Manoel Lourenço da Silva (1932-1986), conhecido na cantoria de viola por Manoel Xudu, foi acometido por um acidente vascular cerebral isquêmico (AVCI). O AVCI é caracterizado pela falta de sangue em determinada área do cérebro, que acontece por consequência de obstrução de uma artéria. Pode ocorrer um bloqueio ou redução brusca do fluxo, prejudicando a ciruculação sanguínea. Placas de gordura e coágulos são as principais causas.
Não é novidade que hábitos saudáveis de vida e alimentação balanceada aumentam a imunidade evitando doenças. Manoel Xudu, às vezes, exagerava no consumo de bebida alcóolica, e a intensa atividade de repentista não permitia refeições nutritivas. Esse somatório de fatores contribuiu para a enfermidade provocar um pausa nos seus compromissos na arte de improvisar versos.
O poeta estava hospitalizado para se recuperar dessa patololgia que, felizmente, não deixou nenhuma sequela, quando receber a visita de um colega, tendo este feito o seguinte comentário:
Essa goela de Xudu
Muita cachaça engoliu.
Xudu, com a velocidade do pensamento que tem um repentista, concluiu:
Mas o doutor proibiu
Deu tomar cachaça e Brahma
Hoje eu bebo somente
Deitado na minha cama
Algumas gotas de lágrimas
Que minha esposa derrama.
A arte do improviso alimentava corpo e alma do poeta e repentista Manoel Xudu. Bom tocador de viola, o que é um tanto raro dentre os repentistas. Ele e Severino Ferreira quando se deparavam, o “cancão piava”, no desafio só de viola. Gostava de uma “branquinha”. Se não fosse a bebida não teria partido antes do combinado, às vezes os próprios colegas o prendiam num quarto, até de motel, contanto que ele estivesse bom para o desafio noturno dos “Festivais”. Sou um fã desse cantador de viola e tenho na memória vários versos em sextilhas e decassílabos.
Vitorino,
Grato por seu excelente comentário sobre Manoel Xudu (1932 – 1986). Confesso ter de memória algumas estrofes antológicas desse genial cantador de viola e sempre releio seus poemas. Aproveito esse espaço democrático do Jornal da Besta Fubana para compartilhar uma sexrilha de Xudu com o prezado amigo:
O meu verso é como a foice
De um brejeiro cortar cana.
Sendo de cima pra baixo,
Tanto corta, como abana,
Sendo de baixo pra cima,
Voa do cabo e se dana.
Saudações fraternas,
Aristeu
Tive o priviilégio de conhecer Manoel Xudu, logo tornei-me um dos entusiastas dos seus belos versos. Xudu preenche as exigências da categoria, no que concerne, o cantador, o poeta, e o repentista. O cantador canta em qualquer estilo, atende ao gosto do freguês, observa os acontecimentos diários. O poeta não se explica, ainda bem! Tudo tende à emoção. Funciona como arquiteto dos sonhos e da metáfora. O repentista é simplesmente maravilhoso! É a marca registrada do repente. É quem pega o acontecimento no ar, muitas vezes sem saber nem o que vai dizer. Ele pegava a inspiração no ar com uma velocidade incrível.
Messias,
Muito obrigado por seu comentário com observações interessantes sobre o repente e, principalmente, a respeito do talentoso Manoel Xudu (1932 – 1986) . O poeta Xudu tinha uma grande sensibilidade para se inspirar com todo tiipo de assunto.Seus versos eram recheados de afeição, fascínio e entusiasmo.
Podemos constatar esta verdade quando, certa vez, ele recebeu o seguinte mote:
Pode ir lá que está gravado
O nome de Ana Maria.
Xudu glosa uma pérola das muitas do seu legado poético.
O nome da minha amada
Escrevi com emoção
Na palma da minha mão
No cabo da minha enxada
No batente da calçada
E no fundo da bacia
Na casca da nelancia
Mais grossa do meu roçado
Pode ir lá que está gravado
O nome de Ana Maria.
Saudações poéticas,
Aristeu
Parabéns, Aristeu, pela ótima postagem!
É lamentável que a carreira do poeta, repentista e cantador Manoel Lourenço da Silva, conhecido por Manoel Xudu (1932-1986), tenha sido interrompida tão cedo.
Meu pai, comerciante que nunca bebeu, nunca fumou, nunca dormiu tarde, e tinha uma alimentação regrada, aos 62 anos, também sofreu um AVC isquêmico, mas ficou hemiplégico. Sobreviveu 11 anos, mas inválido.
Graças a Deus, o poeta Manoel Xudu não ficou com sequela e continuou a fazer seus belos versos, ainda no hospital.
Uma excelente semana, com muita saúde e Paz!
Violante Pimentel (Natal -RN)
Violante,
Agradeço o seu ilustre comentário. As sequelas do AVC isquêmico que podem ser leves e passageiras ou graves e incapacitantes. O seu pai, infelizmente, ficou hemiplégico, mas conseguiu sobreviver por 11 anos. Tenho visto com muita frequência pessoas numa faixa etária entre 30 a 40 anos com sequela de AVC.
Aproveito a ocasião para contar um episódio poético do genial poeta e repentista Manoel Xudu
O amor de mãe, para muitos filhos, chega a ser estranho. É um amor para a vida toda, mesmo que você cometa todos os erros do mundo. Sempre que você cair, aquela mão estará estendida esperando você se apoiar.
Uma tristeza e uma saudade infinita ficam depois que dizemos o último adeus a uma mãe querida. O repentista Manuel Xudu (1932-1985) descreveu essa dor com a suavidade dos seus versos quando, certa vez, foi desafiado a glosar o seguinte mote:
Quem não tem mãe, tem razão
De chorar o que perdeu.
Xudu, então, improvisou de forma brilhante com versos que se eternizaram na memória dos que admiram a poesia pura do repente:
Mamãe que me dava papa,
Me dava pão e consolo,
Dava café, dava bolo,
Leite fervido e garapa.
Uma vez, deu-me uma tapa,
Mas depois se arrependeu,
Beijou-me onde bateu,
Desmanchou a inchação,
Quem não tem mãe, tem razão
De chorar o que perdeu.
Desejo uma semana plena de paz, saúde e alegria
Aristeu
Obrigada, Aristeu, por compartilhar comigo esses belíssimos versos, do grande repentista Manoel Xudu, glosando o Mote:
“Quem não tem mãe, tem razão
De chorar o que perdeu.”
Gostei imensamente!
Uma semana plena de paz, saúde e alegria, para você também.
Violante Pimentel