JORNAL DA BESTA FUBANA

Quem não fica feliz em ter um vizinho honesto?

Afinal, ter pelas vizinhanças um sujeito que faz “gato” com sua conexão da internet ou fica querendo dar veneno para o seu cachorro não é um personagem desejável para se ter ao lado da casa.

Pois bem, digo a vossuncê que presta atenção nas minhas baboseiras, que meu arretado amigo carioca Mario Guedes morava em Chapel Hill, uma cidade de tamanho médio perto de Raleigh, a capital do estado da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, onde se situa a sede da empresa de consultoria para a qual trabalhávamos. O trânsito nessa cidade era muito tranqüilo sendo pouca a quantidade de semáforos, quase todos situados na região central da cidade. Meu amigo morava em um dos bucólicos bairros periféricos e o trânsito era regulado somente pelas placas de “Stop”, ruas preferenciais, velocidade máxima permitida, proximidade de escolas e igrejas, etc.

Nos Estados Unidos a placa de “Stop” significa que você deve “parar com as quatro rodas”, conforme determina o código de trânsito, e dar passagem a quem já tenha chegado antes ao cruzamento. A parada é obrigatória, mesmo que ninguém se encontre no cruzamento ou que vosmecê tenha chegado primeiro.

Em um belo final de tarde de sexta-feira, cansado pela exaustiva semana de trabalho, meu amigo chegou a um cruzamento onde um sinal de “Stop” avisava que deveria parar e certificar-se que ninguém havia chegado antes no cruzamento, e só então prosseguir. Com a visão livre da redondeza, percebeu que nenhum carro estava se aproximando pelas laterais ou pela frente. Parar então, pra que? Onde se viu essa bobagem? E Mario, como todo sacudido carioca que era, passou batido pelo cruzamento.

Acontece que alguns minutos depois percebeu que um carro da polícia o seguia. Entretanto, o carro não ligou as luzes de advertência nem a sirene. Portanto, seria apenas coincidência estar atrás dele.

Seria?

O carro da polícia seguiu meu amigo até sua casa. Parou e estacionou na casa vizinha.

Dele desceu um jovem policial, todo sorridente, já armado com o talão de multa, dirigindo-se ao Mario:

– Boa tarde, Mr. Guedes. O senhor não respeitou o sinal de “Stop” no cruzamento das ruas “X” e “Y”. Eu estava a uns 50 metros atrás do senhor. Quando ia obrigá-lo a parar eu o reconheci como o meu vizinho recém chegado. Como vi que se dirigia à sua casa, e como sou seu vizinho, achei que seria uma indelicadeza e perda de tempo pará-lo para aplicar-lhe a devida multa. Mas não se preocupe, aqui ela está. O senhor pode pagá-la no Banco ou no Departamento de Trânsito da cidade, ou então questioná-la para o Juiz. Tenha um excelente final de semana. Se precisar de algo, é só apertar a campainha da minha casa aqui do lado.

Putz, deve ter pensado meu amigo. Vai ser honesto assim lá na baixa da égua. Não precisava ser tanto assim!