sinceramente… Sinceramente, aqui neste antro fubânico não tem nenhum santo e não tem ninguém aqui que não tenha frequentado, ao menos uma vez na vida, um cabaré, um quengueiro, um puteiro, uma casa de recurso, o baixo meretrício, a casa da luz vermelha, o mafuá, o furdunço, o fuá, zona, bagunça, bodega, varieté, bordel, alcoice, conventilho, alcouce, bordei, lupanar, covil, albergue, algar, antro, ninho, reduto, refúgio, toca, harém, prostíbulo, serralho, rendez-vous, baderna, bagunça, folia, discussão, casa da mãe joana…
    “Um lugar desse quando fecha, o mundo fica triste!!” (Ojuara, O Homem que Desafiou o Diabo)

    • Maurino: tu tá pareceno a justicia brasileira. Só aparece se for provocado! Kkkkkk, agora, cuma tua presença, além de confirmar que tu tá vivo, agora vou te provocar todos os domingos. Tu preferias ficar tocando bronha, ou ia mesmo era no alcoice ou no algar? Beijos mil nesse coração do tamanho do Brasil, filho!

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