CARLITO LIMA - HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA

Coronel Mário Lima e Dr. Théo Brandão tentando soerguer o Gogó da Ema

Esse negócio de dia dos pais, dia das mães, dia dos namorados, foi inventado pelo comércio para vender mais e redundou em dias de celebrações. Já que todos enaltecem seus pais no feicebuque, resolvi prestar homenagem ao meu nessas minhas historinhas semanais. Eu amava e admirava aquele homem íntegro, corajoso, inteligente, que gostava das coisas simples. Educou os filhos pelo exemplo e por suas atitudes. Empolgado pelo que fazia, dedicou parte de sua existência à amada Alagoas.

Iniciou sua vida militar muito cedo na Escola Militar de Realengo. Em 1930 serviu como tenente do 5º Regimento de Infantaria em Lorena. Em 1932 conseguiu transferência para o 20º Batalhão de Caçadores em Maceió, onde passou a grande parte de sua carreira militar. O destino foi cruel, em 9 de julho de 1932 rebentou a Revolução Constitucionalista ou Separatista em São Paulo. O 20º BC foi uma das tropas legalistas designada para lutar contra os revoltosos paulistas. O tenente Mário Lima embarcou como comandante da 1ª Companhia de Fuzileiros no porto de Maceió para combater na revolução de 1932, onde morreram mais soldados brasileiros que na 2ª Guerra Mundial. O tenente Mário Lima arriscou sua vida no meio do tiroteio arrastando para trincheira um capitão e um soldado, feridos no campo de batalha. Assim conta nos seus assentamentos.

Recentemente lendo “Diário de um Revolucionário Constitucionalista” do historiador Wanderley Gomes Sardinha, narrativa de um soldado paulista sobre a Revolução de 1932, eu fiquei surpreso e orgulhoso ao ler: “O 20º BC tomou posições em um morro para atacar a cidade de Lorena. Alguns soldados do 5º Regimento de Infantaria se recusaram a atirar contra o morro onde se encontrava o tenente Mário Lima com a tropa do 20º BC”. Lorena caiu sem um tiro. Os paulistas perderam a guerra. Depois da ocupação do Vale do Paraíba pelas tropas legalistas, o mais sangrento campo de batalha da história do Brasil, brasileiros contra brasileiros, o tenente Mário Lima foi designado como “prefeito de ocupação” de toda área. Teve uma atuação humanitária com os irmãos brasileiros revoltosos presos que perderam a guerra. Essas e outras histórias constam em livros dos próprios paulistas.

Mário Lima serviu por muitos anos em Maceió. Seu trabalho extrapolava as atividades militares. Desportista, foi presidente do CRB, presidente da Fênix, diretor da FAD; foi até juiz de futebol. Certa vez acertaram um juiz carioca para apitar um decisivo CRB x CSA. Na véspera do jogo o juiz passou um telegrama impossibilitado de viajar. Reunião urgente entre os dois clubes. O presidente do CSA, Paulo Pedrosa, sugeriu o nome de Mário Lima para apitar a partida, só confiava nele. “Mas ele é CRB notório”, reclamaram outros azulinos. Depois de muitas discursões convidaram o Capitão Mário Lima, que foi o juiz do jogo. Terminou CSA 3×0.

Meu pai serviu quase toda vida no 20º BC, ele chamava com muito orgulho de “Meu Batalhão”. Sua vida social dentro da comunidade foi intensa. Quando coronel comandante do 20º BC, no início dos anos 50, Alagoas passava uma fase política conturbada, Mário Lima teve uma atuação determinante, evitou um grande derramamento de sangue, garantiu com a tropa do Exército a eleição no interior. Foi um homem que soube diferençar exageros. Ao se reformar do Exército, tornou-se professor de matemática para complementar a renda caseira na criação dos cinco filhos. Sem deixar o trabalho voluntário na comunidade, foi provedor da Santa Casa, do Orfanato São Domingos. Quando fundaram a telefônica, convidaram e ele aceitou, foi diretor da TELASA.

Homem culto, membro do Instituto Histórico, escreveu vários livros históricos, gostava de ler e da cultura popular. No domingo anterior ao carnaval havia o Banho de Mar à Fantasia na Avenida da Paz com desfiles carnavalescos. Mário Lima e Dona Zeca preparavam enormes panelas de laco-paco (maracujá e cachaça), cerveja e tira-gosto para servir aos blocos de frevo que visitavam sua casa. Após o desfile defronte à Fênix, todos os blocos, Vulcão, Bomba Atômica, Cavaleiro dos Montes, Vou Botar Fora, Pitanguinha vai à Lua, entre outros, dirigiam-se à nossa casa. Aos músicos eram servidos laco-paco, cerveja e tira-gosto. Em seguida tocavam três ou quatro frevos rasgados, a mocidade caía no passo no vasto terraço. Quando terminava um bloco, outro bloco entrava. Tornou-se tradição a visita dos blocos durante o Banho de Mar à fantasia em nossa casa, era uma festa.

No dia dos pais, lembro o velho amigo, o pai-herói. Ele habita nossas recordações, nossas mentes e corações. A família ficou feliz ao saber que um busto do General Mário Lima será colocado no pavilhão do NPOR do 59º Batalhão de Infantaria Motorizado, do qual ele foi o primeiro comandante em 1943.

Um comentário em “MEU PAI HERÓI

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