Pobre morando em cidade
De qualquer forma se aperta:
A conta da luz não falta,
A conta da água é certa;
De graça só entra o vento
Quando encontra a porta aberta.
Adauto Ferreira
O Bem-te-vi quando canta
O seu cantar é exato…
… Valha-me Nossa Senhora
Que ali vai passando um gato
Mas ele morre e não come
Um Bem-te-vi de sapato!
Bem-te-vi Neto (1922- 1959)
Esse troço que ele traz
Tem reta e tem caracol,
A ponta é ver uma espada,
O cabo é ver um anzol,
No inverno é guarda-chuva
E no verão, é guarda-sol.
Louro Branco (1943 – 2018)
Eu fico impressionado
Com o sapo do sertão
Fazer capulhos de espuma,
Branca da cor de algodão,
Sem matigar Sonrisal;
Sem usar pasta dental;
Sem ter barra de sabão.
Geraldo Amâncio
Ter um político decente
É coisa muito escassa,
Vivem enganando a gente
O diabo desta raça,
E quando um bosta deste ganha
De um mandato não passa..
Cancão de Mirandiba
A seleção de versos bem-humorados dos repentistas é de excelente qualidade. Se eu fosse escolher, uma dessas pérolas, seria a estrofe de Geraldo Amâncio: Eu fico impressionado/Com o sapo do sertão/Fazer capulhos de espuma,/Branca da cor de algodão,/Sem matigar Sonrisal;
Sem usar pasta dental;/Sem ter barra de sabão.
Vitorino,
Grato por seu valioso comentário. Sou admirador do talento de Geraldo Amâncio e aproveito para compartilhar um episódio desse cearense.
Certo dia, Geraldo leu no facebook uma estrofe muito bonita, da poetisa Lucélia Santos, num mote parecido com este:
Inventei de beber pra te esquecer
E depois que bebi me lembrei mais.
Então, fez estes belos versos com seu dom de poeta inspirado:
Era noite, eu bebi desiludido,
Quase louco sentindo a tua falta,
Minha carga de angústia era tão alta
Que cheguei a perder o meu sentido.
Enxergava o teu rosto refletido
Nas espumas dos copos de cristais.
As visões se tornavam tão reais
Que eu pedia pra não amanhecer
Inventei de beber pra te esquecer
E depois que bebi me lembrei mais.
Saudações fraternas,
Aristeu
Capulho é o invólucro do capucho. Invólucro é a folha que cobre o algodão. Capulho e capucho. O sapo faz capucho! Só ressalva.Espuma fininha, parecendo capuchos de algodão.
Severino Souto,
Muito obrigado pela explicação. Aqui, no Jornal da Besta Fubana aprendemos bastante. A dúvida era só capulho, pois capucho é bastante utilizada, mas você esclareceu de forma objetiva, simples e didática. Valeu!
Saudações fraternas,
Aristeu
Fazia tempo que não ria tanto com versos engraçados. Achei ótima a sextilha de Adauto Ferreira:Pobre morando em cidade/De qualquer forma se aperta/A conta da luz não falta,/A conta da água é certa;/De graça só entra o vento/Quando encontra a porta aberta.
Neide,
Muito obrigado por seu comentário prestigiando a arte da poesia rimada. Retribuo sua gentileza compartilhando um episódio entre Adauto Ferreira e Lourival Batista (1915 -1992) .
O cantador Adauto Ferreira terminou uma estrofe dizendo:
Está fazendo 30 dias
Que estou cantando à toa.
Lourival Batista respondeu com precisão filosófica::
Sua vida inda está boa
A minha é que está ruim
Que você tá no começo,
Eu já tô perto do fim;
Tô perto de ficar longe
De quem tá perto de mim.
Saudações fraternas,
Aristeu
Parabéns pela excelente postagem, prezado Aristeu!
“O BOM HUMOR NOS VERSOS DOS REPENTISTAS” é um presente para os leitores, pois rir combate o estresse.
Os repentistas selecionados são da melhor qualidade e todas as sextilhas são ótimas.
Destaco:
“Pobre morando em cidade
De qualquer forma se aperta:
A conta da luz não falta,
A conta da água é certa;
De graça só entra o vento
Quando encontra a porta aberta.”
Adauto Ferreira
Um agraço, e uma ótima semana! Muita Saúde e Paz!
Violante,
É gratificante receber seu formidável comentário. Um elogio tem o poder de estimular no trabalho prazeroso de pesquisar a poesia popular e o repente. Aproveito esse espaço democrático do Jornal da Besta Fubana para compartilhar uma sextilha do repentista Manoel Xudu (1932-1985) com a prezada amiga:
Estou como um penitente
Que não possui um barraco,
Dorme à toa pela rua,
Um guabiru fura o saco,
Quando recebe uma esmola
Ela cai pelo buraco.
Um início de semana pleno de paz, saúde e alegria
Aristeu
Obrigada, prezado Aristeu, por compartilhar comigo essa bela sextilha, do grande repentista Manoel Xudu (1932-1985). Gostei muito!
Um abraço.
A parte de Louro Branco, São capuchos! Capulhos, não existe, pelo menos, aqui no Pajeú.
Severino Souto,
Agradeço sua observação, entretanto fui procurar o significado para capulho e verifiquei ser uma planta verde, que quando floresce dá uma espécie de algodão amarelado. Concordo que na região do Pajeú só se usa capucho, pois já tive oportunidade de passar bom tempo nessa região de poetas excepcionais. Valeu!
Saudações fraternas,
Aristeu