Em 2018, com a eleição presidencial chegando, fui convidado para participar de um grupo de zap cujo objetivo era discutir propostas políticas. A ideia era que as urnas favorecessem algumas candidaturas para vereança já em 2020 e que se fortalecesse as alianças para as eleições de 2022. Um dos administradores do grupo tinha sido meu aluno, anteriormente, e daí veio o convite.
Eu fico muito preocupado com propostas políticas, principalmente porque tenho discernimento para saber se é viável ou não determinadas propostas. Alguns candidatos já deixaram de falar comigo porque declarei, taxativamente, que não votaria nele porque o cerco de horrores que eles chamavam de “propostas”, não suportava uma crítica mais séria.
O primeiro caso foi quando eu era professor da rede Estadual de ensino. O colégio que eu trabalhava ficava num bairro que era limítrofe com a vizinha cidade do Jaboatão dos Guararapes. Tinha um professor de matemática que decidiu concorrer ao cargo de vereador e veio falar comigo para que eu abrisse espaço nas aulas para que ele apresentasse suas propostas. Tínhamos um 3º ano que ia se formar naquele ano e aí foi a primeira turma na qual ele entrou e também foi a última. O cara começou falando da candidatura, da importância de ter alguém do bairro paa defender interesses de moradores, etc. até que saiu com essa pérola: “se eu for eleito, eu pago a festa de formatura de vocês.” Mandei parar, disse aos alunos que não votassem nele e nem pedissem voto porque ele não merecia e botei para fora da sala. Numa boa. Claro que ele nunca mais me dirigiu a palavra.
Tempos depois, outro conhecido me procura com sua candidatura a vereador mne pedindo não apenas o voto, mas apoio para divulgar. A gente era relativamente próximo, porque eu dava aula particular para a sobrinha dele. Bom, eu fui ler a proposta e lá estava: “lutar pela implantação da pena de morte no Brasil”. Eu disse logo: “isso aqui é lorota. Pena de morte é competência da União”. Em suma: perdi a relação e só não perdi as aulas porque a menina gostava da minha didática.
Nesse grupo de zap que entrei, começaram a propor temas para ser levado aos eleitores. E o meu nobre aluno, que era candidato, colocou como o primeiro item de luta, de trabalho, “transferir a sede da câmara de vereadores para “Jaboatão Velho”. Para contextualizar: Jaboatão Velho é como se chama o centro da cidade de Jaboatão dos Guararapes. A câmara funcionava lá, a prefeitura idem e a administração foi transferida para o bairro de Prazeres, devido ao PIB que esse bairro tem (shopping center, comércio intenso, grandes indústrias tantos às margens da BR 101 quanto na parte internado bairro). Na hora, eu disse que isso era idiotice, que isso não era proposta que valesse a pena discutir. Ganhei um monte de críticas e sai do grupo.
Uma coisa que é importante esclarecer é que eu não sou político, então não me sinto na obrigação de dourar pílula. Mas, em meio a tanta sandice que vi nesse grupo de zap, muitas delas ainda permeiam as redes sociais. São fantasias mirabolantes sobre a prisão de Alexandre de Morais, sobre impeachment de Lula e cada vez mais acabam propagando inverdades monstruosas, que apenas fortalecem a ideia de que a oposição vive de fake News. Cara, não é fácil: dia desses recebi um vídeo no qual Renata Vasconcelos noticiava, em caráter de urgência, que Lula havia levado uma facada e tinha morrido no hospital Sírio-Libanês. Chamou até um repórter para entrar ao vivo comentando a morte. Puta que pariu! É preciso isso? O pior é que algumas pessoas repassam e propagam esse tipo de bobagem.
Entre as eleições de 2018 e 2022, o debate foi intenso. As mentiras também. De ambos os lados. Nos grupos que participava eu alertava que tínhamos argumentos melhores de crescimento econômico, de recorde na bolsa, de equilíbrio nas contas públicas, de geração de emprego, controle de inflação. Putz! Os caras pegavam uma foto de Lulinha e botavam lá como o “verdadeiro dono da JBS”. Bastava consultar o quadro acionário via CNPJ para ver que isso nunca aconteceu, mas não: vez por outra, isso voltava à tona. Liguei o foda-se.
