JOSÉ RAMOS - ENXUGANDOGELO

Mesa brasileira com alimentos

Hoje, segundo estimativas oficiais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), somos neste Brasil continental, 211,8 milhões de pessoas. Éramos, também oficialmente, em 2018 (último censo oficial divulgado), 209,5 milhões.

A “pandemia” do C-19 provavelmente mudou muita coisa e alterou esse somatório, mas nada que atingisse a soma do milhão. Pesa contra esse somatório, o alheamento e as próprias dificuldades de acesso de muitos para o registro oficial de nascimento ou óbito. Com isso pretendo dizer que existe uma provável margem de erro para mais ou para menos nessa contagem divulgada.

Carnes de qualidade produzida no Brasil

Somos um país continental e nunca fomos satisfatoriamente bem administrados no sentido amplo e público da palavra. Por anos somos castigados pelas intempéries das secas ou pelo dissabor causado pelo excesso de chuvas – que, no final, acabam tendo influência de alguma forma no contingente populacional. E esse depende da produção de alimentos.

Com a mais absoluta certeza, nesse atual governo, tampouco nos próximos três ou quatro atingiremos o patamar desejável da autossuficiência na agropecuária ou nos outros sistemas produtivos de tudo que se come. Mas, há a certeza de que também não seremos no continente sul-americano, uma nova Venezuela. Essa sim, está numa distância pequena para se transformar num novo Darfur do Sudão. Sabemos que há um certo exagero nisso.

Felizmente, no Brasil, tudo que se planta, dá. Brota. Frutifica e quase tudo é comestível. Também felizmente, o atual governo federal está

O feijão importante na culinária brasileira

aproveitando a qualidade do solo brasileiro, os erros e os acertos praticados nos governos anteriores e “está dando conta do recado”. Está apostando no apoio oficial e necessário ao “agro” e na iniciativa privada através de financiamentos e diversos programas que estão dando sustentação a cada ano, ao aumento da produção em todos os setores. Além do alto percentual da produção brasileira que é exportada.

Dito isso, sem que sejamos “donos da verdade” recorro aos tempos da minha infância, quando criança podia aprender a trabalhar e trabalhar sem ser considerado explorado ou trabalhador escravo, voltamos à roça onde aprendemos semear maniva de mandioca e ramas de batata doce.

A experiência de meu Avô no manejo com as coisas da roça, do semear ao colher após a inicial preparação da terra, fez de mim uma pessoa que cedo aprendeu a gostar do cheiro da terra molhada pela chuva. Fez de mim, entender que uma simples minhoca é um forte aliado da natureza em prol da humanidade. Fez de mim compreender e acreditar que, na terra, tudo que for semeado de bom, vai dar bons frutos e uma colheita farta.

João Buretama me chamava, dizendo assim:

– Vem cá meu filho. É assim que se corta e prepara a maniva da mandioca. Procure semear na terra com o “olho” da maniva olhando para o céu, esperando a chuva e o sol, os dois amigos de qualquer lavoura.

Eu olhava e aprendia. Pedia:

– Vô repare se estou fazendo certo!

Dependendo da qualidade da mandioca e do período plantado, quando chega a hora da colheita, algumas folhas começam cair ou o agricultor percebe a mudança do solo no pé da mandioca. O chão fica mais alto, como se estivesse “rachando”. Na verdade está dando espaço para a raiz da mandioca que cresceu e virou tubérculo.

Manivas de mandioca prontas para a semeadura

Colhida a mandioca, como se formassem uma cooperativa, os agricultores se reuniam e combinavam a “farinhada” para aproveitar a mão-de-obra da vizinhança.

Centenas de linhas plantadas garantiam uma farinhada de pelo menos duas semanas transformadas num acontecimento festivo. Aquele que tivesse mais mandioca para fazer farinha, era responsável, também, por abater o boi para o dia do encerramento da farinhada.

Rama da batata doce pronta para ser amarrada e semeada

Procedimento parecido era feito com a batata doce, componente importante na alimentação do nordestino. Rica em nutrientes, a batata doce é servida no café da manhã, quase sempre cozida para ser comida com o próprio café ou com leite.

Na semeadura, o que se requer é conhecimento do que vai ser plantado. No florescimento das muitas ramas, outras nascem como se fossem “galhos”. Cada junção do “galho” é um local apropriado para semear. Uma cova com cerca de três metros de comprimento e aproximadamente 30 centímetros de altura é a “cova ideal” para o plantio da batata doce.

