Minha desgraça não é ser poeta,
Nem na terra de amor não ter um eco…
E, meu anjo de Deus, o meu planeta
Tratar-me como trata-se um boneco…
Não é andar de cotovelos rotos,
Ter duro como pedra o travesseiro…
Eu sei… O mundo é um lodaçal perdido
cujo sol (quem mo dera) é o dinheiro…
Minha desgraça, ó cândida donzela,
O que faz que meu peito assim blasfema,
É ter por escrever todo um poema
E não ter um vintém para uma vela.
Manoel Antônio Álvares de Azevedo, São Paulo (1831-1852)