Estamos agora com uma eleição intermediária que vai ter impacto em 2026. Se os interessados em mudanças não partir para esclarecer e organizar o povo, vão perder. Aliados do governo contam com a máquina e com a gastança de dinheiro e vão caminhar para fortalecer isso. Quem se opõe tem que mostrar, comparar e argumentar, sem mentiras.
Eu, como parte do povo que sonha por um Brasil livre dessa corja que está aí, tô de saco cheio.
Caro Maurício, sou leitor assíduo de seus textos, triste é sabermos que o próprio sistema é corrupto e infelizmente faltam homens com espírito de país e patriotismo, cheguei a ver políticos e juízes cientes de suas obrigações como homens públicos, mas hoje é como procurar agulha em um palheiro.
Xavier, muito me honra sua presença. A gente vive um descrédito total de valores. Eu sempre fui defensor da máxima pitagoreana “se não quiser sofrer no futuro, eduquem-se as crianças”, mas depois me perguntei quem estava educando as crianças? E vi que eram os pais que são favoráveis à manutenção desse sistema corrupto. A tristeza bateu forte porque enquanto tem uma pessoa insistindo que corrupção é crime, haverá gente disposta a manter corruptos no poder.
Assuero, meu grande Potiguara, guerreiro cujos ancestrais lutaram contra os holandeses. Você está se tornando um São João Batista: “Voz que clama no deserto”. Fato inegável, mas o político sabe que esta nação analfabeta, comida por lombrigas, dengue e amarelão querem a mentira, preferem a mentira e essas lorotas que você descreveu. Porque a verdade que você propõe implica em trabalhar, em lutar, em arregaçar as mangas e fazer acontecer. Para um povo acostumado a um eterno feriado, sua voz continuará clamando no deserto.
Roque, você tocou num ponto crucial: disposição de trabalhar, principalmente pelo bem comum. Em economia, a gente trata de mercados imperfeitos e uma das causas é a assimetria de informação ou problema de agência, como também é conhecido. A coisa funciona assim: tem um agente e um principal. O principal delega ao agente poderes para defender seus interesses, mas o agente acaba trabalhando pelo seu próprio interesse e fazendo pouco pelo agente. Na política, nós somos agentes e presidente, governador, prefeito, etc. são principais. O prefeito trabalha pensando na cadeira do governador, que trabalha pensando na cadeira do presidente e o povo… foda-se.
Caro gurú Assuero: uma das coisas pelas quais você é admirado é a honestidade de seus pensamentos, traduzidos em palavras irretocáveis. Penso exatamente como você, seguindo os ensinamentos de meu velho pai desde criança. A maioria dos políticos, desde priscas eras, nunca se sacrificam pelos que os elegem, mas apenas os tapeiam. Quem sabe em uma outra civilização isso não aconteça . . . mas tenho minhas dúvidas. Enquanto isso, seus ensinamentos vão fortalecendo minhas convicções. Grande abraço.
Meu caro engenheiro, sou seu fã incondicional, você sabe disso. Tem sido um desafio enorme viver nessa selva aqui, meu amigo. Não está fácil e o pior de tudo é que você coloca a esperança na balança e ela não equilibra nada. Abraços
O estamento no poder trabalha para si. Desde sempre. Quando a podridão subterrânea vem à tona, sacrificam o que for preciso, “mudam tudo” apenas e tão-somente para que, no fundo, nada mude.
Pior que, em países como o nosso, são meros capitães do mato, títeres, pontas de lança de interesses outros.
Como disse um africano passeando pela Europa, o mundo foi preparado para os países desenvolvidos. Os demais são quintais, roças, lixões, depósitos de material e mão de obra barata que os países ricos pegam e usam quando precisam.
Parabéns e obrigado, Dr. Professor Assuero!
Putz! Foi cirúrgico meu amigo Nonato. Eu penso muito nesta questão de “alguém a serviço de alguém”. O comportamento individual, por exemplo, é fundamental para explicar a corrupção. O cara vê um fazendo e faz também pela crença do “se ele pode eu posso”, mas a há casos mais patológicos que é aquele cara que finge que não vê, embora não denuncia, e aquele outro que faz para fulano na esperança de fulano lhe agraciar.. Abraços meu amigo.