MARCELO BERTOLUCI - DANDO PITACOS

Depois do 11 de setembro, o governo dos EUA tinha duas preocupações: estimular a economia para evitar uma recessão, e pagar a conta das guerras no Afeganistão e no Iraque. A solução para as duas questões foi uma que qualquer político adora: imprimir dinheiro. Eles têm prática em aparecer como os responsáveis pela parte boa – distribuir dinheiro – e fingir que não têm nada com isso quando a parte ruim aparece: o dinheiro vale cada vez menos, e os preços sobem. O pior é que a parte boa acaba logo, mas a parte ruim, a inflação, fica para sempre, e vai acumulando a cada surto de populismo do governo.

Mas o dólar tem algo de diferente de todas as outras moedas: ele é a referência para praticamente todo o comércio mundial. E se o dólar passa a valer menos, todo o resto passa a valer mais, comparativamente. Ou seja, as outras moedas se fortalecem e ao mesmo tempo o preço em dólar de tudo tende a subir.

Foi o que aconteceu na década passada. Para citar as duas commodities que mais interessam ao Brasil, já que são a base de nossas exportações: o minério de ferro foi de 38 dólares em 2004 para 65 em 2005, 106 em 2007 e 196 no início de 2008, para desabar para 70 no final deste mesmo 2008. O óleo de soja foi de 560 dólares em 2005 para 630 em 2006, 890 em 2007 e 1500 no início de 2008, para também desabar para 745 no final do ano.

Para quem não lembra, este período de 2005 a 2008 foi uma época de bons ventos para a economia brasileira: com os preços nas alturas e a China comprando tudo que houvesse para vender, nossas exportações estavam bombando. Quando os preços caíram em 2008, nós continuamos gastando à base de crédito, até que tudo estourou em 2014, logo após a eleição.

A pandemia que começou ano passado deu a desculpa que os EUA esperavam para começar tudo de novo, dessa vez de forma mais doida ainda: no ano passado, o FED (o Banco Central deles) aumentou a base monetária em mais de 30%. Isso significa 5 TRILHÕES de dólares, e o presidente Biden já disse que pretende pagar mais 10 trilhões em auxílios.

Como não podia deixar de ser, o mercado mundial já se ajustou aos fatos, e os preços voltaram a disparar. Minério de ferro e óleo de soja subiram quase 100% nos últimos doze meses, e a maioria das demais commodities agrícolas e minerais está na mesma média. O índice de preços nos EUA já bateu os 5% ao ano, um número escandaloso para uma economia madura como a deles. A distribuição de dinheiro está tão grande que as empresas estão com dificuldade para contratar. Segundo o Ministério do Trabalho deles, em abril havia 9,3 milhões de vagas em aberto, número jamais visto antes. Os políticos, e o povo, parecem estar acreditando piamente que não é necessário produzir para gerar riqueza: basta o governo “jogar dinheiro de um helicóptero”.

No Brasil, as consequências são as mesmas da década de 2000: as ações da Vale estão em alta, os produtores de soja do Centro-Oeste estão rindo à toa, e nossos políticos estão esfregando as mãos na espera dos bons tempos que virão.

Seria um excelente momento para darmos um grande passo: aproveitar os bons tempos para reduzir o déficit e a dívida do governo, baixar impostos, facilitar a abertura de novas empresas, incentivar todo tipo de empreendedorismo, aumentar nosso comércio exterior, que é pífio. Quando a bonança acabar – e ela vai acabar, isso é certo – estaríamos em boa posição para continuarmos crescendo.

Ou podemos repetir a receita já vista: usar o dinheiro para distribuir dinheiro em bolsas-família e auxílios emergenciais, aumentar salários do funcionalismo, fazer mais concursos para aumentar ainda mais esse funcionalismo, construir algumas obras bilionárias, e incentivar as famílias a se endividarem com crédito fácil. Quando o dólar voltar a se fortalecer, a escada sumirá debaixo de nossos pés e ficaremos agarrados no pincel de novo.

