1. Nada ameaça mais uma democracia que a gestão daqueles que desconhecem a tese fundamental: Em toda democracia, as respostas são difíceis diante de uma demanda facilmente induzida. Na atual conjuntura brasileira, nada mais oportuna que uma análise sem preconceitos, sem apegos a cargos e funções, deixando-se refletir diante da explicitada seriedade de propósitos dos governantes. Estratégias e táticas bem definidas e seriamente discutidas, uma contínua postura dialogal e um ver-melhor-o-derredor bem poderiam constituir os balizamentos necessários para um fico-ou-saio dos que auxiliam diretamente os mandatários federal, estaduais e municipais.
2. A atual crise brasileira, que também se incorpora a uma crise mundial, é significativa, bastante complexa. Prenúncio do fim de uma era, início de uma nova fase planetária, onde quase todo mundo ainda está despreparado para um agir consequente e duradouro. A ausência de uma militância comprometida com a transformação do hoje está levando inúmeros técnicos, os mais despreparados, a uma não conformação com o fortalecimento do setor político, gerando um outro componente daquele caldo cultural que carrega duas tendências: uma, a de ser hipercrítica em relação a tudo aquilo que desagrada; a outra, a de ser subcrítica diante daquilo que contempla. E os hiper e os sub não estão ampliando a cidadania da gente brasileira. Estão, sim, deixando os senhores políticos sem uma densidade mais criativa e com uma frágil consciência acerca da própria estratégia partidária. E nutridos de um mandonismo inoportuno, detentor de poder decisório quase absoluto, que somente faz aumentar o número daqueles que consideram a repressão como caminho natural para o desenvolvimento nacional, única saída para garantir a segurança do grande capital.
3. A hora de reinventar-se chegou. Ultrapassar os obscurantismos técnicos, políticos, culturais e religiosos é prova maior de querer implementar uma democracia cada vez mais solidificada. Caso contrário, outras situações poderão advir, com prejuízos para quase todo mundo, principalmente os despossuídos.
4. Quando ainda se fala muito pouco, no Brasil de hoje, em ampliar efetivamente a capacitação dos recursos humanos das empresas públicas e privadas, preparando-as para os novos desafios empreendedores, que estão emergindo celeremente nos quatro cantos do mundo, em outros contextos mundiais a situação é bem outra. Com capacitação sempre levada a séria e com um notável senso de visão antecipatória. Vejamos um caso recente. Estão assustando meio-mundo europeu alguns dados divulgados pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico – OCDE, com sede em Paris, sobre analfabetismo planetário. O relatório revela que muitos milhares de pessoas, nos países mais avançados, ainda não sabem ler nem escrever. A OCDE encontrou quantitativos inquietantes: três milhões de adultos, na Alemanha, são analfabetos funcionais; na França, 20% dos quinhentos mil homens convocados para o serviço militar, nos últimos anos, não conseguiram ler um simples texto de 70 palavras; na Suécia, entre 700 trabalhadores pesquisados, aproximadamente 100 (14,3%) não sabiam ler ou escrever adequadamente. E termina a OCDE por advertir com severidade: “os milhões de analfabetos, na Europa, significam uma séria ameaça para o desempenho econômico de seus países.” Ainda sobre esse problema europeu, a opinião de Donald Hirsch, pesquisador do Centro para Pesquisas Educacionais da OCDE, é bastante oportuno: “Os países industrializados deveriam destinar mais recursos para o problema do analfabetismo, sob pena de não conseguirem um aumento de produtividade proporcional ao desenvolvimento tecnológico.” E vai um pouco mais além: “Sem uma melhoria substancial na qualidade da educação e na capacitação dos que já estão trabalhando, a economia europeia não poderá ter um desempenho adequado nas próximas décadas.” Percebem, os de lá, que no estágio civilizatório atual, as inovações do saber-ser e do saber-fazer alteram crenças, ampliam sonhos e desestruturam desejos que proporcionam valores nada sadios, além de outras formas de crueldade.
No resto, favoreçamos em nosso país a disseminação de um saber pensar crítico, concordando sempre com a máxima de La Rochefoulcauld: “Os tolos não têm estofo bastante para serem bons.”