Fiz isso enquanto fui criança, morando com meus avós. Era a necessidade da família que estava sendo atendida. Não havia exploração, pois o que plantávamos e colhíamos, era para o nosso próprio consumo e sustento.

Hoje, num mundo hipócrita semeado e construído pelos “politicamente corretos”, a infância pode servir para vários tipos de exploração – inclusive “avião” no transporte de drogas. Como um grande número desses “politicamente corretos” engrossa a fila de usuários, essa ação é aceita e compreendida. Vida que segue.

9 pensou em “O ALIMENTO – DO SEMEAR AO CONSUMO

    • Assuero: com certeza, deu certo. O neto aprendeu muitas coisas da agricultura com o Avô. Com a Avó, aprendeu a viver, sendo, “gente”. Por opção.

  1. Vem cá meu filho. É assim que se corta e prepara a maniva da mandioca. Procure semear na terra com o “olho” da maniva olhando para o céu, esperando a chuva e o sol, os dois amigos de qualquer lavoura.

    Esqueceu o çábio agricultor de ensinar ao garoto que a melhor lua para plantio da tuberosa mandioca era, àquela época, a lua-de-mel. Hoje a mandioca é plantada em qualquer época pelos poucos héteros (raça quase extinta) que ainda existem….

    • Sancho: kkkkkkkkkkkkkkk “plantou” a mandioca! Sei disso! Plantou a mandioca e pranteou quando parou de plantar! Kkkkkkkkkkkk desse jeito num tem roça que aguente! Arre égua! Mais dois arre éguas: arre égua e arre égua!

  2. Zé Ramo,
    Réu confesso. Sou réu confesso. Moramos na roça até as crianças começarem a estudar. Trabalharam e não foi pouco.
    Arrumei uma casa na cidade e sexta feira à tarde ia buscá -los.
    O filho mais velho, com 10 anos Já dirigia o velho Valmet, arava, geadeava, puxava a carreta com produtos da roça, sob a minha supervisão, além de me ajudar com a lida do gado.
    A do meio ajudava a mãe, tomava conta da irmãzinha, alimentava os porcos.
    A caçula teve a vida mais ” de leve “. Começou trabalhando com 12 anos. Vendia ovos caipira, esterco de gado, limão, ponkã.
    Lá no interior do Goiazão.
    Hoje, são duas Engenheiras e um Biblioteconomista, supervisor estadual na área , em uma Universidade.
    Não fumam maconha ( nem qualquer cigarro), tomam vinho ( de boa cepa), ainda me pedem benção, beijando.minha mão, são cidadãos de bem.
    E me deram netas ( duas) ,maravilhosas, que fazem deste vovô babão um verdadeiro burro velho, pois montam na cacunda, amarram uma corda e saem puxando.
    Eu acho é bom.
    Nunca me deram preocupação, além dos perrengues normais da juventude.
    Se fosse nos dias de hoje, eu ja teria sido denunciado por trabalho infantil, pelos babacas de plantão .

    • Welinton: dez procê, cara! Dez, coisa nenhuma. Mil procê! Meu avô sempre me ensinou: “quem fecha ou abre a porta da minha casa, sou eu”! E complementava: “coisa ruim, num entra. Se entrar, eu boto pra fora.!”
      A minha primeira intenção em cursar universidade, pela identificação com as coisas da roça, foi a Agronomia. A Medicina me cativou. Comecei e fui obrigado a parar. Me “escorei” no Jornalismo. Não me arrependo de nada!

  3. Já somos 211,8 milhões de habitantes !. E pensar que quando por aqui cheguei, no ano de 1942, éramos 40 milhões de brasileiros. Não sei se foi crescimento ou inchaço .Em algumas áreas o Brasil melhorou muito, em outras, as coisas degringolaram de vez. Assim vamos caminhando, enquanto o dono do tempo nos permitir.. Um abraço sr José Ramos.

    • Paulo: isso sem contar alguns poucos milhões que nasceram mas não foram registrados e outros que já morreram e nunca foram atestados. Já seríamos mais de 300 milhões.

  4. Pingback: LIÇÃO DE VIDA DE UM LEITOR FUBÂNICO | JORNAL DA BESTA FUBANA

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