Será que será desta vez que deixaremos de ser “o país que nunca perde a oportunidade de perder uma oportunidade” ?

10 pensou em “NÓS E O DÓLAR

  1. O Governo do Capitão foi eleito para uma gestão “mais Brasil e menos Brasília”. Com rigor fiscal e liberdade de ações. O que estamos vendo é a mesma ação de sempre, comprando governabilidade, gastando o máximo para reeleição, sem se preocupar se existe amanhã. Lembrar aos amigos que o gasto pode ser extra-teto, mas não é extra-divida e todos nós pagaremos pelos auxílios legítimos, necessários e também pelos gastos por conveniência. O Centão nunca esteve tão prestigiado.
    Ainda tenho a ilusão de que Paulo Guedes pode conter, pelo menos um pouco, a irresponsabilidade do Capitão e sua base.

  2. “o país que nunca perde a oportunidade de perder uma oportunidade”

    Olho o vastíssimo cenário político brasileiro desde o final de minha adolescência, quando comecei a me interessar por política e meus olhos cansaram de ver homúnculos sendo eleitos(vereadores, prefeitos, deputados estaduais, deputados federais, governadores, presidentes).

    Este é o problema do Brasil caríssimo Marcelo. Os homens que decidem nossos destinos são menores do que nós.

    Não há nenhum grande nome nesta nação para comandar seu destino. Como nunca deixo de votar, vou de urna em urna, dando meu voto aos menos ruins. E me dói o coração dar meu voto ao menos ruim, pois esta nação carece de grandes nomes. Olhamos para o horizonte e para o pleito de 2022 o que temos? Quais foram os grandes nomes que tivemos em 2020 para alcaides de nossos municípios? Quem temos para governador e presidente em 2022? E os deputados? quantas maravilhas podemos elencar? Um árido cenário político se descortina à frente.

    Insistirei com Bolsonaro para presidente e torcerei para o Tarcísio se arriscar a concorrer como governador em São Paulo.

  3. Caro Sancho,

    Concordo integralmente contigo. Tanto assim que não votei em ninguém.

    Observe que a quantidade de pessoas que estão adotando este comportamento tem sido enorme.

    Minha firme sugestão, para que possamos encerrar com a perpetuação dos mesmos canalhas no poder é: NÃO VOTEM EM FILHO DA PUTA NENHUM!

    Não sei qual será a reação dos canalhas quando mais da metade da população deixar claro que está com nojo deles. Prefiro ficar sem vereadores, deputados, e coisas que tais, que manter esse mesmo bando de filhos da puta se revezando.

    • Trovejante e tempestuoso Adônis,

      Suponhetamos e vaginemos que a imensa maioria seguisse seu discurso e conselho de não votar em nenhum dos FDP que temos como candidatos à faixa presidencial. O que aconteceria? Simples assim: 30% do eleitorado brasileiro é fiel à extrema-esquerda, seja por ideologia, idiotia, falta de educação decente (tanto no lar como na escola) sonhagem, artistagem, síndrome de Peter Pan, síndrome de Estocolmo, manutenção de privilégios, tetas públicas, idelologia, bandidagem, maconhagem, vadiagem, kit mortadela (boina, camiseta, pao com mortadela, tubaína e 50 mangos) ou promessa de algum cargo comissionado, ESSES NÃO DEIXARÃO de comparecer às urnas.
      Resultado: você é inteligente demais para que eu tenha que enunciar o resultado.

  4. Querido Sancho,

    Creio que me expliquei errado!

    Para presidente, já temos Bolsonaro e basta. Estou falando de todo o restante.

    Aliás, precisamos URGENTEMENTE eleger gente que dê apoio às reformas que necessitamos fazer. Só que temos de ser extremamente seletivos.

    Deixar Bolsonaro lutando só contra essa multidão de filhos da puta é até covardia.

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